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Fortaleza realiza Feira Canábica do Ceará com serviços e debates sobre o uso medicinal da cannabis
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Fortaleza realiza Feira Canábica do Ceará com serviços e debates sobre o uso medicinal da cannabis

O evento reuniu especialistas, associações e pacientes para promover informação qualificada e serviços gratuitos sobre o uso terapêutico e cultural da cannabis
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FEIRA antecede 
Marcha da Maconha (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FEIRA antecede Marcha da Maconha

A Praça da Gentilândia, no bairro Benfica, em Fortaleza, recebeu na tarde deste sábado, 17, a 4ª Edição da Feira Canábica do Ceará. O evento integra a programação do Maio Verde, mês dedicado à luta antiproibicionista no Brasil. A feira reuniu serviços, produtos e informação qualificada sobre os usos terapêutico, industrial e cultural da cannabis.

Com a participação de associações, empreendedores, profissionais da saúde e representantes jurídicos, a feira ofereceu atendimentos gratuitos, como orientação jurídica, escuta psicológica, avaliação com especialistas, além de rodas de conversa focadas em autocuidado e redução de danos.

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Lígia Duarte, comunicadora e militante pela Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (Renfa), e organizadora da Marcha da Maconha Fortaleza, destacou a importância da feira para desconstruir o histórico proibicionista no Brasil, especialmente contra a juventude negra e periférica.

"A criminalização de seu uso foi, e ainda é, uma ferramenta de encarceramento. Enquanto isso, as elites sempre tiveram acesso ao uso sem repressão. Esses eventos são fundamentais para mostrar que a maconha não é apenas uma pauta criminal, mas também econômica, empreendedora, medicinal e cultural", defende.

 

Também esteve presente o médico e prescritor de cannabis Alan de Castro Andrade (Cremec 24413). Ele destaca os principais quadros clínicos beneficiados pela cannabis.

"As principais demandas envolvem doenças psicológicas, dores crônicas, enxaquecas, dores oncológicas e algumas síndromes raras. O diferencial da cannabis medicinal é que ela atua em todas as fases da dor, desde a percepção sensorial até a interpretação no sistema nervoso central, o que representa um grande avanço terapêutico", pontua.

Ele reforça a importância da orientação médica para o uso terapêutico seguro e individualizado. "Mesmo quando dois pacientes possuem o mesmo diagnóstico, a dosagem necessária pode variar significativamente. É imprescindível realizar uma consulta inicial e elaborar um plano terapêutico personalizado", orienta.

As principais formas de acesso à maconha medicinal são:

  • Farmácias: venda de produtos à base de cannabis, geralmente com CBD isolado, mediante prescrição médica.
  • Importação: aquisição de produtos específicos importados, muitas vezes com formulações não disponíveis localmente, podendo requerer autorização judicial.
  • Associações: organizações que produzem e distribuem cannabis medicinal com rigorosos controles laboratoriais, oferecendo uma alternativa acessível e segura.
  • Cultivo doméstico: acesso pode ser garantido via habeas corpus, que assegura o direito legal ao cultivo.

A fisioterapeuta Ana Carla Bastos utiliza maconha medicinal para tratar ansiedade e depressão, agravadas após a maternidade. Para facilitar o acesso, optou pelo cultivo próprio e hoje atua na democratização do uso da planta.

“Até entender que o uso que eu fazia da maconha, inicialmente recreativo, na fase adulta já era uma forma de buscar tratamento para as minhas necessidades. Ela me trazia tranquilidade e ajudava a dormir", relata.

Participar de eventos sobre o uso terapêutico da maconha a inspirou a buscar uma avaliação para seu próprio uso. Contudo, em 2019 enfrentou dificuldades no acesso ao óleo medicinal, devido ao alto custo. "Eu precisava importar um com concentração de 20%, cerca de 200 mg por ml, mas isso custava em torno de R$ 6 mil, o que era inviável", relembra.

Diante das barreiras, Ana Carla optou pelo autocultivo, obtendo habeas corpus para cultivar em casa, mas logo percebeu que a produção doméstica era limitada e custosa. Por isso, se mudou para um sítio onde famílias também cultivavam a planta para uso próprio. Foi daí que nasceu a Associação Medicinal do Ceará (Amece).

"Unimos esforços para produzir inicialmente para nosso uso e, posteriormente, para beneficiar a sociedade. Hoje, acolhemos cerca de 300 pessoas em um espaço terapêutico, onde oferecemos conhecimento técnico, apoio jurídico e orientação para cultivo legal", explica.

"Esperamos que, um dia, essa planta seja livre para quem quiser produzir, utilizar como remédio ou fumar", projeta Ana Carla Bastos.

FORTALEZA-CE, BRASIL, 17.05.2025: Ana Carla Bastos , paciente e fitoterapeuta. Feira Canábica do Ceará. Praça da Gentilândia. (Foto: Fabio Lima/ OPOVO)(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA-CE, BRASIL, 17.05.2025: Ana Carla Bastos , paciente e fitoterapeuta. Feira Canábica do Ceará. Praça da Gentilândia. (Foto: Fabio Lima/ OPOVO)

Como usar maconha medicinal legalmente

Pacientes que usam cannabis mediante receita médica não precisam de autorização judicial. Porém, o cultivo doméstico requer um habeas corpus para garantir a legalidade do cultivo.

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"Para isso, o paciente deve reunir a documentação médica e procurar a Defensoria Pública ou advogados particulares especializados para entrar com o habeas corpus”, explica o advogado Ítalo Coelho, integrante da Comissão de Direitos Humanos e da Comissão de Políticas Públicas sobre Drogas da OAB/CE.

O advogado relembra que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve implementar, a partir do dia 19 de maio de 2025, regras para a produção nacional de cannabis medicinal, que tende a baratear custos e facilitar o acesso.

"Até então, a indústria farmacêutica dependia da importação de insumos para fabricação local, o que encarecia o processo e dificultava o acesso, além de gerar ações judiciais contra o Estado para garantir o fornecimento”, esclarece.

Marcha da Maconha

A Feira antecede a Marcha da Maconha Fortaleza 2025, que ocorrerá no dia 25 de maio, na avenida Beira Mar, em Fortaleza. A concentração será às 15h na Estátua de Iracema. O evento busca reforçar a mobilização em prol dos direitos e da despenalização da cannabis.

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