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Feiras a tradição, o negócio e a conversa
Economia

Feiras a tradição, o negócio e a conversa

| ECONOMIA | Cada dia da semana, em um bairro diferente, as feiras livres de frutas e verduras persistem como comércio forte na área de hortifruti
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FORTALEZA,CE,BRASIL,31.01.2019: Como a feira livre do bairro de Fátima se sustenta sendo ainda o local de compra de muitos Fortalezenses. (fotos: Tatiana Fortes/ O POVO) (Foto: Tatiana Fortes)
Foto: Tatiana Fortes FORTALEZA,CE,BRASIL,31.01.2019: Como a feira livre do bairro de Fátima se sustenta sendo ainda o local de compra de muitos Fortalezenses. (fotos: Tatiana Fortes/ O POVO)

"Antes eu pensava que feira livre era só porque vendia barato, mas não é. É porque a feira é livre mesmo, não tem porta de saída e nem de entrada". Essa é a lição de quem trabalha há mais de 50 anos em feiras livres pelos bairros de Fortaleza. Todos os dias, às cinco horas da manhã, seu Manoel Alves da Rocha, 74, vai a uma feira diferente preparar os produtos. Quando era dono de barraca, a saga se iniciava ainda mais cedo. Enquanto debulhava o feijão que saía fresquinho da baja, ele explicava que a negociação nesses locais é feita de muitos elementos.

Além do frescor dos produtos, variedade, preço baixo e capacidade de negociação, a sociabilidade é outro fator definidor daquele ambiente. Todos os dias, por volta das duas da madrugada, os feirantes chegam à Ceasa em busca de novos produtos. Geralmente a partir das 6h30min as bancas já estão supercoloridas com pimentões, tomates, batatas e cenouras.

Mais que expor, o processo de venda nas feiras depende um tanto da sedução. Há algo de sinestésico na compra. Provar a manga cortada na hora, apalpar os limões e sentir a casca mais lisa, o perfume do cheiro-verde.

Raquel Carvalho, 31, cirurgiã dentista, é presença confirmada todas as quartas-feiras no Bairro de Fátima. Na esquina das ruas Dom Sebastião Leme com Carlos Ribeiro, as bancas ocupam os dois lados da via e os feirantes já a conhecem. "Eu sempre venho aqui porque acho os produtos mais frescos. Como tem esse hábito de trazer da Ceasa sempre, eles já fazem essa pré-seleção da qualidade", avalia.

Conforme ela, o preço final também é mais em conta, apesar de haver fixação de valores em alguns itens. "No supermercado eu compro o tomate a R$ 7,98 o quilo. Aqui, eu consigo comprar a R$ 4. Mas, às vezes, há ofertas no supermercado em que a cebola chega a R$ 1 o quilo, e aqui continua R$ 4", pondera.

Ver dona Margarida Reis passeando na feira com a sacolinha debaixo do braço também é sinal de saúde. "Só deixo de vir se tiver doente". Enquanto pechinchava o preço da espiga de milho, ela contou ao O POVO que não revelaria a idade, mas deixou escapar que os anos vividos são muitos. Os amigos feirantes especulam que já passa dos 80.

Por falar em pechincha, seu Manoel diz que essa é justamente outra das vantagens neste tipo de comércio. "É que supermercado ninguém sabe nem quem é o dono. Aqui, se quiser brigar com o feirante você briga", sorri.

Além dos hortifrutis mais consumidos, muitas pessoas também frequentam os estabelecimentos para encontrar produtos regionais. Todas as quintas-feiras é o dia da feira do Mucuripe. No local, as bancadas resguardavam também murici, sapoti e tamarindo. Com venda herdada da mãe, Maísa Barbosa, 47, escolheu comercializar produtos característicos da terra como o queijo coalho, a paçoca e a carne de sol.

Além de decorar a barraca com toalhas quadriculadas, ela aposta na excelência do atendimento com o uso de aventais e máquina de cartão de crédito. Uma das únicas a fazer este tipo de venda no local. "Se todos os feirantes aceitassem, atrairia muito mais gente", aposta.

João Lima é cozinheiro, trabalha como articulador de gastronomia e também é presença garantida em feiras pela Cidade. Conforme ele, a tradição é o principal atrativo. "Na feira a gente consegue valorizar a origem real do produto".

