Atrás somente dos Estados Unidos, o Brasil é o segundo país que mais realiza procedimentos estéticos, de acordo com relatórios da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (Isaps), de 2015 a 2021. O país é ainda o primeiro em quantidade total de procedimentos cirúrgicos orofaciais e fica em 11º em procedimentos estéticos cirúrgicos.
O Brasil registrou, em 2021, crescimento de mais de 40% em números de procedimentos cirúrgicos e não cirúrgicos realizados. Entre os mais comuns, está o botox, o uso de preenchedores e o endurecimento não cirúrgico da pele.
No entanto, de acordo com um artigo publicado nos Anais Brasileiros de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia, existe uma disparidade entre o número de procedimentos realizados a nível mundial e as complicações decorrentes desses procedimentos que são descritas na literatura.
De acordo com o artigo publicado em janeiro do ano passado, a relação entre os procedimentos realizados, relatados pela Isaps, e as complicações registradas sugerem que apenas 0,007% dos procedimentos apresentaram resultados não desejados. Isso indicaria uma subnotificação de ocorrências de efeito negativo em procedimento estético.
Foi algo que a DJ e compositora mineira Danny Albuquerque viveu em agosto de 2022, quando sofreu queimaduras em diferentes partes do corpo devido a uma câmara de bronzeamento artificial — equipamento que é proibido pela Agência Brasileira de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Danny costuma trabalhar como modelo e, no ano passado, foi contratada por uma clínica de estética em Itabira (MG) para promover o serviço de bronzeamento artificial. Ela conta que esse foi o primeiro espaço a disponibilizar as cabines de bronzeamento na região.
"Eu nem imaginava que uma coisa proibida pela Anvisa podia ser tão exposta desse jeito, ainda mais que eu seria chamada pra ser propaganda de uma coisa proibida. Ela ia fazer banners com isso. Como assim uma coisa proibida é tão exposta?", relata a produtora.
Em abril do ano passado, Danny fez o procedimento pela primeira vez e teve um resultado satisfatório, que compartilhou nas redes sociais. Entretanto, foi na segunda sessão, na qual foi acompanhada pela mãe, que ela sofreu queimaduras.
"Eu não senti nada, não senti nenhum incômodo no dia. Não foi uma queimadura externa que eu encostei e queimei, não foi algo externo. Foi algo pior. Foi de dentro pra fora. Foi uma radiação que me queimou," explica.
Voltando do procedimento em Itabira, Danny lembra de sentir uma confusão mental. No entanto, as queimaduras só apareceram dois dias depois, nas nádegas, nos seios, na barriga, nas costas, no braço e no queixo.
"Eu fiquei desesperada. Eu tinha show pra fazer no dia seguinte. Eu não podia cancelar esse show. Era um compromisso muito sério que eu tinha. Eu tive que tomar muito remédio de dor e de febre," ela conta.
Além da dor e febre, ela também começou a ter delírios. O estado da cantora assustou a sua mãe e levou as duas a procurarem um hospital em Belo Horizonte. A mãe de Danny também sofreu queimaduras embaixo do braço e perto dos seios.
Na sexta-feira, Danny avisou à dona da clínica de estética que tinha sofrido queimaduras e mandou fotos dos resultados do procedimento no corpo. Mesmo assim, a clínica realizou o procedimento em mais duas mulheres no domingo. As duas também tiveram queimaduras.
Até hoje, a DJ precisa lidar com as consequências do bronzeamento artificial realizado em 2022. Sua pele continua manchada e sensível e ela conta que ainda gasta dinheiro todo mês na compra de pomadas e óleos.
Ela também não pode tomar sol, o que acaba por prejudicar momentos com a família e amigos. Além do abalo psicológico, Danny diz que também foi prejudicada financeiramente, uma vez que perdeu shows e trabalhos como modelo.
