O uso de dispositivos tecnológicos é intenso entre os mais jovens no País. A pesquisa TIC Kids Online Brasil, realizada em 2018 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) contabilizou 22 milhões dos 24,3 milhões de jovens usuários de internet entre 9 e 17 anos têm perfis em redes sociais. Só entre crianças de 9 e 10 anos, o percentual é de 58% de presença nas mídias.
Cerca de 12% dos entrevistados em 2018, 2.964 crianças, adolescentes e responsáveis de todas as regiões do Brasil, relataram à pesquisa que tiveram seu primeiro acesso online aos seis anos de idade, índice que, em 2012 - quando a consulta começou a ser feita -, correspondia a 8%.
Uma das plataformas mais utilizadas entre os jovens é o Instagram, com taxa de uso chegando a 45%, mesmo exigindo em seu termo de uso que o usuário tenha pelo menos 13 anos de idade para utilizar o serviço. Em 2016, o índice correspondia a apenas 36%. A plataforma de imagens vem expandindo seu uso por meio de implantações de novas ferramentas, como os "Stories" e IGTV.
Andrea Pinheiro, integrante do Laboratório de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia (LabGRIM) da Universidade Federal do Ceará (UFC) cita a existência de contas que, mesmo abaixo dos 13 anos, têm perfis com milhares de seguidores. Esses perfis costumam ser criados pelas próprias famílias, que precisam estar atentas ao excesso de exposição dessas crianças no ambiente digital.
Layza Castelo Branco Mendes, coordenadora do curso de Psicologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), relaciona o aumento do alcance da plataforma com as imagens, que atraem facilmente a faixa etária. "A partir dos valores morais e éticos que perpassam os filhos, eles vão buscar coisas relacionadas a sua vivência também na internet." No entanto, alerta: "Não se pode criar os filhos em bolhas sociais. Se eu proíbo o uso porque estou com medo das consequências, eu posso vir a proibir também o aprendizado dele nessa plataforma."
O que Layza argumenta é que todo o controle depende da idade do jovem. "É como fechar a porta do quarto. É simbólico. Muitas vezes é só isso que o adolescente quer: privacidade. Às vezes ele não está fazendo nada de errado, mas precisa fechar a porta. Uma criança de dez anos fazendo isso é completamente diferente de um de 18."
Nessa realidade, ainda existe o alerta para a possibilidade de dentro de algumas redes sociais serem abertas outras contas sem o mesmo rigor de regras que na página pública. Um caso é o "dix", espécie de Instagram para os íntimos. Muitos são perfis com fotos divertidas e sem qualquer "filtro", mas também existem contas com fotos sexualizadas.
O Nordeste de não-usuários
No Nordeste, 75% das crianças e jovens entre 9 e 17 anos utilizaram a internet no ano passado. Apesar do índice, a região ainda tem um acesso limitado às tecnologias. Dos 3,8 milhões de jovens e crianças que ainda não têm acesso no Brasil, a região é a que tem o maior índice de não-usuários, 2,1 milhões. Dentre os motivos considerados na pesquisa TIC Kids Online Brasil, estão relatos de não uso da web por falta de acesso à rede em casa.
Segundo Deborah Antunes, professora de psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), isso se deve à desigualdade em termos de acesso aos bens de consumo e serviços, incluindo a internet e os dispositivos necessários para utilizá-la.
"Infelizmente, estamos em uma região que historicamente recebeu pouco investimento, muito embora sejamos a porta de entrada de todo um cabeamento de fibra óptica, conhecido como o Cinturão Digital do Ceará". Quanto ao uso de celular, o Nordeste teve o maior índice (65%) entre as regiões brasileiras de crianças que utilizam apenas o aparelho para ter acesso à internet. (Marília Freitas)
Como monitorar
O Controle Parental (ou Controle dos Pais) é um conjunto de recursos de segurança disponível em diversos sistemas operacionais, sites e equipamentos, como roteadores e consoles de jogos. Também pode ser instalado por meio de aplicativos pagos ou gratuitos.
No celular
O uso exclusivo de internet pelo celular chega a 40% entre os entrevistados pelo estudo da Cetic.br. O que preocupa é que crianças fazem uso do aparelho em quartos e antes de dormir. "Usar os dispositivos antes de dormir pode comprometer a qualidade do sono e ter consequências no rendimento escolar", afirma Andrea Pinheiro, integrante do LabGRIM.
CUIDADOS QUE PAIS DEVEM TER
Não crie perfis em nome dos filhos
Futuramente, as crianças desses perfis podem se sentir incomodadas ao perceberem que foram emitidas opiniões sem seu consenso. Lembre-se também da idade mínima para criação de perfis em cada rede social.
Estimule o diálogo
Proibir o acesso pode piorar a situação, pois eles poderão utilizar a internet de forma escondida. Esteja presente no dia a dia dos seus filhos e tire dúvidas com eles sobre as possibilidades que a internet oferece.
Reforce o cuidado contra estranhos
Algumas pessoas mal-intencionadas podem se aproximar das crianças. Converse e oriente para jamais marcar encontros com pessoas estranhas ou que conhecem apenas do mundo virtual.
Cuidado com o cyberbullying
Fique atento se seus filhos apresentarem sintomas como depressão, baixa autoestima, ansiedade e sentimentos negativos. Tente se informar na escola se algo está acontecendo e ensine-os sobre a importância de respeitar as outras pessoas no ambiente online.
Utilize o controle parental de forma complementar
A tecnologia pode ajudar, mas deve ser utilizada como uma proteção adicional, já que pode apresentar falhas e não estar disponível por todo o tempo. O senso de responsabilidade e de consciência deve ser constante entre responsáveis e crianças, além do diálogo sobre privacidade das crianças.
Fonte: guia Internet segura para seus filhos (internetsegura.br)