Conforme ele, além do processo de negociação, a ida à feira é um resgate da cultura alimentar de um povo. "Você tem a oportunidade de conversar com o feirante, de aprender uma dica ou outra de como faz aquele determinado produto, se um feijão está bom pra cozinhar, se coloca só maxixe ou se o quiabo vai junto. Então, para mim, a feira não é só comprar o produto. É entender um contexto da realidade do nosso campo e do nosso povo".

FEIRAS LIVRES EM FORTALEZA POR REGIONAIS

Regional Centro

Onde: Praça Visconde de Pelotas - Centro.

Quando: todas as sextas-feiras, das 6h às 12h.

Regional I

Carlito Pamplona

Onde: Rua Irineu de Sousa com Rua Tomaz Gonzaga

Quando: todas as segunda-feiras, das 7h às 14h.

Conjunto Polar

Onde: Rua Menezes de Oliveira

Quando: todas as terças-feiras, das 7h às 14h.

Jardim Iracema

Onde: Avenida Major Assis com Rua Alberto Ferreira

Quando e horários: todas as terças-feiras, das 7h às 14h.

Álvaro Weyne

Onde: Avenida Teodomiro de Castro

Quando: todas as quintas-feiras, das 7h às 14h.

Goiabeiras

Onde: Avenida Senador Robert Kennedy

Quando: todos os sábados, das 7h às 14h.

Cristo Redentor

Onde: Rua Santa Elisa com Rua Santa Inês

Quando: todos os domingos, das 7h às 14h.

Jardim Iracema

Onde: Rua Arakém, entre as ruas Astrogildo Fontoura e Florêncio de Alencar

Quando: todos os domingo, das 7h às 14h.

Monte Castelo

Onde: Avenida Sargento Hermínio (pólo da Sargento Hermínio)

Quando: todos os domingos, das 7h às 14h

Regional II

Vicente Pinzón

Onde: Avenida Dolor Barreira, entre as ruas Veneza e Álvaro Costa

Quando: todos os domingos pela manhã.

Vicente Pinzón

Onde: Avenida Dos Jangadeiros, entre as ruas Francisco Alves Pereira e São Bernardo do Campo

Quando: todas as segundas e quartas-feiras pela manhã.

Vicente Pinzón

Onde: Rua Samambaia, na Praça Central

Quando: todas as terças-feiras pela manhã.

Praia do Futuro

Onde: Rua Edmundo Falcão, esquina com a rua Ipaumirim

Quando: todas as segundas-feiras pela manhã.

Praia do Futuro

Local: Ruas Murilo da Silveira e Pintor Antônio Bandeira

Data e horário: todos os sábados pela manhã.

Praia do Futuro

Onde: Rua José Cláudio G. C. Lima, entre a avenida Dioguinho e a rua Zezé Diogo

Quando: todas as sextas-feiras pela manhã.

Cais do Porto/Serviluz

Onde: Travessa General Murilo Borges, entre as ruas Murilo Borges e Zezé Diogo, na Praça Central

Quando: todas as terças-feiras pela manhã.

Mucuripe

Onde: Rua Senador Machado (Praça da Igreja Nossa Senhora da Saúde)

Quando: todas as quintas-feiras pela manhã.

Cidade 2000

Onde: Avenida Central Leste (Praça Principal)

Quando: todos os dias pela manhã (Feira Livre) e à noite (feira gastronômica).

Papicu

Local: Rua Júlio Azevedo, entre as ruas André Dallolio e Ramos Botelho)

Quando: todos os sábados pela manhã.

Regional III

Henrique Jorge

Onde: Rua Professor Paulo Lopes com Aldísio Pinheiro

Quando: todas as segundas-feiras pela manhã.

Henrique Jorge

Onde: Avenida Porto Velho com Aldísio Pinheiro

Quando: todas as quintas-feiras pela manhã.

Rodolfo Teófilo

Onde: Rua Frei Marcelino Gustavo Braga

Quando: todas as terças-feiras pela manhã.

Quintino Cunha

Onde: Avenida Mozart de Lucena com rua Jangadinha

Quando: todas as terças-feiras pela manhã.

