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Trabalhadores de autoescolas realizam protesto contra mudanças na obtenção da CNH 
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Trabalhadores de autoescolas realizam protesto contra mudanças na obtenção da CNH 

Fim da obrigatoriedade de autoescolas pode afetar cinco mil trabalhadores no Ceará, segundo o Sindicato dos Instrutores de Veículos Automotores do Ceará
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ATO ocorreu simultaneamente em cinco estados do Nordeste (Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO ATO ocorreu simultaneamente em cinco estados do Nordeste

Trabalhadores da área de trânsito se reuniram no estacionamento da Arena Castelão, em Fortaleza, em uma manifestação contrária ao fim da obrigatoriedade de autoescolas para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), na manhã desta quinta-feira, 23. A proposta, apresentada pelo Ministério dos Transportes, segue em consulta pública até o dia 2 de novembro.

No Nordeste, a mobilização aconteceu simultaneamente nos estados do Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

O setor laboral do trânsito no Ceará é composto por mais de 5 mil empregos diretos, distribuídos entre 364 autoescolas em todo o Estado, conforme o Sindicato dos Instrutores de Veículos Automotores do Estado do Ceará (Sindivace).

A mobilização, em formato de carreta, contou com a participação de mil veículos e dois mil trabalhadores de todo o Estado, de acordo com o sindicato.

Em ofício encaminhado à Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) durante o ato, a categoria argumenta que a proposta prevê a extinção dos empregos formais do setor e a transformação do serviço em atividade autônoma, operada por meio de plataformas digitais, semelhantes a aplicativos de transporte.

O texto ressalta a preocupação da categoria frente à possível publicação de uma nova resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), até 20 de novembro de 2025, alterando o processo de formação de condutores no Brasil.

O documento apresenta uma proposta alternativa de “modernização do processo de formação de condutores, reduzindo custos e desburocratizando etapas, mas preservando os empregos e a formação obrigatória”.

Entre as demandas solicitadas está o pedido por uma mediação institucional entre o Governo Federal e o setor laboral, coordenada pelo Governo do Estado do Ceará, além da reafirmação do compromisso do governo estadual com a retirada da possibilidade de instrutores autônomos em uma possível nova resolução do Contran.

Presidente do Sindivace, João Róseo Salgado Filho avalia que a minuta apresentada pelo Governo pode acarretar a demissão de pelo menos cinco mil profissionais do setor.

Sobre a redução de custos apresentada como principal argumento para o surgimento da proposta, ele reitera que a categoria não é contra o barateamento dos custos.

“Desses R$3 mil, 50% é de taxa. Ou seja, não é da autoescola. Isso caiu no colo das autoescolas, porque as autoescolas emitem o boleto do Estado para que o aluno pague essas taxas, mas essas taxas vão direto para o Estado, não é para as autoescolas”.

Instrutores de autoescolas temem aumento de sinistros 

Instrutora de autoescola há cinco anos, Rafaela Saldanha, 43, foi uma das centenas de trabalhadoras do setor laboral do trânsito que compareceram à manifestação des. “Eu estou lutando não só pelo meu emprego, mas também por vidas”, afirmou.

De acordo com ela, a principal proposta da minuta apresentada pelo Ministério dos Transportes, que retira a exigência de carga horária mínima de 20 horas-aula práticas ofertadas nas autoescolas, representa um erro.

“Esse projeto diz que não tem números exatos de aulas. É um risco muito grande você pegar uma pessoa que não sabe dirigir e colocar para dirigir na estrada, nas pistas; em horário de pico ou em qualquer outro horário. Nós já temos um número imenso de acidentes e esses números vão aumentar”, pontua.

Segundo a proposta, o candidato poderá escolher como fará sua preparação: contratando um centro de formação de condutores ou um instrutor autônomo credenciado pelos Detrans. Isso permite adaptar a formação às necessidades de cada pessoa e reduzir custos, mantendo a obrigatoriedade de ser aprovado nos exames teórico e prático.

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Proprietário de duas autoescolas em Fortaleza, Ednardo Melo, de 41 anos, confessa preocupação com o afastamento do contato entre os condutores e a educação no trânsito.

“Na autoescola, é o único contato que o cidadão tem antes de ingressar no trânsito. Trazendo essa desobrigatoriedade, com certeza vai diminuir a demanda das autoescolas, essa falta de demanda vai gerar demissão em massa”, afirma.

O empresário argumenta ainda que “o trânsito brasileiro é altamente caótico, muito perigoso. A gente tem por volta de 40 mil mortos por ano no Brasil. Então, se você tira a autoescola como esse operador de educação no trânsito, vamos entregar a quem? À Uber? À uma plataforma de Educação à Distância?”.

Francisco Gleydson de Souza, 46, veio da cidade de Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), para participar da manifestação. Instrutor de autoescola desde 2007, classifica o ato como uma iniciativa necessária para possibilitar um diálogo com o Ministério dos Transportes.

“Essa manifestação se faz necessária pela falta do diálogo junto ao Ministério. Porque, na verdade, não é uma proposta, ele tá querendo exigir, sem ver a questão de uma banca para a gente sentar e conversar. E não é só a questão das autoescolas, mas também dos empregos que estão em risco”, defende.

Em relação aos custos para tirar a CNH, o instrutor também pontua a existência de muitas taxas.

“Se você pegar o valor da autoescola, não condiz com o valor da habilitação. Por quê? Porque são taxas sobre taxas. O aluno faz o curso, paga a taxa; faz as aulas práticas, paga as taxas das aulas; até próprio monitoramento, tem que pagar o monitoramento; tem que pagar o aluguel do veículo. Então se você parar, pensar e calcular, mais de 60% do valor da habilitação é só de taxas”, explica.

Entenda a proposta apresentada pelo Ministério dos Transportes

O Ministério dos Transportes teve aval do presidente Lula (PT) para levar adiante a discussão sobre o fim da obrigatoriedade de aulas em autoescola para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
A minuta da resolução foi submetida a prévia consulta pública, na plataforma Participa + Brasil, até o dia 2 de novembro.

Na parte teórica, a proposta prevê o fim da obrigatoriedade da realização do curso e do cumprimento de 45 horas de aula. O curso poderá ser feito online, de forma híbrida, ou ainda em formato presencial nas autoescolas.

Além disso, o candidato poderá optar pela realização de curso online a ser oferecido pelo Ministério dos Transportes ou de escolas de trânsito de instituições como Departamento Estadual de Trânsito (Detran), autarquias municipais, ou instituições credenciadas. A prova teórica, ainda obrigatória, poderia ser feita de forma presencial ou online.

Na parte prática, a principal mudança é o fim da carga horária mínima, atualmente de 20 horas. A oferta de autoescolas continua, mas o aluno poderá contratar instrutores credenciados pelo Detran. Sobre os veículos, passa a ser possível a utilização de veículo disponibilizado pelo instrutor ou pelo próprio candidato.

Veja imagens do protesto da categoria 

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