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Fortaleza participa do 1º censo de vacinação feito no Brasil em 14 anos
Ciência e Saúde

Fortaleza participa do 1º censo de vacinação feito no Brasil em 14 anos

Pesquisa começou em dezembro e expectativa é de que todas as 12 regionais sejam atendidas em até 60 dias, com um total de 1.808 nascidos vivos entre 2017 e 2018. O objetivo é identificar quais vacinas as crianças já receberam ou não através de uma fotografia da caderneta de vacinação.
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Mesmo sem novos casos de sarampo, vacinação contra a doença teve a menor cobertura dos últimos quatro anos (Foto: Evilázio Bezerra)
Foto: Evilázio Bezerra Mesmo sem novos casos de sarampo, vacinação contra a doença teve a menor cobertura dos últimos quatro anos

Está em curso em Fortaleza, outras 19 capitais e em Brasília (DF) o Inquérito nacional de cobertura vacinal (ICV). Financiado pelo Ministério da Saúde, a pesquisa se propõe a estimar a cobertura vacinal aos 12 meses, aos 18 meses e aos 24 meses de vida em nascidos vivos entre os anos de 2017 e 2018 nas áreas urbanas brasileiras — público-alvo que drasticamente diminuiu sua imunização de doenças como a poliomielite e a vacina BCG, contra a tuberculose. É o primeiro censo de vacinação em 14 anos.

Por causa da pandemia, a primeira fase do Inquérito começou no Ceará no último dia 22 de dezembro e seguirá por 60 dias, até meados de março, com entrevistas às famílias e fotografia da caderneta de vacinação da criança. Deverão ser avaliadas 1.808 crianças em quatro estratos, grupos separados por condições sociais, culturais, econômicas e de escolaridade, com 452 crianças cada. Aqui, a pesquisa contará com suporte da Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal do Ceará (UFC). O censo também conta com participações da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, do Ministério da Saúde e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. A viabilização é por investimentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Jacqueline Caracas é professora da Famed/UFC e coordena o estudo, junto do professor Alberto Novaes Ramos Jr, também da universidade. Ao O POVO, Jacqueline explica que o censo irá analisar os motivos e circunstâncias da drástica queda de coberturas vacinais, em declínio desde 2018, e viabilizar novas estratégias de vacinação. Por exemplo, em 2020, nenhuma das vacinas do calendário infantil atingiu mais de 90% de imunização. Ou seja, o índice é bastante baixo, sendo 95% o ideal para a cobertura vacinal em campanhas brasileiras.

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"Apesar do PNI [Programa Nacional de Imunização] ser um sucesso no Brasil, foi observada essa diminuição. O próprio sarampo não existia mais no Brasil, mas, quando algumas pessoas deixaram de se vacinar, voltaram a aparecer os casos", pontua Jacqueline. A pesquisadora ainda cita a hipótese da influência de movimentos anti-vacinas e a deficiência de ofertas de imunização além da Unidade Básica de Saúde (UBS): muitos dos responsáveis não têm como levar os filhos no horário disponibilizado da vacinação, visto que estão trabalhando ou realizando outra atividade. Uma solução, aponta a pesquisadora, seria a implementação de vacinas em escolas e universidades — as hipóteses serão estudadas durante a produção do Inquérito.

Os entrevistados serão encontrados através do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasac), sistema do Ministério da Saúde que reúne informações sobre dados da criança e dos responsáveis, sob salvaguarda e garantia de sigilo e confidencialidade. Os responsáveis deverão estar com a caderneta de vacinação em mãos para os entrevistadores fotografarem o comprovante. O objetivo é identificar quais vacinas as crianças já receberam ou não, sendo fundamental que os responsáveis recebam os entrevistadores e permitam a fotografia do cartão.

