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Desastre ambiental: pelo menos 160 toneladas de petróleo foram retiradas em dois estados do Nordeste
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Desastre ambiental: pelo menos 160 toneladas de petróleo foram retiradas em dois estados do Nordeste

Situação é mais grave do que o governo federal reconhece. Somente em Sergipe, até ontem, 158 toneladas foram recolhidas
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BARRIL DE ÓLEO encontrado na Barra dos Coqueiros, praia de Sergipe (Foto: Marcos Rodrigues / Secom Sergipe)
Foto: Marcos Rodrigues / Secom Sergipe BARRIL DE ÓLEO encontrado na Barra dos Coqueiros, praia de Sergipe

O desastre ambiental que atinge o litoral do Nordeste do Brasil já é uma catástrofe sem precedentes. Pelo menos 160 toneladas de petróleo cru foram recolhidas em apenas dois estados afetados pela mancha negra que se desloca há mais de um mês pela costa nordestina.

O POVO teve acesso a documentos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do governo de Sergipe que mostram a gravidade do problema e o desespero de órgãos como Ibama e Petrobras para dar conta de tanto petróleo cru derramado na "Amazônia Azul". Expressão usada pela Marinha do Brasil para definir o território brasileiro nas águas do oceano Atlântico.

Em Sergipe, o estado mais afetado pela presença do "óleo órfão", o governador Belivaldo Chagas (PSD) decretou situação de emergência na faixa litorânea do Estado "afetada por derramamento de produtos químicos em ambiente marinho".

As manchas começaram a aparecer a partir do dia 30/8, na Paraíba. Mas só no dia 2/9 é que o Ibama reconheceu publicamente o problema. Segundo um laudo da Petrobras, o petróleo cru não seria produzido por suas plataformas ou transportado por navios de bandeira brasileira.

Ontem, o ministro Ricardo Sales, do Meio Ambiente, foi a Sergipe para vistoriar o tamanho do problema que atinge 132 praias dos nove estados do Nordeste. Em sua conta no Twitter, ele postou que "mais de 100 toneladas de borra de petróleo" tinham sido recolhidas "nos 42 municípios atingidos".

Segundo o site do Ibama, 61 municípios nordestinos mais parte do rio São Francisco, em Alagoas, foram contaminados pela substância tóxica que atingiu habitats marinhos e as praias.

Um documento, que O POVO teve acesso com exclusividade, revela que entre os dias 12 e 15 do mês passado, foram recolhidas duas toneladas de "resíduo oleoso" do Rio Grande do Norte. Uma força tarefa, composta principalmente por funcionários do Centro de Defesa Ambiental (CDA) da Petrobras, atuou nas praias de Tabatinga do Sul, Búzios, Camurupim e Pirambúzios.

O CDA recolheu petróleo cru nas praias e rochas. Segundo o relatório, no estuário da foz do rio Pirangi (RN) foi encontrado óleo, "mas não havia condição para lançamento de contenção ou de embarcações" para a coleta.

Curiosamente, apesar da grave situação no Rio Grande do Norte, um ofício do Ibama do dia 16/9 (748/2019/Dipro) desmobilizou a equipe do CDA. Segundo avaliação do órgão ambiental, que havia se reunido com a Petrobras no dia 15/9, "o trabalho realizado pela equipe de 13 pessoas, apesar da qualidade, dedicação e esforço do CDA", não era "efetivo".

O POVO apurou que a decisão do Ibama, na verdade, foi tomada para um socorro de urgência em Sergipe na última semana. A equipe do Rio Grande do Norte e outra da Bahia, estado que teve os primeiros registros de óleo na última quinta-feira, foram para lá.

Em Sergipe, segundo O POVO apurou, até ontem tratores recolheram 168 toneladas das praias, sendo estimado que 10 toneladas sejam de areia e o restante, petróleo cru. O trabalho é feito pelas máquinas por causa da grande quantidade de poças.

Socorro só foi acionado 12 dias depois do primeiro alerta sobre óleo nas praias do Nordeste

O primeiro pedido de socorro disparado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) só foi disparado 12 dias após a primeira notícia de que o litoral do Nordeste estava sendo afetado por um desastre ambiental. O primeiro registro do aparecimento de petróleo cru nas praias nordestinas é de 30/8, na costa da Paraíba.

O ofício 737/2019/Dipro, de 11/9/2019, dirigido à Petrobras, pede que a empresa "apoie na resposta à ocorrência em estados do Nordeste". Naquele momento, o Ibama pedia presença do Centro de Defesa Ambiental (CDA) em Alagoas, Rio Grande do Norte, Pernambuco e no Ceará.

Em função da grande área afetada na costa do Nordeste, até ali apenas a Bahia não havia registrado a contaminação do petróleo do cru, a Petrobras elegeu os pontos mais críticos. O Rio Grande do Norte, estado com o maior número de praias atingidas, encabeçava o esforço. Naquele momento eram nove: Baia Formosa, Canguretama, Tibau do Sul, Nísia Floresta, Parnamirim, Natal, Extremoz, Ceará Mirim e Maxaraguape.

Em Alagoas, a Petrobras foi recolher resíduos em São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras, Japaratinga e Maragogi, em Alagoas. Em Pernambuco, atuou de início em São José das Coroas Grandes. E no Ceará, em praias entre Fortaleza e o município de Aquiraz.

Segundo a última atualização do site do Ibama, feita ontem, 7, pelo menos 15 tartarugas encalharam no litoral do Nordeste entre setembro e este mês, além de uma ave oleada que morreu na praia do Cumbuco, no Ceará.

Ceará

Equipes da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) recolheram meia tonelada de petróleo cru entre os dias 28/9 e 29/9 no Ceará. Noves praias foram foram inspecionadas por 55 funcionários da Semace

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