Apesar disso, ela afirma que a estética é uma área da qual sempre gostou muito e que acredita elevar a autoestima das pessoas. Entretanto, ela alerta: "A gente tem que tomar cuidado tanto com os procedimentos que a gente faz, tanto quanto com as pessoas com quem nós fazemos".
De fato, a escolha de profissionais hábeis para realizar cada procedimento pode minimizar os riscos para o paciente. De menos a mais invasivos, estes procedimentos necessitam de atenção especialmente na escolha dos profissionais que vão realizá-los para evitar possíveis complicações.
"No caso do procedimento estético, ele exige uma qualificação. Hoje existem diversas classificações de qualificação, desde curso técnico, graduação tecnológica e pós-graduação dependendo da profissão," afirma a professora Elismar Alves, que leciona no curso de estética da Universidade de Fortaleza.
O que são e quais os riscos dos procedimentos estéticos e de beleza
Fonte: Patrícia Brasil, dermatologista
Fonte: Patrícia Brasil, dermatologista
Fonte: Patrícia Brasil, dermatologista
Fonte: Patrícia Brasil, dermatologista
Fonte: Patrícia Brasil, dermatologista, e Rafael de Montier, oftalmologista
Fonte: Rafael de Montier, oftalmologista
Fonte: Rafael de Montier, oftalmologista
As diferenças entre estética e beleza
Apesar de estarem intrinsecamente relacionadas, beleza e estética não são sinônimos. Segundo a professora Elismar Álvares, enquanto os procedimentos de beleza tratam do embelezamento, a estética trata de disfunções visuais.
Procedimentos de beleza não interferem na fisiologia do tecido, o que não é o caso dos procedimentos estéticos que, por definição, tratam-se de intervenções teciduais terapêuticas que têm uma resposta fisiológica do tecido.
Como um campo profissional, a estética existe desde 1950, segundo a Sociedade Brasileira de Estética e Cosmética. Entretanto, foi só em 2001 que o curso de estética foi incluído no catálogo do Ministério da Educação.
Somente em 2018 a lei que regulamenta a profissão foi sancionada. A norma reconhece, dentro da área de atuação, os profissionais esteticistas, cosmetólogos e técnicos em estética — cada um dispondo de diferentes atribuições.
Além disso, Elismar explica que, dentro da estética, existem três classificações: facial, corporal e capilar. Por isso, um paciente que procura um profissional esteticista para realizar um procedimento deve se atentar para a sua formação e procurar alguém que tenha especialização na área buscada.
Outro erro comum é tentar utilizar receitas caseiras, encontradas na internet, sem a instrução de um profissional. "Não vale a pena porque o barato sai caro e o ideal é procurar um profissional que tenha autoridade e expertise na área", aconselha.
Os riscos de tentar realizar um procedimento sem a qualificação necessária vão de não obter o resultado desejado até a piora da disfunção que a pessoa está tentando sanar. No entanto, para Elismar, o que mais preocupa são os riscos de contaminação, do uso de produtos inadequados, mistura de produtos e queimaduras.
Apesar dos riscos, ainda há muitas pessoas sem qualificação realizando esses procedimentos. "Hoje, dentro da estética, não existe uma regulamentação adequada. Exige a necessidade de todo um cadastro, mas nem sempre tem toda essa vigilância adequada," relata a professora.
Além da qualificação, obtida por curso técnico, graduação tecnológica ou pós-graduação, o profissional da estética precisa estar constantemente pesquisando, uma vez que o campo está em constante mudança.
“O mundo da estética evolui a passos largos, muito rápido, então a gente precisa estar sempre buscando essa profissionalização, essa atualização constante,” afirma a professora.
Além da qualificação, obtida por curso técnico, graduação tecnológica ou pós-graduação, o profissional da estética precisa estar constantemente pesquisando, uma vez que o campo está em constante mudança.
“O mundo da estética evolui a passos largos, muito rápido, então a gente precisa estar sempre buscando essa profissionalização, essa atualização constante,” afirma a professora.