A entrevista ocorre no período da manhã e da tarde, feita por agentes com experiência de coleta em outros censos. Após o registro do cartão, a foto é encaminhada para um setor específico da pesquisa que avalia o calendário infantil. "O trabalho é sério. Todos estão uniformizados e com uma carta do coordenador que apresenta o projeto, para que as pessoas saibam de sua legalidade", alerta a professora.

O ICV também estimará sobre a proporção de crianças que utilizam serviços privados para imunização. Após os 60 dias, a segunda fase do estudo será focada na análise dos dados e na publicação de artigos acadêmicos, viabilizando estratégias baseadas nos resultados obtidos.

Além dos Ministérios e das universidades, o estudo tem parcerias com a Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS) e a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). A expectativa é de que todas as 12 regionais da Capital cearense sejam atendidas com o estudo em até 60 dias, segundo Jacqueline.

A Universidade disponibiliza canais de atendimento para tira-dúvidas sobre o ICV através dos telefones 0800 025 0174; pelo email icv.ceara2020@gmail.com e pelo Disque Saúde do MS, no número 136.

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Primeiro censo em 14 anos

O ICV já foi realizado anteriormente em 2007, com cobertura brasileira de 87,1% de participação em 28 capitais e Distrito Federal, incluindo Fortaleza. Na capital cearense, foram realizadas 1.006 entrevistas (95,8%) das 1.050 previstas. O esquema avaliou vacinas como BCG, Pólio, DTP (contra difteria, tétano e coqueluche), sarampo, tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), haemophilus influenzae (contra infecções graves como meningite e pneumonia), hepatite B e o primeiro reforço para DPT e Pólio na região. É o primeiro ICV em 14 anos no País.

A principal diferença do ICV de 2007 para o de 2021 é no método de análise dos dados.
Segundo Jacqueline, há 14 anos havia dificuldades em identificar as vacinas por conta das diferentes escritas dos cartões - um pesquisador, por exemplo, teria dificuldades em entender a sigla específica de uma imunização e poderia trazer um dado errado ao estudo. "Ter um profissional ligado às vacinas trará uma melhor leitura do cartão, garantindo, assim, melhores resultados", cita a professora.

  • O que é o ICV?
    Autorizado pelo Ministério da Saúde, o estudo tem como objetivo conhecer se crianças nascidas em 2017 e 2018 e que vivem nas áreas urbanas das capitais brasileiras estão com as vacinas em dia. É como um censo. No Brasil, é a 1º vez do estudo em 14 anos.

  • Onde e como será realizada a entrevista?
    Após identificação do endereço dos responsáveis através do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasac) - sob devido sigilo -, os entrevistadores irão até à residência das crianças. Em 20 a 30 minutos, a entrevista buscará informações sobre os dados de pessoas ligadas à criança, características da criança e de sua família e informações sobre a vacinação. O entrevistador irá fotografar a caderneta de vacinação com o objetivo de identificar quais as vacinas as crianças já receberam ou não.

  • Qual a importância do estudo?
    A partir do estudo, o Ministério definirá novas estratégias que melhorem o acesso à vacinação das crianças brasileiras.

  • Quais serão as vacinas avaliadas?
    A pesquisa estimará as coberturas vacinais relativas à BCG (tuberculose), hepatite B, poliomielite, pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae tipo B), rotavírus humano (gastroenterites), febre amarela, meningocócica C conjugada (meningite e meningococemia), pneumocócica 10 valente conjugada (pneumonias e meningites), influenza (gripes), hepatite A, tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) varicela e reforço para DPT e poliomielite.

  •  Por que devo ter a caderneta de vacinação em dia?
    Quando uma pessoa é vacinada, protege toda a sua rede de contatos, pois as vacinas evitam que doenças circulem onde moramos, estudamos e trabalhamos. 

