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Corrida pelo cupom premiado: Marketplaces avançam na preferência do consumidor
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Corrida pelo cupom premiado: Marketplaces avançam na preferência do consumidor

Os últimos meses têm sido marcados por uma acirrada expansão na concorrência entre as principais empresas de e-commerce que atuam no Brasil. Chineses, americanos, argentinos e até os Correios veem no mercado nacional uma grande oportunidade. Aliar logística eficiente e cupons de descontos tem sido diferenciais
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FORTALEZA-CE, BRASIL, 16-11-2023: Centro de distribuição da Amazon,  Matéria sobre a logística de distribuição da Amazon durante o período da Black Friday. (Foto: Aurelio Alves/O Povo) (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES FORTALEZA-CE, BRASIL, 16-11-2023: Centro de distribuição da Amazon, Matéria sobre a logística de distribuição da Amazon durante o período da Black Friday. (Foto: Aurelio Alves/O Povo)

Os hábitos de consumo dos brasileiros passam por larga transformação desde a pandemia e os marketplaces. O que antes era necessidade, com a digitalização, virou primeira opção para compras. A alta demanda atrai empresas de origens diversas, como China, Estados Unidos, Cingapura e Argentina, além das brasileiras, tornando o País um celeiro fértil de faturamento e alta concorrência.

Segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), o setor faturou o equivalente a R$ 204,3 bilhões, um crescimento de 10,5% em 2024. Para 2025, a expectativa é seguir o mesmo ritmo de faturamento anual, expandindo 10% em relação ao ano anterior, e atingir R$ 224,7 bilhões.

Outro levantamento, da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), organizou as 300 maiores varejistas em faturamento e revelou que o processo de digitalização da oferta tem sido acelerado com aumento de 162 para 217 o número de empresas operando e-commerce entre 2020 e 2023.

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Esse movimento se reflete nas vendas, com 108 milhões de consumidores online. Ou seja, quase metade da população brasileira compra sem ir presencialmente às lojas.

A concentração de vendas no online está diretamente ligada a cinco plataformas, que são equivalentes da “shoppings centers virtuais” - Mercado Livre, Shopee, Amazon, Casas Bahia e Shein. Elas responderam por 85,5% das vendas online no Brasil em 2023, segundo o dado consolidado mais recente. Em 2022, os cinco principais marketplaces representavam 78% das vendas.

A operação logística desses negócios é fundamental para seu sucesso com o público, para além dos descontos e condições de pagamento. Se o produto não chegar rapidamente, o problema é basilar.

Shopee e Mercado Livre lideram o mercado, segundo o Relatório Setores do E-commerce, da Conversion, de 2024. E uma das estratégias é a aposta em subsídio direto para redução de custos ao consumidor, embora esta seja apenas uma parte da equação.

A infraestrutura própria para garantir a entrega é o principal ponto a ser respondido neste segmento. Para tornar sua logística mais eficiente, o Mercado Livre mantém há anos uma frota de aviões para movimentação de cargas.

Parceria com a Gollog, unidade de transporte de cargas da Gol Linhas Aéreas. Conforme a empresa, são 15 rotas no Brasil. Isso permite com que 70% das entregas cheguem em menos de 24 horas no serviço urgente e 80% das entregas do Mercado Livre sejam concretizadas em até 48 horas.

Já a Shopee informa que o Ceará passou a integrar top-10 de estados brasileiros com maior número de vendedores ativos. O dado reflete o avanço do comércio eletrônico no Estado e acompanha uma expansão logística da empresa, que anunciou a abertura de um novo hub em Juazeiro do Norte, e deixa aberta a possibilidade de mais expansões.

A unidade se soma a outras três operações já existentes no Estado. Além do Cariri, atualmente, o Ceará conta com um hub de última milha (centro de distribuição focado na entrega final de produtos aos clientes) em Caucaia e dois centros híbridos em Fortaleza.

“A expansão da nossa infraestrutura logística no Ceará reflete o crescimento contínuo da Shopee por todo o país e o compromisso com o e-commerce regional”, explica Rafael Flores, head de Expansão Logística da empresa.

