Os decretos de isolamento social fizeram com que a jornalista Aline Herculano trocasse a intensa rotina de trabalho fora de casa pelo home office, baseado no uso de aplicativos (apps) como Whatsapp e Google Duo, para entrevistas, reuniões e videoconferências. Antes da quarentena, em razão da pandemia do novo coronavírus, nunca havia trabalhado remotamente. Mas acredita que o modelo, ainda tímido no Brasil, veio para ficar.
"Eu prefiro os encontros presenciais. Gosto dos apps, mas é muito comum perder a concentração, além dos problemas com a internet. Mas, no chamado 'novo normal', vamos ter que nos adaptar ao home office e ao uso desses apps", diz.
Aline não foi a única que teve de ampliar o uso de apps já populares e passar a utilizar novas plataformas para conseguir trabalhar de casa. Mesmo na crise econômica causada pelo vírus no País, oportunidades surgem no mercado de apps, movimentando e reconfigurando o segmento. A pesquisa Panorama, da Mobile Time e da Opinion Box, revela que 88% dos brasileiros instalaram novos aplicativos em seus smartphones no mês de maio.
O levantamento aponta que, na tela principal (home screen) dos smartphones dos quase 2 mil entrevistados, ganham destaque apps mensagem e redes sociais, mas também de plataformas ligadas a serviço. Whatsapp (57%) é o preferido, mas é observado crescimento dos apps da Caixa (15%), Banco do Brasil (11%), Nubank (9%) e iFood (9%), por exemplo.
Em relação a lives e videochamadas, a proporção de pessoas que já assistiram ou fizeram durante a pandemia chega a 88% e 75%, respectivamente. As videochamadas viraram sinônimo de uso profissional, sendo fundamentais para a realização de reuniões. Hoje, Whatsapp e Zoom são os de maior destaque. Além desses, no caso de Aline, o Google Meet (ou Hangout) também ganha destaque.
O sucesso dos aplicativos não se restringe somente às plataformas conhecidas internacionalmente. Thiago Sena, head de vendas e marketing da Mercadapp, plataforma de compras online ligado ao setor de supermercado e acelerada pela Casa Azul Ventures, observa que a quarentena foi um divisor de águas para o desenvolvimento dos aplicativos. O aumento foi na casa dos 1.000%, diz.
"Aqui no Ceará, andamos cinco anos de projeção de crescimento do e-commerce de supermercados. Tivemos um salto temporal devido à pandemia e, pelos números, é uma tendência ganhar ainda mais força", reforça.
O diretor de contas da empresa de soluções tecnológicas Infobase, Daniel Salvador, destaca que a pandemia acelerou o processo de transformação digital das empresas. E as que estavam mais preparadas, como as que já contavam com apps, levaram vantagem.
Para ele, o home office fez as empresas buscarem alternativas mais acessíveis aos usuários, que estão trabalhando inclusive pelo smartphone. "A pandemia obrigou empresas que tinham resistência em trabalhar remotamente a se adaptarem. e isso virou status quo, com empresas funcionando plenamente de forma remota".
O impacto do sucesso dos apps no mercado é tão grande que o crescimento do Zoom - plataforma de videoconferência - chegou a superar o valor de mercado da Petrobras. Com ações na Nasdaq (EUA), a cotação de uma ação saltou de 68,72 dólares no início de janeiro para 261,74 dólares na sexta-feira, 3. As venda que a empresa registrou no primeiro trimestre dobraram no último ano, para US$ 122 milhões.
Empresas buscam se adaptar para sobreviver na crise
É certo que a pandemia fez com que o mercado e a demanda fosse aberta para alguns e diminuída para outros. Com a queda de demanda por viagens de carro, a Uber, por exemplo, lançou o Uber Flash, que funciona como o UberX. Mas, ao invés de solicitar uma viagem para o seu deslocamento, o usuário solicitará para enviar um item.
De acordo com a Uber, a categoria foi lançada com o objetivo de colaborar com o distanciamento social durante a pandemia de coronavírus e, ao mesmo tempo, possibilitar uma opção complementar de ganhos para os motoristas parceiros.
"O Uber Flash faz parte dos nossos esforços para acelerar o desenvolvimento de soluções que respondam aos impactos trazidos pela pandemia. Com essa categoria, queremos contribuir para que as pessoas continuem conectadas, mesmo à distância", afirma Claudia Woods, diretora-geral da Uber no Brasil.
Airbnb: O co-fundador e CEO da Airbnb, Brian Chesky, em entrevista à CNBCA, afirmou que "demoramos 12 anos para construir o negócio e perdemos quase tudo numa questão de quatro semanas". Ao O POVO, a Airbnb diz que inovou rapidamente em resposta à crise para permanecer como parte da solução dos desafios das pessoas. A empresa afirma que a procura por reservas mais longas aumentou nos meses de pandemia e já observa mudança de rumos para o futuro.
"No Brasil, começamos a identificar agora sinais que apontam para um início de planejamento das pessoas para viagens futuras". De acordo com a empresa, no último mês de maio, houve aumento de aproximadamente 150% na participação da procura por destinos até 300 km de distância dos grandes centros urbanos, em relação a igual período de 2019.
"Esse movimento não significa reservas para agora. Temos visto um crescimento das buscas por destinos turísticos para o futuro, como cidades de praia para o início de 2021. Isso indica que as pessoas já demonstram interesse e confiança em viajar no verão para destinos habituais na alta temporada antes da pandemia, como Ubatuba, Arraial do Cabo, Búzios, Ilhabela, Bombinhas, Porto Seguro, Trancoso, Riviera de São Lourenço".
O Brasil é o maior mercado da Airbnb na América Latina. Ao fim de 2019, eram 250 mil usuários e mais de mil experiências. Em 2016, eram 80 mil.
Pesquisa: integração entre online e offline será ainda maior
A Social Miner, empresa que une dados de consumo, tecnologia e humanização para ajudar sites a otimizarem seus resultados, fez um levantamento que mostra, por exemplo, que 62,7% dos consumidores pretendem mesclar as compras de supermercado entre online e offline, e 45,4% devem fazer cursos só online quando o período de isolamento passar.
A pesquisa "O futuro do consumo num cenário pós-Covid-19", realizada em parceria com a Opinion Box, aponta que 62,7% dos entrevistados vão fazer compras de mercado/feira tanto online quanto em lojas físicas, e 10,9% estão decididos a consumir só online.