  • Como posso ter certeza de que o entrevistador é autorizado?
    Os profissionais estarão com camisa e crachá, portanto um tablet para realizar a entrevista e fotografar a caderneta de vacinação. Os entrevistadores não coletam dados pessoais como número do CPF ou dados bancários. Em caso de dúvidas, a UFC disponibiliza os seguintes contatos: telefones 0800 025 0174; pelo email icv.ceara2020@gmail.com e pelo Disque Saúde do MS, no número 136.

Confira as principais vacinas que se deve tomar ao longo da vida

INFÂNCIA

Ao nascer:

BGC (Bacilo Calmette-Guerin): dose única (previne as formas graves de tuberculose, principalmente miliar e meníngea)

Hepatite B: dose única (previne a hepatite B)

2 meses:

Pentavalente: 1ª dose (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções causadas pelo Haemophilus influenzae B)

Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) — (VIP): 1ª dose  (previne a poliomielite)

Pneumocócica 10 Valente (conjugada): 1ª dose (previne a pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo)

Rotavírus humano: 1ª dose (previne diarreia por rotavírus)

3 meses:

Meningocócica C (conjugada): 1ª dose (previne Doença invasiva causada pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C)

4 meses:

Pentavalente: 2ª dose

Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) — (VIP): 2ª dose

Pneumocócica 10 Valente (conjugada): 2ª dose

Rotavírus humano: 2ª dose

5 meses:

Meningocócica C (conjugada): 2ª dose

6 meses:

Pentavalente: 3ª dose

Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) — (VIP): 3ª dose

9 meses:

Febre Amarela: dose inicial (previne a febre amarela)

12 meses:

Tríplice viral: 1ª dose (previne sarampo, caxumba e rubéola)

Pneumocócica 10 Valente (conjugada): reforço

Meningocócica C (conjugada): reforço

15 meses:

DTP: 1º reforço (previne a difteria, tétano e coqueluche)

Vacina Poliomielite 1 e 3 (atenuada) (VOP): 1º reforço

Hepatite A: uma dose

Tetra viral: uma dose (previne sarampo, rubéola, caxumba e varicela/catapora)

4 anos:

DTP: 2º reforço

Vacina Poliomielite 1 e 3 (atenuada) (VOP): 2º reforço

Varicela atenuada (previne varicela/catapora): uma dose

Febre amarela: reforço

Até 5 anos

Influenza: crianças de 6 meses a 5 anos devem tomar uma ou duas doses da vacina durante a Campanha Anual de Vacinação da Gripe

ADOLESCÊNCIA

9 a 14 anos (meninas):

HPV: 2 doses, com seis meses de intervalo (previne o papiloma, vírus humano que causa cânceres e verrugas genitais)

11 a 14 anos (meninos):

HPV: 2 doses, com seis meses de intervalo (previne o papiloma, vírus humano que causa cânceres e verrugas genitais)

11 a 14 anos:

Meningocócica C (conjugada): reforço ou, se não tiver sido vacinado antes, dose única

10 a 19 anos:

Hepatite B: 3 doses (a depender da situação vacinal anterior)

Febre Amarela: 1 dose (a depender da situação vacinal anterior)

Dupla Adulto (dT): reforço a cada dez anos (previne difteria e tétano)

Tríplice viral: 2 doses, de acordo com a situação vacinal anterior

Pneumocócica 23 Valente: 1 dose, a depender da situação vacinal anterior (previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo)

ADULTOS

20 aos 59 anos:

Hepatite B: 3 doses (a depender da situação vacinal anterior)

Febre Amarela: dose única (a depender da situação vacinal anterior)

Tríplice viral: verificar a situação vacinal anterior. Se nunca vacinado receber 2 doses (20 a 29 anos) e 1 dose (30 a 49 anos) (previne sarampo, caxumba e rubéola)

Dupla adulto (dT): reforço a cada 10 anos

Pneumocócica 23 Valente: 1 dose (previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo)

IDOSOS

60 anos ou mais

Hepatite B: 3 doses (verificar situação vacinal anterior)

