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Longevidade e o novo olhar do mercado
Economia

Longevidade e o novo olhar do mercado

Em número crescente na população, idosos ditarão novas regras para o setor de bens e serviços e estarão mais presentes no mercado de trabalho
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Um Brasil com mais idosos acima de 60 anos do que crianças e adolescentes de até 14 anos, a partir de 2031, não configura apenas uma mudança na cara do País. A demanda por serviços e produtos em razão da crescente população sênior e a oferta maior de pessoas com 60 anos aptas ao mercado de trabalho devem modificar as tratativas de consumo e emprego. "Menos crianças e mais adultos idosos com muita atividade, disposição, planos de futuro e sendo responsáveis por 35% do consumo de bens de consumo e serviços nas famílias. Isso vai mudar tudo que se conhece e como o mercado se configura hoje", analisa Martin Henkel, diretor e fundador da SeniorLab.

As modificações no perfil do consumidor idoso já estão em curso, conforme mostra a pesquisa "Estilo de vida e Consumo da Terceira Idade 2018", da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). De acordo com o levantamento, 55,3% dos idosos afirmam serem os únicos responsáveis pela decisão de compra com sua renda, 40,6% deles levam em conta o bom atendimento na hora de comprar, e 51,6% têm dificuldade de encontrar produtos específicos para idade - o que demonstra autonomia e um maior nível de exigência.

Para José Vignoli, educador financeiro do SPC Brasil, as empresas ainda precisam perceber a força de consumo que essa parcela da população tem. "O País está envelhecendo e esse é um nicho muito interessante. Um exemplo é que o idoso reclama do segmento de vestuário, em que as roupas ou são muito para jovens, ou muito para idosas em uma concepção antiga. Encontrar essa fórmula vai resultar em sucesso, porque há uma camada da população que está mal servida nesse aspecto", observa. Ele indica que uma parte do mercado, principalmente as financiadoras, já está atentas para esse potencial e, muitas vezes, contribuem com o endividamento desse segmento da população.

A pesquisa aponta também que idosos estão cada vez mais conectados e fazendo planos de futuro, o que se relaciona diretamente com a sobrevida pós-aposentadoria. "Isso é importante porque mostra que há perspectiva, que são pessoas ativas, que participam da economia com suas experiências de várias situações, inclusive do mercado de trabalho", afirma Vignoli. 

Para os próximos anos, o educador financeiro vê o aprofundamento da tendência de que essa "faixa etária seja preenchida por pessoas que já vivenciaram na vida cotidiana sistemas de internet, de estilo de vida diferente, e estão mais antenados". 

Além da adequação de produtos, algumas profissões que busquem atender às necessidades da idade são valorizadas. Aconselhamento de profissão e de aposentadoria, cuidadores, especialistas médicos, e startups que pensem soluções para o envelhecimento se tornam oportunidades e podem virar tendência nos próximos anos.

Carlos André Uehara, médico geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), lembra que o número de idosos já ultrapassou o de crianças de até 5 anos e "hoje já tem mais avós do que netos no Brasil". "O grande desafio é mudar o estereótipo do idoso no País, o idoso não pode ser visto como um velho inútil, incapaz. A gente tem de olhar e ver que, sim, é uma pessoa que pode e deve estar nos locais de trabalho, fazendo outras atividades, e que tem um papel importante na sociedade, que é de ser o portador das histórias, com sua experiência de vida, que pode contribuir para o crescimento da economia", acrescenta.

 

Profissões que se valorizam

Consultor de longevidade

Será necessário aprender a lidar com essa existência prolongada sem perder saúde, produtividade e alegria. De acordo com a empresa de consultoria Michael Page, deverá haver uma intensa demanda por consultores de longevidade, isto é, especialistas em técnicas, projetos e serviços para tornar a terceira idade mais saudável.

Médico geriatra

O Brasil tem hoje pouco mais de 2 mil médicos geriatras atendendo no Sistema Único de Saúde (SUS). Com o aumento da demanda de atendimento, é preciso formar mais profissionais especializados.