Com 17 CDs fulfillment (processo completo de gestão de pedidos e entregas), inclusive com uma estrutura no Ceará, mas com expectativa de expansão para algo em torno de 25 a 27 unidades em operação, a Mercado Livre alia à malha logística estruturada uma estratégia de oferta de cupons. Cesar Hiraoka, diretor de Marketing da empresa, destaca que no Descontaço de junho a empresa liberou R$ 37 milhões em cupons.

"Cupons e benefícios logísticos são alavancas estratégicas importantes no relacionamento com os consumidores. Hoje, cupons e frete grátis fazem parte de uma jornada mais ampla de experiência, que envolve construção de marca", aponta.

No Estado, as duas empresas têm um foco em comum no planejamento de expansão no médio prazo: a conclusão da ferrovia Transnordestina e a inclusão do modal ferroviário em suas estratégias logísticas.

O POVO revelou em junho passado que existem tratativas do município de Quixeramobim com Mercado Livre e Shopee para que se instalem no espaço do porto seco que iniciou construção e deve estar operacional a partir de meados de 2026.

Já a Amazon anunciou ao mercado neste mês que alcançou a marca de 200 polos logísticos no Brasil, ampliando programas para entregas rápidas. Nos últimos 18 meses, a companhia ampliou de 140 para 200 polos.

Eles já conseguem entregar no mesmo dia em mais de 200 cidades e entrega no dia seguinte em mais de 3,6 mil municípios. No Ceará, a companhia afirma ter investido quase R$ 480 milhões, com 700 empregos diretos e mais de 4,4 mil empregos externos. São 10 polos logísticos no Estado, incluindo um CD em Itaitinga.

"Estamos acelerando nossa expansão no Brasil e investindo em parcerias locais e estratégicas que engajam e atuam como força transformadora para oferecer serviços ainda mais rápidos. Combinamos nossa expertise global com o conhecimento e energia dos parceiros brasileiros", destaca Ricardo Pagani, líder de Operações da Amazon Brasil. (Colaborou Mariah Salvatore, especial para O POVO)

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Porto

O POVO revelou em junho passado que existem tratativas do município de Quixeramobim com Mercado Livre e Shopee para que se instalem no espaço do porto seco que iniciou construção

O que os cearenses vendem

Entre as categorias mais populares no Estado estão moda feminina, moda infantil e beleza. Segundo a Shopee, as cidades com maior concentração de sellers incluem Fortaleza, Caucaia, Maracanaú e Juazeiro do Norte.

Transnordestina

Com extensão de 1.206 km entre Eliseu Martins (PI) e o Porto do Pecém (CE), a Transnordestina é considerada estratégica no esforço de facilitação da distribuição de produção, insumos e entregas.

FORTALEZA,CEARÁ, BRASIL,04-07-2025: Matheus Paiva, proprietário da marca Femmy Moda Fitness, que desde 2022 atua na Shopee que amplia presença no Ceará. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)
FORTALEZA,CEARÁ, BRASIL,04-07-2025: Matheus Paiva, proprietário da marca Femmy Moda Fitness, que desde 2022 atua na Shopee que amplia presença no Ceará. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)

Varejo popular se adapta e cresce no virtual

Cearenses têm visto como boa oportunidade de negócios as plataformas de e-commerce. A transição do varejo tradicional para o digital ainda é desafiadora. O caso de Matheus Paiva, comerciante que começou ainda adolescente na tradicional feira da José Avelino, em Fortaleza, é um exemplo desse processo.

Matheus lembra que o seu negócio no varejo físico prosperou, mas também enfrentou os altos e baixos da indústria local de confecção, até que decidiu tentar outros caminhos no varejo físico, incluindo duas lojas de importados. Chegou a possuir 13 funcionários, mas viu tudo mudar com a pandemia. "Tentei segurar, mas não consegui sair das dívidas. A decisão foi vender as lojas e recomeçar", conta.

O recomeço veio por meio do comércio digital. Hoje, vende cerca de 50 mil peças por mês, com 15 funcionários diretos e aproximadamente 130 indiretos, espalhados em 28 oficinas de costura. "A plataforma representa entre 80% e 85% de todo o meu faturamento", afirma.

