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‘A inteligência artificial não vai substituir pessoas, vai substituir processos’, diz Edilson Botto
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‘A inteligência artificial não vai substituir pessoas, vai substituir processos’, diz Edilson Botto

Estrategista une tecnologia e comportamento humano para impulsionar inovação e vence o Hackathon 2025 com projeto de turismo inteligente
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 Estrategista e mentor Edilson Botto, vencedor do hackathon (Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO Estrategista e mentor Edilson Botto, vencedor do hackathon

Por trás da fala calma e olhar analítico de Edilson Botto, há uma mente que conecta tecnologia, comportamento humano e propósito.

O estrategista e mentor, formado em Administração, com especialização em Inteligência de Mercado e cursando atualmente uma nova graduação em Inteligência Artificial na Universidade de Fortaleza (Unifor), foi o vencedor do Hackathon 2025, realizado durante o Siará Tech Summit, em Fortaleza.

No evento, promovido pelo Sebrae em parceria com a Aprece (Associação dos Municípios do Estado do Ceará) e organizado pela Unifor, ele e sua equipe desenvolveram uma plataforma de turismo inteligente que usa IA para criar roteiros personalizados, impulsionar negócios locais e gerar dados estratégicos para o setor público.

Mas Edilson não é só sobre inovação tecnológica. É também sobre gente. “A tecnologia é um meio, não um fim”, afirma. Sua trajetória, que começou em consultorias empresariais e desembocou na busca por compreender o comportamento humano, é um retrato do profissional do futuro: híbrido, inquieto e profundamente humano.

O POVO - Quem é o Edilson Botto por trás do estrategista e mentor que vimos no Ceará Tech Summit?

Edilson Botto - Tudo começou na década passada, quando eu trabalhava com consultoria. Percebi que não bastava dominar uma única área, era preciso conectar saberes diferentes para gerar soluções completas. Então, além da gestão empresarial, comecei a estudar comportamento humano e tecnologia. Hoje curso Inteligência Artificial justamente para unir essas pontas e desenvolver projetos mais efetivos.

OP - Em que momento você percebeu que inovação e desenvolvimento humano se cruzavam?

Botto - Em 2010, quando fiz um curso de Design Thinking. Essa metodologia abriu minha cabeça. Comecei a trabalhar com ela e a desenvolver projetos participativos, envolvendo as pessoas na construção das soluções.

Mas percebi que muitos projetos, mesmo bem feitos, não eram aplicados. Descobri que o problema estava no comportamento, mudar exige sair da zona de conforto. Então mergulhei em estudos de neurociência e hábitos para ajudar as pessoas a colocar as ideias em prática.

OP - E no Hackathon, como nasceu a ideia que garantiu a vitória?

Botto - O desafio que escolhemos era o de turismo. Queríamos criar uma solução que aproximasse os turistas do Ceará e valorizasse o interior. Assim nasceu a plataforma de turismo inteligente, que reúne informações sobre os atrativos do estado e usa IA para montar roteiros personalizados conforme o perfil do visitante — casal, família ou grupo de amigos.

Além disso, os empreendedores locais podem cadastrar seus negócios, e as secretarias municipais ganham acesso a dados para decidir onde investir. Fizemos as contas: se apenas 15% dos 1,7 milhão de turistas que o Ceará recebeu no primeiro semestre de 2025 ficassem um dia a mais, isso geraria R$ 186 milhões a mais e 2 mil novos empregos diretos. Nosso objetivo é descentralizar o turismo e levar desenvolvimento também para o interior.

OP - O projeto também fala de acessibilidade. Por que isso foi importante?

Botto - Durante a pesquisa, descobrimos que mais da metade das pessoas com deficiência no Brasil não viaja por falta de informação sobre locais acessíveis. Então criamos um selo de acessibilidade para os estabelecimentos, com suporte em Libras e informações visuais. Queremos que o turismo seja realmente inclusivo.

OP - Como você avalia o papel do Ceará Tech Summit nesse ecossistema de inovação?

Botto - O evento é essencial. Ele conecta pessoas de diferentes áreas e faz surgir parcerias reais. Nossa solução, por exemplo, virou uma startup durante o evento. Eu costumo dizer que o Summit é como um recife de corais, um ambiente cheio de vida, onde ideias diferentes convivem e crescem juntas.

Eu e minha equipe, inclusive, fomos aprovados para participar de outro Hackathon — o Autismo Tech 2025, voltado ao desenvolvimento de soluções para pessoas com autismo. É mais uma oportunidade de unir tecnologia e impacto social, criando ferramentas que realmente transformem vidas.

OP - O turismo é uma das principais forças econômicas do Estado. Como a tecnologia pode potencializar esse setor?

Botto - A tecnologia facilita o acesso à informação e ajuda o empreendedor a entender o que o turista quer. Na nossa plataforma, por exemplo, o visitante pode avaliar a experiência, e o empresário recebe esse retorno em tempo real. Isso é ouro para quem quer melhorar o serviço e fidelizar o cliente.

OP - De que forma o turismo inteligente pode gerar desenvolvimento local?

Botto - Com informação e estratégia. Quando um empreendedor entende onde investir, ele melhora o serviço e cria oportunidades. Existem estudos mostrando que abrir um cinema perto de um teatro, por exemplo, aumenta o público dos dois. O turismo inteligente faz isso, cruza dados e cria sinergias que movimentam a economia.

OP - O Ceará tem conseguido se posicionar bem nessa transformação digital voltada ao turismo?

Botto - Sim, temos avançado muito, mas ainda precisamos olhar mais para o interior. Durante o projeto, descobri uma “Hollywood cearense” em Forquilha, onde já foram gravados mais de 30 filmes. Quase ninguém sabe! O Ceará tem serra, sertão e mar, além de um povo acolhedor. Essa diversidade é o nosso maior ativo.

OP - Você também trabalha com neurociência e PNL. Como isso se conecta à tecnologia?

Botto - As duas áreas ajudam a entender o comportamento humano. Quando você sabe o que motiva as pessoas, consegue oferecer experiências mais atrativas. No turismo, isso é essencial, quanto mais sentidos são estimulados, mais memorável é a experiência. A IA entra como aliada, identificando padrões e ajudando o empreendedor a personalizar a oferta.

OP - Sobre o medo de que a inteligência artificial tire empregos, o que você pensa disso?

Botto - A IA não vai substituir pessoas, vai substituir processos. O profissional que oferece criatividade, empatia e estratégia sempre será necessário. Por isso, quem hoje executa apenas tarefas repetitivas precisa aprender a usar essas ferramentas para se tornar melhor.

Inclusive, estou lançando agora em novembro um e-book para ensinar qualquer pessoa, mesmo sem saber programar, a usar IA para o próprio desenvolvimento profissional.

OP - E o que o Hackathon e o Ceará Tech Summit ensinaram sobre o futuro da inovação no Nordeste?

Botto - Que o potencial é enorme. O Nordeste tem talentos incríveis e desafios reais. Quando damos espaço para as pessoas criarem, surgem soluções que transformam cidades, empresas e vidas.

OP - Para encerrar, qual mensagem você deixaria para quem quer inovar?

Botto - Que inovação não é sobre ter ideias, mas sobre fazer acontecer. E que o autoconhecimento é a base de tudo. A inteligência artificial é uma aliada, uma ferramenta para quem quer evoluir, profissional e pessoalmente.

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