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Estudo sobre violência histórica contra negros e indígenas é divulgado na Uece
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Estudo sobre violência histórica contra negros e indígenas é divulgado na Uece

O I Fórum Cearense sobre Violência em Documentos Históricos apresentou pesquisas na manhã desta segunda-feira, 20. Evento é aberto ao público e segue até amanhã, 21
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O I Fórum Cearense sobre Violência em Documentos Históricos e a X Jornada Itinerante de Filologia e Linguística (JIFIL) visa divulgar o conteúdo dos documentos históricos, além de preservar a memória e construir a ligação entre o passado e a realidade atual (Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO O I Fórum Cearense sobre Violência em Documentos Históricos e a X Jornada Itinerante de Filologia e Linguística (JIFIL) visa divulgar o conteúdo dos documentos históricos, além de preservar a memória e construir a ligação entre o passado e a realidade atual

A violação histórica contra negros e indígenas no Ceará foi debatida na manhã desta segunda, 20, no Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (Uece), em Fortaleza.

As palestras integram a programação do I Fórum Cearense sobre Violência em Documentos Históricos e da X Jornada Itinerante de Filologia e Linguística (JIFIL), promovido pelo Grupo de Pesquisa Práticas de Edição de Textos do Estado do Ceará (Praetece).

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O Praetece analisa documentos históricos como autos de querela (espécie de boletim de ocorrência do Brasil colônia e império) e cartas de alforria para trazer visibilidade às vozes silenciadas de negros e indígenas do Ceará, reforçando que o passado da violência contra essas populações continua a repercutir no presente.

“A história se repete sempre, na verdade, talvez nem se repita, ela só continua”, afirma o professor Expedito Ximenes, que integra o grupo de pesquisa Praetece e analisa documentos históricos do Ceará há 27 anos.

Ele explica que o principal objetivo deste trabalho é divulgar o conteúdo desses documentos, preservar a memória histórica e construir a ligação entre o passado e a realidade atual.

“Trabalhamos com esse documento, fazendo o resgate dessa história, mas também tentamos compreender a violência hoje, porque o passado não está inteiramente acabado. Ele sempre repercute no presente. E, na verdade, pela leitura dos textos, percebemos como esse fluxo tem continuação”, comenta o pesquisador.

O professor também discute as dificuldades de preservação desses documentos deteriorados e a importância de seu resgate.

“A ideia também é reforçar a importância de preservar esses documentos, principalmente preservar essa história e divulgar”, diz Expedito.

Segundo o pesquisador, as principais dificuldades enfrentadas na preservação desses documentos históricos estão diretamente ligadas às condições físicas e à manutenção inadequada dos materiais.

Os documentos encontrados frequentemente estão muito deteriorados e guardados em caixas mal acondicionadas. O material de suporte, seja o códice (livro) ou o maço (pacote) onde estão guardados, está geralmente bastante desgastado e danificado pela ação do tempo.

Além disso, o papel usado como suporte, em alguns casos, não tem uma qualidade muito boa e a tinta utilizada para escrever continha ferrugem, o que fazia com que o material se corroesse muito rapidamente.

Apagamento da identidade indígena e os autos de querela no Ceará

Conforme o professor Expedito, atualmente, ainda não há restauro, nem uma política de restauro desses documentos no Arquivo Público do Ceará.

“Nossa memória é muito frágil. Precisamos lembrar o tempo todo que tivemos muitos escravizados, tivemos muitos indígenas escravizados no Ceará e que eles estão fazendo esse link do passado com o presente. Porque os documentos mostram o passado, mas esse link foi apagado durante muito tempo. Hoje, ele está sendo reconstruído e eu acho que a pesquisa ajuda também a reconstruir isso”, esclarece o professor.

Nesse sentido, Ticiane Nunes, professora da Universidade Regional do Cariri (Urca) e vice-líder do grupo de pesquisa, discute em seu trabalho interdisciplinar em História e Letras, focado na análise de documentos históricos do Arquivo Público, especialmente os "autos de querela".

A pesquisa explora como o mesmo documento pode revelar diversas questões, desde a linguística até o campo lexical do crime e as violências sociais.

Um tema central, destacado por Ticiane, é o apagamento da identidade indígena no Ceará por meio de denominações como "caboclos" e "cabras", oficializado pelo relatório provincial de 1863, que declarava a não-existência de indígenas para justificar a ocupação territorial.

“Essas denominações também são formas de revelar a visão que se tinha sobre esses sujeitos, (...) porque encontramos vários indígenas denominados como caboclos e mamelucos. Então são evidências de que havia indígenas recebendo outros rótulos para que, por exemplo, não houvesse ali o reconhecimento da presença dos indígenas”, detalha Ticiane.

Ticiane também aborda a importância dos "autos de querela" como primeira peça de denúncia e ressalta que o trabalho filológico de transcrição e edição é crucial para tornar esses documentos acessíveis e abrir caminho para novas investigações em diversas áreas.

Além da promoção das discussões sobre violência histórica contra negros e indígenas no Ceará, o evento celebra os 15 anos do Grupo de Pesquisa Praetece e o fechamento do ciclo de 10 anos da JIFIL.

O projeto “A violência histórica contra negros e indígenas no Ceará: edição de textos escritos nos séculos XVIII e XIX e estudo comparativo com a contemporaneidade” é financiado Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP).

Praetece

O grupo analisa documentos históricos como autos de querela (espécie de boletim de ocorrência do Brasil colônia e império)
e cartas
de alforria

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