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Gripes: sintomas e diferenciais frente a resfriados e Covid-19
Ciência e Saúde

Gripes: sintomas e diferenciais frente a resfriados e Covid-19

As gripes, causadas pelo vírus influenza, têm formas diferentes de se manifestar de acordo com a faixa etária do infectado
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Ilustração Gabriel Cela (Foto: Gabriel Cela)
Foto: Gabriel Cela Ilustração Gabriel Cela

Muitas vezes, ao sentirem irritação na garganta, dores de cabeça e no corpo, febre, congestão nasal e tosse, as pessoas não sabem ao certo se o que têm é uma gripe ou um resfriado. Com o novo coronavírus espalhando-se pelo mundo nos últimos meses, a dúvida é ainda maior, uma vez que os sintomas da Covid-19 podem confundir-se com os das duas doenças.

Diferentemente do resfriado, que pode ser causado por diversos vírus — como o rinovírus ou o adenovírus —, a gripe é causada pelo vírus influenza. Este, por sua vez, é dividido nos tipos A, B e C. De maneira geral, as gripes são doenças agudas causadas pela infecção do aparelho respiratório.

Os diferentes tipos de influenza causam quadros semelhantes, com febre alta, dores no corpo, tosse seca, secreção nasal e ardor ou dor na garganta como sintomas iniciais, segundo descreve a pneumologista Márcia Alcântara Holanda, membro da Academia Cearense de Medicina. "Esses sintomas diferem em graus de intensidade e duração da infecção ou do poder do vírus de lesar as células do corpo, especialmente as do aparelho respiratório."

Além disso, os sintomas podem variar conforme o ciclo da vida. Em crianças, por exemplo, a febre pode atingir temperaturas mais elevadas que nos idosos. "Ao fazer o exame físico (em crianças), é comum achar o aumento de gânglios linfáticos cervicais. Também podem fazer parte dos quadros nessa faixa etária quadros de bronquite e bronquiolite, além dos sintomas gastrointestinais", explica Emilia Soares Chaves Rouberte, professora do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).

Os tipos A e B do influenza são responsáveis pelas epidemias sazonais, de determinadas épocas do ano, enquanto o C é detectado com menos frequência. O tipo A ainda está relacionado a grandes pandemias e tem subtipos, como o A (H1N1) e o A (H3N2). A primeira cepa foi responsável pelo surto de gripe suína, em 2009.

"A diferença dos sintomas da H1N1 para uma gripe comum, que acontece mais vezes ao longo do ano, é que o indivíduo pode apresentar diarreia, náusea, vômito e insuficiência respiratória, além dos sintomas gerais", afirma a professora.

Já em relação ao H3N2 a enfermeira cita vermelhidão nos olhos e rouquidão. "Pode apresentar também vômitos e diarreias, mas não é tão comum." Ela acrescenta que um outro tipo do vírus, o D, foi isolado em suínos e bovinos nos Estados Unidos, em 2011. "Não têm estudos nem notícias de que ele possa infectar seres humanos."

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Um risco da Covid-19 é a possibilidade de evolução da doença para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), em que o paciente, além dos sintomas gripais, apresenta sintomas como desconforto respiratório e saturação de oxigênio menor que 95%. A SRAG também pode ser causada pelo vírus da gripe.

Nesse momento da pandemia do novo coronavírus, a infectologista Dionne Bezerra Rolim destaca a importância da avaliação médica. "Posso ter um quadro de Covid-19 mais leve, que vai simular um resfriado. Posso ter um quadro que vai parecer um quadro gripal ou posso ter um que não parece com um nem com outro", afirma a médica, que é professora dos cursos de medicina da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e da Universidade de Fortaleza (Unifor) e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médica da Unifor.

Para prevenir

  • A medida mais eficaz de prevenção contra a gripe é a vacinação;
  • No dia a dia, também deve-se lavar as mãos, evitar tocar as mucosas (olhos, nariz e boca), não compartilhar objetos de uso pessoal, evitar contato com pessoas que apresentem sinais ou sintomas.

E se gripar?

  • Na maioria dos casos, a infecção é combatida pelo próprio organismo;
  • O tratamento envolve medicações para alívio dos sintomas, como antitérmicos, antialérgicos, analgésicos e expectorantes;
  • Dependendo do tipo de vírus que causou a gripe e de indicação médica, pode ser necessário utilizar um antiviral;
  • É importante ficar em repouso e manter hábitos saudáveis, como boa alimentação e hidratação;
  • Deve-se ficar atento à evolução dos sintomas e da necessidade de reavaliação médica;
  • Evitar contato com pessoas mais vulneráveis;
  • Evitar sair de casa, principalmente no período de maior transmissão, de 24 horas a 72 horas após a manifestação dos sintomas.

Fontes: Emilia Soares Chaves Rouberte, doutora em Enfermagem; Márcia Alcântara Holanda, médica pneumologista; Dionne Bezerra Rolim, médica infectologista.

 

 

O vírus da gripe e suas constantes mutações

A principal "estratégia de sobrevivência" do vírus causador da gripe é a mutação. Constantemente, o formato das proteínas do vírus influenza sofrem alterações, o que faz com que os anticorpos desenvolvidos pelo corpo do indivíduo contra as proteínas virais em um determinado período não sejam eficazes para defesa em período posterior, explica Emilia Soares Chaves Rouberte, doutora em enfermagem.

"Quando estão ameaçados de extinção por anticorpos específicos contra eles, os vírus perdem seu poder de infecção. Então, para perpetuarem suas espécies, transformam-se, passando por mutações genéticas e voltando a ter o poder de infecção", acrescenta a pneumologista Márcia Alcântara Holanda, membro da Academia Cearense de Medicina.

De acordo com a infectologista Dionne Bezerra Rolim, o intercâmbio do vírus entre espécies o torna mais suscetível às mutações. É esse alto poder de modificação que explica a necessidade de se tomar a vacina contra a gripe anualmente.

Forma mais eficaz de prevenção contra a gripe e as possíveis complicações da doença, as vacinas são produzidas tendo como base as cepas de vírus que circularam no ano anterior. "É feita uma vigilância para saber quais são as cepas que estão circulando, que são as que vão compor a vacina para o próximo ano", afirma a médica.

"Por isso, todos os anos, os estudiosos da OMS (Organização Mundial da Saúde) vão testando as amostras de vírus colhidas de pacientes nas diversas partes do mundo para tentar descobrir que anticorpos conseguem neutralizar esses vírus", complementa Emilia Soares Chaves Rouberte.

Há 18 anos, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) realiza a Semana de Vacinação nas Américas. Em abril de 2020, a organização solicitou que os países mantivessem os programas de vacinação durante pandemia de Covid-19, adaptando-os aos contextos locais. No Brasil, a terceira e última fase da Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe foi prorrogada até 30 de junho. (Gabriela Custódio)

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