Aproximar as crianças da natureza e de seus pares tem sido umas das técnicas utilizada por pais para incentivar um consumo reduzido e consciente dos filhos desde os primeiros passos. Os momentos em grupo podem ser usados, por exemplo, para a criação de brinquedos a partir de material reciclado e para explorar áreas ao ar livre com amigos da vizinhança.
"Eles têm necessidade de amor, afeto, liberdade e de existir com o que já trazem de saber. A minha preocupação foi garantir isso, propiciando a conexão deles com a vida", reflete a bióloga e arte-educadora Marisol Ginez Albano, 38, mãe de três filhos. Marisol abriu o quintal da residência, no bairro Lagoa Redonda, em Fortaleza, para receber outras crianças. Lá, os pequenos compartilham árvores e desenvolvem atividades utilizando a própria oferta do espaço. "Quando eu propício aos meus filhos o contato com a natureza, a experiência de estar cuidando de um pedaço de terra, estou garantindo que eles tenham uma visão de respeito com a vida."
Mesmo que gaste mais tempo com os filhos, ganhe menos e seja mais difícil comprar os brinquedos desejados pelos pequenos, a bióloga reconhece que a conexão com os pares e com o meio ambiente propiciam experiências únicas. "Esse contato com a vida preenche o espaço de necessidade, ludicidade e experiência que só a natureza é capaz de oferecer e suprir."
Outro aspecto trabalhado por Marisol com os filhos é a busca mais por bazares e brechós e pouca vivência em shoppings. "Às vezes, meu filho também sofre um pouco. Porque ele pode menos que os amigos da escola. A gente conversa muito. O diálogo é o melhor caminho para as compreensões todas", considera.
Aos 41, Thaís Monteiro cresceu tentando se distanciar da indústria que pautava o consumo desenfreado. Hoje, a mãe e educadora tenta transmitir isso ao filho Tomé, 6 anos, que também compartilha o quintal com os filhos de Marisol. "Eu sempre achei feio comprar loucamente. Tanta produção em detrimento da natureza", aponta.
Sobre a criação do pequeno, a mãe revela também cuidado para não entrar em tantos detalhes com a criança cedo demais. Segundo Thaís, o menino não tem recursos para debates e situações tão complexas. Mesmo assim, tenta, aos poucos, ensiná-lo sobre essas questões.
"Desde o chá de bebê, eu mandei uma carta para minhas amigas, com filhos até quatro anos, falando que eu preferia coisas usadas. Uma roupinha que não cabe mais, um livro." A prática sustentável de Thaís segue nos aniversários do Tomé. Ela evita ao máximo a produção de lixo nas comemorações e dispensa material descartável, como copos, pratos e talheres.
Para Thaís, é preciso cuidado para não alimentar uma infância e adolescência depressivas. "Esses estímulos (consumo desenfreado) influenciam problemas mentais e psiquiátricos cada vez mais comuns." E quanto aos comentários de que ela estaria em uma "bolha", é categórica: "Meu filho não é isolado de nada. Isso é uma invenção de quem não quer cuidar dessa questão, quer chutar o balde".
Educação sistêmica é caminho para vida mais equilibrada
Psicóloga com doutorado em educação brasileira, a professora universitária Ticiane Santiago avalia como positiva a visão de mundo das mães e amigas Marisol Albano e Thaís Monteiro. A especialista teoriza essa perspectiva de vida como essencial para a percepção do ser humano como integrante de um todo, de uma sociedade e da natureza, conhecida como educação sistêmica ou biocêntrica.
"As crianças estão crescendo mais autocentradas. Elas precisam dessa visão do todo. Do contato vivo com a natureza, da ideia da interação social com diferentes membros da cultura e classes sociais", aponta.
Ticiane afirma que essas vivências interferem no desenvolvimento e condições de vida de quem as experimenta. Destaca ainda a importância do modelo de consumo partir dos pais, já que esses são referências para os filhos. "Se a família tem o hábito de exercer práticas de cuidado, de responsabilidade, de envolvimento e de fazer parte da natureza, a criança vai aprender de forma mais significativa."
A professora cita ainda o filósofo Lev Vygotsky ao dizer que a família e a escola são microcosmos da sociedade. "Tudo o que você vive de forma significativa nesses espaços são referência para a vida inteira."
Dez princípios para o consumo consciente
1. Planeje suas compras
Não seja impulsivo nas compras. Planeje antecipadamente e compre menos e melhor.
2. Avalie os impactos de seu consumo
Leve em consideração o meio ambiente e a sociedade em suas escolhas de consumo.
3. Consuma apenas o necessário
Reflita sobre suas reais necessidades e procure viver com menos.
4. Reutilize produtos e embalagens
Não compre outra vez o que você pode consertar, transformar e reutilizar.
5. Separe seu lixo
Recicle e contribua para a economia de recursos naturais, a redução da degradação ambiental e a geração de empregos.
6. Use crédito conscientemente
Pense bem se o que você vai comprar a crédito não pode esperar e esteja certo de que poderá pagar as prestações.
7. Conheça e valorize as práticas de responsabilidade social das empresas
Em suas escolhas de consumo, não olhe apenas preço e qualidade do produto. Valorize as empresas em função de sua responsabilidade para com os funcionários, a sociedade e o meio ambiente.
8. Não compre produtos piratas ou contrabandeados
Compre sempre do comércio legalizado e contribua para gerar empregos estáveis e para combater o crime organizado e a violência.
9. Contribua para a melhoria de produtos e serviços
Adote uma postura ativa. Envie às empresas sugestões e críticas construtivas sobre seus produtos e serviços.
10. Divulgue o consumo consciente
Sensibilize outros consumidores e dissemine informações, valores e práticas do consumo consciente.
FONTE: Instituto Akatu