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Apesar do óleo em praias, movimento em barracas e hotéis não cai, dizem empresários
Economia

Apesar do óleo em praias, movimento em barracas e hotéis não cai, dizem empresários

Os relatos são de que ainda não houve contaminação de pescados, mas o óleo já chegou a várias praias do Estado
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VOLUNTÁRIO recolhe óleo da praia de Pontal de Maceió, em Fortim, no Litoral Leste do Estado (Foto: AURéLIO ALVES)
Foto: AURéLIO ALVES VOLUNTÁRIO recolhe óleo da praia de Pontal de Maceió, em Fortim, no Litoral Leste do Estado

As manchas de óleo que têm surgido nas praias do litoral do Nordeste ainda não afetam de forma mais significativa a economia cearense. Empresários ligados ao setor turístico alegam que o movimento tanto nas barracas, como nos hotéis e restaurantes não diminuiu. Ainda não há relatos de contaminação dos pescados comercializados no Estado. Mas o sinal de alerta está ligado.

Não sem razão. Embora ainda esteja longe da proporção em que o derramamento de óleo já atinge outros estados, como Sergipe, Bahia e Pernambuco, no Ceará, mais de 1.000 kg de óleo foram retirados das praias da Sabiaguaba, Prainha, Caponga, Aracati, Paracuru, Paraipaba, Canoa Quebrada, Barreiras, Praia das Fontes e Morro Branco, em mais de 20 mutirões de limpeza, segundo balanço divulgado ontem pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Semace).

E, ontem, peixes oleados foram encontrados mortos na faixa de praia de Icapuí, litoral leste cearense. Um motivo de grande aflição para Francisco Raimundo da Cruz, de 46 anos, pescador desde a infância, e que depende do mar para garantir o sustento da esposa e das duas filhas. "A gente veio perceber mais essa semana. E sente medo, porque o peixe engole as coisas que tem no mar".

Pelo sim, pelo não, ontem, por conta do óleo e da maré muito alta, os barcos ficaram ancorados. E os pescadores ajudaram a limpar a praia. Cena constatada pelo O POVO também em outras localidades próximas. Mas, o movimento nas barracas, restaurantes e nos locais de prática de kitesurfe não fugiu do usual. Apenas não se sabe até quando.

É na perspectiva de que uma solução há de vir antes de comprometer a produção e a renda das famílias que também vivem os pescadores da Colônia Z8, que atua da Barra do Ceará ao rio Pacoti. "Aqui em Fortaleza a gente ainda não tem nenhum comunicado de peixe contaminado. Mas é claro que preocupa, porque estamos falando da vida e da sobrevivência do pescador artesanal, do seu bem-estar, do seu lar e de sua família. E de toda uma rede de comércio que existe em torno disso", afirma o presidente da colônia, Possidônio Soares Filho.

A chamada economia do mar embora seja pouco significativa nos números gerais do PIB do Estado, pois mais de 76% da economia ainda é de serviços, ela tem crescido em importância ao longo dos anos.

De 2013 e 2017, por exemplo, alta de 23,5% na produção de aquacultura no Estado e de 164% na atividade portuária, segundo estudo divulgado no início deste ano pela consultoria PwC Portugal, em parceria com a Federação das Indústrias do Ceará (Fiec). 

Do ponto de vista mais macro, na cadeia de pescado, o Ceará tem se destacado na produção de lagosta, atum, tilápia e camarão. Mas, nem todas estão sob ameaça neste primeiro momento. A maior parte da produção de 35 mil toneladas/ano de camarão, por exemplo, vem de estuários, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Camarão no Ceará, Cristiano Maia. "É muito pouco o que vem do mar mesmo".

Em relação ao atum, somente da região de Itarema - Caraú são estimadas 500 toneladas por mês. "Não somos tão afetados por não ser área litorânea, mas preocupa um eventual avanço porque as embarcações, de todo modo, entram nos leitos dos rios. Mas, principalmente, quando se pensa nos pequenos produtores de outros tipos de peixe e marisqueiros que sobrevivem disso", lamenta Miguel Itiban, da Itiban Pescados.

A lagosta sim vem de muitas áreas apontadas como de eventual risco. Mas 80% da safra deste ano (junho a novembro) foi feita nos meses que antecederam as ocorrências de manchas de óleo no Estado. E da produção mais recente não houve relatos de contaminação, afirma Cadu Villaça, diretor técnico do Coletivo Nacional da Pesca e membro do Sindifrios Ceará. "E ainda é cedo dizer que houve sumiço de lagosta".

Ele ressalta ainda que uma das preocupações do setor tem sido a de esclarecer que, independentemente do desastre ambiental, toda produção dos frigoríficos passam por análises físico-químicas certificadas pelo Ministério da Agricultura. O que garante que nenhum alimento contaminado é comercializado. Hoje 95% do equivalente a 4 mil toneladas do produto vivo produzidas no Ceará é exportada para outros países. (Colaborou Ítalo Cosme)

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