Febre Amarela: dose única (verificar situação vacinal anterior)

Dupla Adulto (dT): reforço a cada 10 anos

Pneumocócica 23 Valente: reforço (a depender da situação vacinal anterior)

Influenza: uma dose anual

GESTANTES

Hepatite B - 3 doses (a depender da situação vacinal anterior)

Dupla Adulto (dT): 3 doses (a depender da situação vacinal anterior)

dTpa (Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto): uma dose a cada gestação a partir da 20ª semana de gestação ou no puerpério (até 45 dias após o parto) (previne difteria, tétano e coqueluche)

Influenza: uma dose anual

Vacinação continua em adolescentes, adultos e idosos

Após a vacinação na infância, as imunizações seguem para outros períodos da vida. Adolescentes, adultos, idosos, gestantes e viajantes devem continuar seguindo o calendário nacional de vacinação disponibilizado pelo Programa Nacional de Imunização (PNI). Isso por dois motivos principais: pela atualização, pois algumas vacinas que tomamos enquanto idosos não estavam disponíveis quando éramos adultos, por exemplo; e pela queda da proteção ao longo do tempo, como o reforço a cada dez anos da vacina dupla bacteriana adulto (previne difteria e tétano).

Um dos exemplos é a vacina Meningo ACWY, implantada na rotina para o público-alvo de adolescentes a partir do mês de maio de 2020, segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). "Partimos da premissa de que o adolescente tomou as vacinas da infância. Já em adultos e idosos, se você considera que fez a vacinação ao longo da vida, você considera o reforço", cita a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Flávia Bravo. "Temos uma população brasileira vivendo por mais tempo, e por melhor que estejam, o sistema imune deles (cidadãos) não é o mesmo".

Em caso de perda da caderneta de vacinação ou não posse de documentos que comprovem a vacinação, o PNI considera o adulto como não imunizado. Mas isso não é impedimento para aplicação: é criada outra caderneta e a pessoa pode continuar a tomar as vacinas após a infância e disponibilizadas das Unidades Básicas de Saúde, como a contra febre amarela, contra o tétano ou a tríplice viral.

Mesmo com o amplo calendário, ainda é falho que adultos e idosos consultem regularmente sua caderneta de vacinação. Pesquisa a pedido da farmacêutica Pfizer em julho de 2020 aponta que metade dos brasileiros não acompanha regularmente seu calendário e, quando faz, é influenciado por eventos externos. Além disso, 13% acompanham somente a carteirinha dos filhos e 17% nunca verificam, não têm, não sabem se têm ou onde está o documento.

"Existe um controle parental com as crianças. O calendário infantil é grande porque elas são mais suscetíveis às doenças", explica Flávia. "Infelizmente, os responsáveis pensam que vacina é coisa de criança, nem sequer sabem que existe vacina para aplicação enquanto adultos. É uma falha muito grande de comunicação: não é só recomendar, mas você deve mostrar a importância e a seriedade de se vacinar. Se não, a pessoa não vai procurar".

O resultado é endossado pelo imunologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Edson Teixeira, que cita ainda um desconhecimento do Sistema Único de Saúde na totalidade por parte da sociedade. "Devemos mostrar outros pontos do SUS além da lotação em hospitais. Quando a doença chega ao hospital, é porque estratégias anteriores, mais baratas e menos doloridas se extinguiram".

As vacinas disponíveis para adolescentes, adultos, idosos, gestantes e viajantes através do SUS estão lá pois ainda há um risco de adoecimento nas faixas etárias. Especialista na área de saúde pública, Edson reforça que o sistema ainda tem dificuldades em digitalizar a quantidade de vacinas tomadas ao longo da vida. Entretanto, a solução pode estar próxima com o Conecte SUS, aplicativo que permite que o brasileiro ou brasileira visualize seu histórico de uso da rede pública. A implementação vem em momento chave da aplicação da vacina da Covid-19.

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