"Aprendi tudo isso com meus pacientes moribundos que, no seu sofrimento e morte, concluíram que temos apenas o agora, portanto, goze-o plenamente e descubra o que o entusiasma, porque absolutamente ninguém pode fazê-lo por você", escreveu a psiquiatra suíça Elizabeth Kubler-Ross, em seu livro "Morte, estágio final da evolução" (1975). Debater a efemeridade e a finitude da vida, especialmente ao entendê-la no leito de um hospital é, para grande parte das pessoas, uma experiência dolorosa, delicada e íntima.
Nesta perspectiva, o paliativismo — também conhecido como os cuidados paliativos —, consiste na abordagem promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e de suas famílias frente a uma doença que ameace a vida. A abordagem vem por meio da prevenção e do alívio do sofrimento, identificação precoce e tratamento da dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais. O conceito foi definido pela primeira vez em 1990 e atualizado em 2002 pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
De acordo com o médico paliativista e presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), Rodrigo Kappel Castilho, o método é aplicado em quaisquer estágios da existência humana, desde a infância até a terceira idade, quando há uma patologia ameaçadora à vida. "O termo paliativo vem de uma palavra em latim, chamada Pallium, um manto usado pelos guerreiros romanos nas intempéries para se proteger. Ou seja, é o cuidado que protege em situações difíceis", comenta.
Ainda que, costumeiramente, seja associado aos "casos sem solução", quando não se há mais chance de cura, os cuidados paliativos devem ser oferecidos junto ao tratamento curativo, desde o diagnóstico de uma doença grave. É o que argumenta a médica geriatra integrante da Câmara Técnica de Cuidados Paliativos do Conselho Federal de Medicina (Cremec) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Manuela de Castro Sales.
"Alguns pacientes que recebem esse tratamento de suporte se recuperam da doença e podem ser reabilitados. As duas formas de tratamento são complementares", detalha.
Segundo a Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), grande parte dos hospitais da Rede Sesa têm uma equipe para os cuidados paliativos. As equipes são solicitadas pelos médicos assistentes e normalmente atuam como complementação da assistência com orientações e atendimento multidisciplinar.
Em atuação desde 2021, em Fortaleza, a Casa de Cuidados do Ceará (CCC), é uma unidade de transição de cuidados com foco na reabilitação e cuidados paliativos. Toda a equipe da CCC é treinada no paliativismo para dar apoio ao paciente e aos familiares com visão humanizada. Em 2022, foram 115 pacientes acolhidos e acompanhados em cuidados paliativos até o falecimento.
A diretora da CCC, Úrsula Wille Campos, destaca que o cuidado paliativo define condutas médicas e multidisciplinares na assistência ao paciente, quando o propósito não é somente a cura de uma enfermidade aguda, mas um tratamento contínuo para acompanhamento de condições crônicas e incuráveis.
"Os cuidados paliativos são baseados no princípio bioético da beneficência e da não maleficência, sempre visando à autonomia do paciente por meio do consentimento informado, alinhando as decisões e condutas com o paciente e/ou a família responsável", aponta a diretora.