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Facções expulsaram moradores em, ao menos, 49 bairros de Fortaleza
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Facções expulsaram moradores em, ao menos, 49 bairros de Fortaleza

Em 21 meses, 219 eventos com "deslocamentos forçados" foram registrados nos municípios cearenses, conforme a SSPDS
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CRIMINOSOS obrigam moradores a deixarem condomínio (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
Foto: Reprodução/Redes Sociais CRIMINOSOS obrigam moradores a deixarem condomínio

Entre 1º janeiro de 2024 e 30 de setembro de 2025, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) contabilizou 219 eventos nos quais facções criminosas expulsaram moradores de suas casas no Ceará

É o que consta em um relatório do Núcleo de Inteligência Policial (Nuip), do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), da Polícia Civil do Ceará (PC-CE). Trata-se da primeira vez em que se torna público um indicador oficial, elaborado pela SSPDS, que computa casos de expulsões de moradores. 

Datado de 17 de outubro passado, o Relatório Técnico nº 224/2025/DRCO/PCCE, ao qual O POVO teve acesso, mostra que a maioria dos casos de expulsões ocorreu em Fortaleza e nos demais municípios da Região Metropolitana (RMF), embora também haja ocorrências em municípios do Interior, como Quixadá (Sertão Central do Estado) e Sobral (Região Norte).

Em Fortaleza, foram computados 143 eventos com expulsões de moradores. Ao todo, a SSPDS registrou deslocamentos forçados em 49 bairros da Capital. Com 16 ocorrências cada, Ancuri e José Walter são os bairros de Fortaleza onde mais casos aconteceram, segundo o levantamento.

Em seguida, vêm: Vicente Pinzón (com 15 casos), Jangurussu (8), Barra do Ceará (7), Papicu (7) e Canindezinho (6). Veja no quadro abaixo a lista completa de bairros onde os crimes foram registrados pela SSPDS.

Depois de Fortaleza, é Maranguape, na RMF, o município com o maior número de expulsões de moradores. Completam a lista de municípios com casos de deslocamentos forçados: Maracanaú (16), Caucaia (15), Sobral (7), Pacatuba (2), Quixadá (2) e Cascavel (1).

Os analistas do DRCO ainda fizeram no Relatório Técnico nº 224/2025/DRCO/PCCE um panorama do fenômeno das expulsões de moradores no Ceará dentro do contexto do conflito entre facções criminosas.

Conforme o relatório, “nos últimos meses”, houve um “crescimento significativo, especialmente nas periferias de Fortaleza” dos casos de deslocamentos forçados.

Por trás desse aumento estaria a expansão das facções fluminenses Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP) perante “territórios estratégicos”. Em 15 de setembro passado, o CV celebrou, por meio de queima de fogos em diversos pontos da RMF, ter passado a atuar em territórios como o do Vicente Pinzón e da comunidade do Lagamar.

Um dia depois, foi a vez dos integrantes da Guardiões do Estado (GDE) promoverem um foguetório para anunciar que a facção cearense seria incorporada ao TCP.

Essas movimentações foram acompanhadas de expulsões de moradores que, por algum motivo, foram acusados por criminosos de envolvimento com as facções rivais — o que pode ser desde ter um familiar no grupo criminoso ou ter vindo de um bairro onde age uma facção inimiga.

A principal causa dos deslocamentos, ainda de acordo com o DRCO, é a busca pelo controle territorial e a consequente exploração de atividades lícitas e ilícitas, como o tráfico de drogas e a cobrança de “pedágios” a comerciantes locais. O relatório ainda destaca os impactos das expulsões nas múltiplas dimensões das vidas das vítimas.

“Situações de estresse e preocupação devido às mudanças”, escolas com menor registro de frequência de alunos, atendimento em postos de saúde e outros serviços públicos dificultados e interrupções temporárias do comércio local são algumas das consequências das expulsões, conforme o DRCO.

“A convivência comunitária também é alterada, com restrições à circulação e à socialização em algumas áreas, enquanto famílias deslocadas podem enfrentar dificuldades de integração em novos bairros”, consta na peça. “Para a segurança pública, áreas menos povoadas podem apresentar desafios para fiscalização e atuação policial, dificultando o acompanhamento das atividades locais”.

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