Em 2024, ele fechou o ano com R$ 3,8 milhões em vendas. Em julho de 2025, já havia igualado o valor — e projeta atingir R$ 1 milhão em faturamento mensal até janeiro, quando a procura por moda fitness costuma disparar. "Janeiro é o meu grande mês. Quero chegar a R$ 2 milhões". Com a fábrica em constante expansão, Matheus já considera mudar para um espaço maior. (Mariah Salvatore, especial para O POVO)

A concorrência entre empresas e as estratégias para ganhar o cliente

O crescimento do mercado tornou mais acirrada a disputa entre as empresas pela fidelidade dos clientes. Entre os movimentos concorrenciais, a oferta de cupons de descontos nos produtos e em frete são os mais usados.

Com cinco anos de atuação no Brasil, a Shopee mantém como modelo de negócios o investimento direto na oferta de cupons de frete grátis para compras a partir de R$ 19. A oferta é subsidiada pela empresa como forma de garantir o cliente.

Já o Mercado Livre tomou a iniciativa de reduzir de R$ 79 para R$ 19 o valor mínimo para frete grátis das compras na categoria Full - estratégia bancada pela empresa, além de promover a redução em até 40% nos custos de frete aos lojistas parceiros.

Outra tendência são as promoções em datas especiais. A Shopee iniciou com promoções em datas duplas (como 7/7), a proposta foi seguida pelo Mercado Livre e adaptada por outros, como Magalu, que tem o "Pay Day", no quinto dia útil de cada mês.

Também longevo, mas realizado uma vez ao ano, a Amazon promove o "Prime Day", que, neste ano, será realizado entre os dias 14 e 15 de julho. Para assinantes do Amazon Prime, as ofertas foram adiantadas desde o último dia 4.

Luana Silva, especialista SAP para Varejo e E-commerce da ALFA, aponta que o comércio tem se transformado no Brasil de forma que aqueles comerciantes que ainda não investiram em criar presença digital ou que não buscam implementar estratégias de alcance, ficarão para trás. Estar online é o mínimo e nos marketplaces se tornou diferencial. "À medida que a tecnologia favorece o acesso, é primordial que os comerciantes busquem acompanhar esse movimento em prol de melhores resultados", comenta. E pontua: "Afinal, o futuro não é "só vender online", mas oferecer uma experiência fluida, inteligente e integrada ao consumidor".

Capacitação e moda plus size como diferencial

Outra história de sucesso é a de Michele Silva, fundadora da Garota Bella Moda. Com experiência no setor jeans desde 2015, ela passou a vender exclusivamente pelo digital em 2022, após uma tentativa frustrada de terceirizar a gestão de sua loja no marketplace.

"Contratei alguém para abrir e gerenciar minha loja, mas ele não soube executar. Depois de três meses sem resultado, meu marido sugeriu que eu mesma assumisse."

Michele estudou sozinha. Perdeu 28 anúncios no início, tentando entender a lógica do canal de vendas. Persistente, passou a compartilhar os aprendizados no Instagram e atraiu outros fabricantes locais interessados em aprender. "Hoje tenho alunos que começaram do zero e já faturam R$ 250 mil no mês."

Sua loja foca em moda plus size e tem como carro-chefe os shorts de alfaiataria. A produção envolve cinco colaboradores diretos e cerca de 15 facções terceirizadas, muitas delas no interior do Ceará. Com uma média de 10 mil peças vendidas por item, a empresa depende hoje 80% das vendas pela plataforma.

Em junho de 2025, a empresa faturou R$ 250 mil — valor que poderia ter sido maior, não fosse a pausa nas vendas por falta de estoque. "Já chegamos a vender entre R$ 10 mil e R$ 15 mil em um único dia." A meta para o segundo semestre é triplicar esse número, chegando a R$ 750 mil mensais.

"Mudou nossa realidade. No atacado, era catálogo novo toda semana, influenciadores, atendimento no WhatsApp. No marketplace, um único produto validado pode vender por meses." (Mariah Salvatore, especial para O POVO)

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