Quintino Cunha

Onde: Avenida da Independência com rua Mozart Lucena

Quando: todas as sextas-feiras pela manhã.

Pici

Onde: Rua Alagoas com Tenente Lauro

Quando: todas as quartas-feiras pela manhã.

Pici

Onde: Rua Tupi com Renata Viana

Quando: todas as sextas-feiras pela manhã.

Parque Rio Branco

Onde: Rua Banvar Bezerracom Coronel General Gois Monteiro

Quando: todas as quartas-feiras pela manhã.

João XXIII

Onde: Rua Tupi com Boa Vista

Quando: todas as quintas-feiras pela manhã.

Autran Nunes

Onde: Rua da Felicidade com Hipólito Pamplona

Quando: todas as sextas-feiras pela manhã.

Bonsucesso

Onde Rua Carlos Lamarca (entre Carlos Chagas e Vital Brasil)

Quando: todos os sábados pela manhã.

Antônio Bezerra

Onde: Rua Vale Costa com José Leite Gondim

Quando: todos os domingos pela manhã.

Regional IV

Vila União

Onde: Rua Alberto Montezuma com Helvércio Monte

Quando: todas as terças-feiras pela manhã.

Bairro de Fátima

Onde: Rua Carlos Ribeiro com rua Dom Sebastião Leme

Quando: todas as quartas-feiras pela manhã.

Demócrito Rocha

Onde: Rua Minas Gerais, Sergipe e Rio Grande Do Norte

Quando: todas as quartas-feiras pela manhã.

Serrinha

Onde: Rua Freire Alemão com rua Montevideu

Quando: todas as sextas-feiras pela manhã.

Itaoca

Onde: Colombo Entre Vila Lobos e Livino de Carvalho

Quando: todos os sábados pela manhã.

Gentilândia

Onde: Rua Paulino Nogueira com Marechal Deodoro

Quando: todos os sábados pela manhã.

Jardim América

Onde: Rua Aquiraz entre rua Costa Mendes

Quando: todos as quartas-feiras pela manhã.

Regional V

Genibaú

Onde: Rua 24 de outubro

Quando: todos os domingos, das 7h às 13h.

Planalto Aiton Senna

Onde: Rua Quixadá (próximo ao Mercantil Central)

Quando: todos os sábados e domingos, das 7h às 13h.

Parque Santo Amaro

Onde: Rua NE-9, esquina com avenida Urucutuba

Quando: todos domingos e terças-feiras, das 7h às 13h.

Parque Santa Cecília

Onde Avenida Virgílio Nogueira

Quando: todas as segundas-feiras, das 7h às 13h.

Aracapé

Onde: Avenida C com Avenida Miguel Aragão

Quando: todas as terças-feiras, das 7h às 13h.

Canindezinho

Onde: Avenida Jardim Fluminense com Av. Osório de Paiva

Quando: todas as quartas-feiras, das 7h às 13h.

Granja Portugal

Onde: Rua Antônio Nery com rua Emilio de Menezes

Quando: todas as quintas-feiras, das 7h às 13h.

Parque Santa Rosa

Onde: Rua Raimundo Aristides com rua Professor Cabral

Quando: todas as sextas-feiras, das 7h às 13h.

Conjunto Palmares

Onde: Rua Xavier da Silveira com rua Sargento João Pinheiro

Quando: todas as sextas-feiras, das 7h às 13h.

Vila Manoel Sátiro

Onde: rua Cônego de Castro (ao lado do Campo do São Paulo)

Quando: todos os sábados, das 7h às 13h.

Maraponga

Onde: Rua 10 (Campo dos Ingleses)

Quando: todos os sábados, das 7h às 13h

Regional VI

Messejana

Onde: Rua Coronel Francisco Pereira com rua Joaquim Felício e Coronel Guilherme de Alencar

Quando: todos os domingos, de 5h às 13h.

Jangurussu/ São Cristóvão

Onde: avenida Castelo de Castro entre avenida Contorno Sul e avenida Perimetral

Quando: todos os sábados, de 5h às 13h.

Conjunto Palmeiras

Onde: Rua Canguru entre Rua Dalva de Oliveira e Avenida Valparaíso

Quando: todas as segundas-feiras, de 5h às 13h.