Gerontólogo

Profissional que tem o olhar sobre todos os outros aspectos do envelhecimento distintos da medicina e estuda os processos associados à idade, ao envelhecimento e à velhice, sendo uma área de convergência entre a biologia, sociologia e a psicologia do envelhecimento.

Educador físico sênior

Mais importante do que a aparência física, a funcionalidade corporal e a manutenção da massa muscular, vitais ao bem-estar, equilíbrio e independência do idoso. Para isso, exercícios e treinos apropriados são necessários.

Arquitetos especialistas em gerontologia

Tornar os ambientes internos e externos seguros, funcionais e agradáveis aos idosos já é uma preocupação de profissionais. Na Casa Cor de São Paulo, a arquiteta Flávia Ranieri apresentou o projeto Estúdio Longevidade, um ambiente domiciliar completo e totalmente pensado para o idoso viver bem, com conforto e segurança.

Geronto design

Compreender as questões naturais do envelhecimento e aplicá-las ao design de objetos, produtos, embalagens e visual será decisivo para marcas e produtos não se afastarem deste consumidor, garantindo adequação, funcionalidade, segurança e conforto de equipamentos, aparelhos dispositivos e tudo o que possa ser utilizado por pessoas com 60 anos ou mais.

Cuidador de idosos

O aumento da longevidade compreenderá também um período maior de semi-dependência e dependência total. A vida moderna e as famílias cada vez menores diminuem a quantidade de filhos ou netos à disposição de cuidar de um familiar idoso. Segundo estudo da SeniorLab, 95% dos idosos no Brasil que estão sob acompanhamento, cuidado ou acamados têm como cuidador um ente familiar que, em sua maioria, são filhas

Concierge 60

O efeito do aumento da longevidade com independência tem causado um fenômeno que foi batizado nos Estados Unidos de Aging in Place (envelhecer no lugar, no lar) e que mantém as pessoas por mais tempo nas suas casas. Serviços de organização de um armário, realocação de móveis ou até troca da mobília exige uma ajudinha, e entra aí o concierge.

Terapeuta ocupacional

Um dos olhares deste profissional diz respeito à segurança doméstica do idoso. Avaliar se a casa é segura e propor ajustes e alterações simples na sua estrutura como pisos anti-derrapantes no banheiro, maçanetas adequadas, tapetes que não ofereçam risco e muitos outros aspectos que ajudarão a tornar a casa um ambiente seguro.

Lojas de produtos especializados

É natural que com o envelhecimento sejam necessários equipamentos de apoio domésticos como barras, adaptadores para armários e gavetas, equipamentos auxiliares de marcha como bengalas e andadores e, em algum momento, cadeiras de rodas e de banho. A demanda por esses produtos e orientação de uso já está crescendo e irá acelerar nos próximos anos.

Recolocação e orientação

O mercado de trabalho preconceituoso no passado com os profissionais com 50 anos ou mais começa a perceber a riqueza de conhecimento, experiência profissional, capacidade de relacionamento intergeracional que fazem dos seniores muito capacitados para relações interpessoais onde a empatia com o cliente é fundamental.

Startups com foco nos 60

Muitas jovens empresas começam a descobrir este filão. De aplicativos de transporte que disponibilizam motoristas treinados para, além de dirigir, acompanhar o idoso da porta de casa à porta do consultório. A Aging2.0, por exemplo, é uma organização mundial de fomento, promoção e desenvolvimento de startups e negócios voltados aos seniores.

Fonte: SeniorLab

 

Frase

"O grande desafio é mudar o estereótipo do idoso no País, o idoso não pode ser visto como um velho inútil, incapaz. A gente tem de olhar e ver que, sim, é uma pessoa que pode e deve estar nos locais de trabalho, fazendo outras atividades, e que tem um papel importante na sociedade, que é de ser o portador das histórias, com sua experiência de vida, que pode contribuir para o crescimento da economia"

Carlos André Uehara, médico geriatra e presidente da SBGG

 

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