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Sedentarismo acende alerta para maiores riscos de doenças
Ciência e Saúde

Sedentarismo acende alerta para maiores riscos de doenças

A Covid-19 levou a menos interações sociais e menos atividades físicas, o que pode ter efeitos negativos na saúde física e mental
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1312Ciencia (Foto: CARLUS CAMPOS)
Foto: CARLUS CAMPOS 1312Ciencia

A prática de atividades físicas faz bem para a saúde do corpo e da mente. Além de prevenir doenças, colocar o corpo em movimento libera hormônios que aumentam a sensação de relaxamento e bem-estar. Entretanto, o sedentarismo é uma questão constante na saúde pública e, com a pandemia de Covid-19, foi acentuado. Mais horas em frente à TV, mais tempo de trabalho e estudo sentado e menos tempo caminhando, se deslocando pela cidade ou mesmo subindo a escada para chegar ao trabalho.

Atividades simples deixaram de ser parte do cotidiano durante o período de isolamento social e, de acordo com estudos, têm demorado a voltar à frequência anterior mesmo com a reabertura dos serviços. A empresa estadunidense Fitbit, desenvolvedora de pulseiras que rastreiam o nível de atividade física, avaliou dados de 30 milhões de usuários e percebeu uma redução entre 7% e 38% na contagem média de passos dados pelas pessoas em março quando comparados ao mesmo período de 2019. Desde então a empresa avalia que a vivacidade tem aumentado, mas não chega aos níveis do ano passado.

"Nosso organismo se adaptou na prevenção do gasto de energia, então é natural ter uma certa resistência às atividades físicas. Porém, com o estilo de vida que temos hoje, o sedentarismo se tornou o 4º principal causador de mortes no mundo", explica Adriano Loureiro, professor do curso de Educação Física da Universidade Estadual do Ceará (Uece). "As pessoas que se movimentam bem e tem uma boa dieta tendem a ter bom nível de composição corporal, de força e de aptidão aeróbica, que são a base da capacidade de viver bem e realizar as ações cotidianas. Entretanto, a atividade física é baixa no geral e diminuiu na pandemia."

A situação tem sido percebida nos consultórios. O endocrinologista Glauber Rocha afirma que muitos pacientes reduziram ou pararam suas atividades físicas, especialmente aqueles acima da faixa etária entre 50 e 60 anos. É o que também aconteceu entre as pessoas atendidas pela cardiologista Maria Tereza de Sá Leitão. "Muitos estão chegando com altos níveis de colesterol, por exemplo. Mas os impactos de fato a gente vai saber com o tempo e com os estudos científicos que demandam observação de longo prazo."

Um Brasil sedentario ja antes da pandemia
Um Brasil sedentario ja antes da pandemia (Foto: Luciana Pimenta)

"O ideal é que cada pessoa conheça os diferentes tipos de atividades físicas para escolher aquele que melhor encaixe no seu cotidiano e que sinta vontade em realizar", enfatiza Gabriel Coutinho, fisioterapeuta da Escola de Saúde Pública do Ceará. "A atividade física é um componente essencial para uma vida saudável e com qualidade, desde a prevenção e tratamento de doenças crônicas até a manutenção geral da saúde física, mental e social". Ele pondera que atividades de intensidade moderada são as mais indicadas, uma vez que atividades de alta intensidade com longa duração podem trazer riscos se não forem acompanhadas por um profissional.

Rocha observa que "há nos últimos anos um número crescente de pessoas aderindo à prática de exercícios, mas esse crescimento é mais notado na parcela populacional com maior poder aquisitivo e melhor nível de instrução". Por isso, ele analisa serem necessárias campanhas permanentes de incentivo à práticas regulares de exercícios como prevenção do adoecimento populacional e como potencial redução nos gastos em saúde pública. "Outro ponto importante nessa conscientização está a nível do currículo estudantil, desde cedo ensinando as crianças da importância de se ter uma vida ativa e uma alimentação saudável", pontua.

 

Atividade física X exercício físico

Apesar de parecerem sinônimos, existe uma diferença. Atividade física é qualquer movimentação cotidiana que resulte em estímulo dos músculos e gasto energético, como andar, correr ou subir escadas. Já exercícios físicos são práticas programadas, com sequência de movimentos que buscam um objetivo concreto, seja ligado à saúde, à estética ou aos dois.

Os riscos do sedentarismo

Especialistas ouvidos pelo O POVO explicam algumas complicações de saúde que podem ser ocasionadas pela insuficiência de atividades físicas. Entenda:

Doenças metabólicas |

O sedentarismo é um dos principais fatores de risco para a síndrome metabólica, que tem como base a resistência à ação da insulina, o que obriga o pâncreas a produzir mais esse hormônio. Ela está diretamente ligada a diabetes, hipertensão e colesterol alto

Prejuízos cardíacos |

"Quando você faz atividade física, você tem um bem estar generalizado. Controla o peso e o colesterol, libera endorfina, relaxa a musculatura, alivia as dores e o stress, tudo isso influencia também na saúde cardiovascular", explica a cardiologista Maria Tereza de Sá Leitão.

Doenças hipocinéticas |

Segundo Loureiro, o sedentarismo diminui a ativação muscular, o que volta como dificuldades de força para manter um padrão de atividades. "Isso tem consequências para a mobilidade; com o passar do tempo, se tem cada vez menos disposição para movimentar e mais dores."

Queda de imunidade |

O professor de Educação Física adiciona que as complicações chegam até o sistema imunológico inato, a primeira linha de defesa contra vírus e bactérias. "Estudos já comprovaram, que pessoas ativas têm o sistema imune inato mais forte e com resposta mais rápida", afirma Loureiro.

Questão mundial

Segundo a OMS, até 5 milhões de mortes por ano poderiam ser evitadas se a população global fosse mais ativa. A organização aponta que um em cada quatro adultos e quatro em cada cinco adolescentes no mundo não praticam atividade física suficiente.

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