Dias Macêdo

Onde: Rua Boa Ventura entre Rua Bandeira de Melo e Rua Pedro Dantas

Quando: todas as terças-feiras, de 5h às 13h.

Barroso II

Onde: Rua Eldorado entre Rua Regina de Fatima e Avenida Padaria Espiritual

Quando: todas as terças-feiras, de 5h às 13h.

Conjunto Alvorada

Onde: Rua José Severiano entre rua Olegario Memória e rua Raquel Pestano

Quando: todas as quartas-feiras, de 5h às 13h.

Parque Dois Irmãos

Onde: Avenida Coletora Norte Sul entre rua B e Rua D

Quando: todas as quartas-feiras, de 5h às 13h.

Tancredo Neves

Onde: avenida Plácido Castelo entre rua Carmem Miranda e Rua Trapiá

Quando: todas as quintas-feiras, de 5h às 13h.

Aerolândia

Onde: Rua Capitão Gustavo entre BR 116 e rua Tenente Roma

Quando: todas as quintas-feiras, de 5h às 13h.

Parque Santa Maria

Onde: Rua Onorato Silva entre Coronel José de Moura e rua João Crispim

Quando: todas as sextas-feiras, de 5hs às 13h.

Edson Queiroz

Onde: Rua Luís Francisco Antônio entre rua Roberto Silva e rua Humaitá

Quando: todos os sábados, de 5h às 13h.

Jardim União

Onde: Rua 2 de Maio

Quando: todas as sextas-feiras, de 5h às 13h.

Paupina

Onde: Rua Monte Verde

Quando: todas as quartas-feiras, de 5h às 13h.

A movimentação das microeconomias

Depois dos supermercados, são os feirantes o segundo maior grupo comprador de hortifruti na Ceasa. Além da frequência assídua, são eles também os principais compradores dos produtos fabricados no Ceará. O que resulta em economia na hora de repassar ao consumidor.

De acordo com dados do histórico do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro deste ano, foram as frutas os produtos que mais resultaram na alta do preço da cesta básica naquele mês. A elevação foi de mais de 6% no País e de quase 10% na Capital.

Odálio Girão, analista de mercado da Ceasa, são os feirantes que costumam comprar produtos que geralmente não são adquiridos por supermercados, por não possuírem o padrão de cor e tamanho, mas que são bastante aceitos. É o caso de tipos diferentes de frutas e legumes como tomate cajá, mais alongado e com menos sementes.

Ele cita ainda o abacate, que o comerciante das feiras geralmente compra o fruto produzido no Ceará, um pouco menor, no entanto, mais barato. "É diferente do abacate comprado pelo supermercado que é mais robusto, que vem de Minas Gerais", diz.

"No começo do ano tivemos o impacto de preços elevados para alguns produtos, principalmente aqueles que entraram no período de entressafra, como banana, uva e abacaxi. É um salto na curva de nível de preço que reflete no consumidor. O feirante busca os produtos mais baratos e as ofertas para conseguir vender muito nos ajuda nessa cadeia de comercialização ao colocar os produtos no mercado de bairros e praças", explica Odálio.

O economista Alex Araújo ressalta a prioridade pela escolha de produtos da região e de produtos de época, o que garante aos feirantes a possibilidade deste repasse por preço menor. "São grupos que se especializaram em percorrer diferentes bairros e trazem essa alternativa para o consumidor, não só de produtos frescos, mas já pré-selecionados".

O Ceará tem alguns polos de produção como na região da Ibiapaba, no Maciço de Baturité, no Vale do Jaguaribe e até no Cariri, mas também há produtos de outros estados do Brasil, como o abacaxi e a laranja, por exemplo. A nutricionista Tanara Ferreira aponta que essa escolha por itens da época garante que frutas e verduras tenham menor quantidade de agrotóxicos, sabor mais apurado e, consequentemente, maior quantidade de vitaminas e antioxidantes.

A busca por produtos sem agrotóxicos é outra tendência apontada por Alex Araújo. Conforme ele, o mercado de feiras de frutas orgânicas também tem crescido bastante, como é o caso da feira que ocorre todas as terças-feiras no Mercado dos Pinhões.

 

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