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O peso da inflação na vida dos idosos
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O peso da inflação na vida dos idosos

A inflação dos idosos costuma ser mais alta do que a média das outras faixas por conta do próprio perfil da cesta que compõe o índice
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 (Foto: ALEX GOMES/Especial para O POVO)
Foto: ALEX GOMES/Especial para O POVO

Jaqueline Villar de Araújo sempre foi muito ativa. Com a chegada aos 63 anos, não podia ser diferente. E apesar de não ter que bater ponto, a rotina continua agitada: casa, família, atividades físicas. Aliás, foi depois da virada da chave para a maturidade que ela passou a dedicar mais tempo para si. Foi quando começou, por exemplo, a viajar sozinha com as amigas e a sair mais para se divertir. "E toda sexta-feira temos o nosso compromisso, de conversar, sair, se divertir", afirma.

O fato é que, para garantir esses pequenos prazeres cotidianos, ela e o esposo, também aposentado, têm de fazer escolhas. "Tudo fica mais caro: remédio, alimentação, o plano de saúde pesa bastante. Aí tem que enxugar de outro lado. O que eu percebo é que, cada vez mais, essas despesas do dia a dia vão aumentando e você vai ficando sem dinheiro para aproveitar a vida. O que é errado, porque estamos numa fase que isso deveria ser a prioridade", diz.

A percepção de que as coisas estão ficando mais caras com a idade não é uma mera sensação de Jaqueline. O Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i), que mede a variação da cesta de consumo de famílias majoritariamente compostas por indivíduos com mais de 60 anos de idade, registrou variação de 0,48% no terceiro trimestre de 2019.

Em 12 meses, o IPC-3i acumula alta de 3,78%. Percentual acima da taxa acumulada pelo Índice de Preços ao Consumidor Brasil (IPC-BR), que foi de 3,51%, em igual período, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Gastos com energia elétrica, plano de saúde e condomínio são os itens que mais têm contribuído para alta do terceiro trimestre. Por outro lado, a inflação mais baixa dos alimentos de modo geral, em especial, em produtos como tomate, batata inglesa e cenoura, ajudam a equilibrar essa balança.

O presidente do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças no Ceará (Ibef-CE), Luiz Antonio Miranda, explica que a inflação dos idosos costuma ser mais alta do que a média das outras faixas etárias, em alguns períodos, por conta do próprio perfil da cesta que compõe o índice. Plano de saúde, por exemplo, tem um peso maior no orçamento de um idoso do que no de um adulto porque o serviço costuma ser mais caro com o avançar da idade, tendo maior impacto sobre a renda.

Também é um item que tem crescido muito acima da inflação oficial do País. Em julho deste ano, por exemplo, foi autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) reajuste de até 7,35% na mensalidade dos planos de saúde individuais ou familiares. Enquanto o índice de Preços ao Consumidor (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não passou de 3,75%.

"Se observamos os números apenas do terceiro trimestre, a variação do IPC-3i foi a mesma do IPC-BR, de 0,48%. O que mostra que o descolamento entre as duas faixas ocorreu, principalmente, no último trimestre do ano passado, o primeiro e o segundo trimestre deste ano", afirma Luiz Miranda. 

De modo geral, os números da inflação não estão altos, reflexo de uma economia brasileira ainda muito fraca. Basta lembrar que, em 2016, a inflação dos idosos era de 9,6%. Mas o poder aquisitivo da população também diminuiu bastante no período, observa o professor de economia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Érico Veras Marques. Algo que reforça a dificuldade maior das pessoas em arcar com os custos cotidianos.

Ele também pondera que esse peso pode variar de acordo com os hábitos de consumo e da renda de cada família. "A inflação é uma média e não impacta a renda das pessoas da mesma forma. O impacto do aumento dos preços na renda de um idoso que mora na Aldeota não é o mesmo de alguém que mora na periferia", observa.

Nesse contexto, as faixas de renda menores têm sentido de maneira muito mais intensa o peso de ser idoso no Brasil. "Enquanto nas classes mais altas ainda é possível fazer escolhas, entre os mais pobres, nem isso, porque a maior parte do consumo é com coisas essenciais como alimentação e moradia. É só olhar os dados mais recentes do IBGE que mostram que 42% das famílias no Ceará sobrevivem com até R$ 420 por mês", lembra o professor. 

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