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Após 90 anos, Crash da Bolsa de Valores de Nova York serve como base para mercados ainda hoje
Economia

Após 90 anos, Crash da Bolsa de Valores de Nova York serve como base para mercados ainda hoje

Maior do sistema capitalista, Crise de 1929 completou 90 décadas nessa quinta-feira, 24 de outubro, com ensinamentos a serem relembrados por mercados e governos atuais
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Grupo de homens desempregados em 1934 em Nova York (Foto: Wikimedia Commons / Reprodução)
Foto: Wikimedia Commons / Reprodução Grupo de homens desempregados em 1934 em Nova York

O excesso de produção e o mercado comprador reduzido foram os principais motivos que levaram a economia americana e mundial ao colapso, há 90 anos. Também em uma quinta-feira, 24 de outubro, a Bolsa de Valores de Nova York sofreu uma quebra em 1929, arrastando assim os Estados Unidos para a Grande Depressão dos anos 1930, período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945).

Professor da Universidade 7 de Setembro (Uni7), o economista Ricardo Coimbra explica que o Crash da Bolsa foi uma crise ocasionada pela superprodução. Após a Primeira Guerra Mundial, os americanos serviram como base para empréstimos e importações aos países europeus, devastados pelo conflito que matou mais de 18 milhões de pessoas, entre militares e civis, só no antigo continente.

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Depois de recuperados, porém, o ritmo das transações financeiras entre europeus e americanos diminuiu, ao contrário da produção desses últimos, que continuou a subir. Com as vendas reduzidas, as fábricas dos EUA começaram a demitir funcionários e a diminuir os preços de seus produtos, o que afetou diretamente a confiança dos investidores da época. “Houve um excesso de produtos no mercado consumidor, que não soube absolvê-los”, evidencia Coimbra, mestre em Economia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Os investidores da época, percebendo que não teriam mais retorno com suas aplicações, passaram então a se desfazer de suas ações. O movimento de venda de ações foi tão grande que superou o volume de compras, fazendo assim com que seus preços despencassem. A famosa “lei da oferta e demanda” vigorou naquele momento, levando os mercados financeiros ao pânico em 24 de outubro de 1929, dia que ficou conhecido como a “Quinta-feira negra”.

Somente naquele dia, mais de 12 milhões de ações foram colocadas à venda, inevitavelmente quebrando a economia americana em seguida. O “descontrole do mercado financeiro” de então, como indica o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) Alfredo Pessoa, havia apresentado condições favoráveis para a quebra da Bolsa de Nova. “O setor financeiro é necessário para financiar o setor produtivo, mas sem regulamentação a tarefa do desenvolvimento tende a ser mal feita”, critica o especialista.

Durante o pós-guerra, o clima de progresso no Estados Unidos tinha se intensificado. O pensamento da época, conhecida como os “Loucos anos 20”, era de que a tecnologia utilizada durante o conflito para matar e destruir os adversários seria voltada para o conforto e bem estar social. O american way of life (“estilo americano de vida”) que era o futuro almejado pelos cidadãos dos EUA ruiu após o crash. Altos níveis de desemprego, violência e até aumento do número de suicídios foram registrados no período.

Buscando recuperar a economia e melhorar as condições de seus cidadãos, o presidente americano Franklin Delano Roosevelt implementou a partir de 1933 uma série de medidas, conhecida como New Deal. Pesados investimentos em obras públicas; destruição de estoques agrícolas; controle sobre preço e estocagem para evitar nova superprodução; e diminuição da jornada de trabalho foram algumas dessas políticas, realizadas até 1937, mas que teve efeitos sentidos nos anos seguintes que antecederam a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Made with Flourish

Para Ricardo Coimbra, a experiência vivida que levou ao Crash de 29 deixou ensinamentos para governos e mercados até hoje. “Entre as lições que a quebra da Bolsa deixaram é a certeza de que uma economia 100% liberal é insustentável. O Estado tem de intervir na atividade econômica para reverter situações de crises. Essas condições são cíclicas, sempre retornam. Então quanto mais o Estado passar por uma crise e outra, mais condições terá de sair delas”, considera.

Ainda segundo ele, os mercados também aprenderam essas disposições, mesmo que ainda falem sobre a menor participação do Estado na economia. “Falam da menor participação, mas não da não participação. Essa atuação garante o equilíbrio do sistema”, pontua Coimbra, que é acompanhado por Alfredo Pessoa. “Ficou clara a necessidade do planejamento econômico, do controle sobre os capitais financeiros e do papel do Estado no desenvolvimento da economia”, discorre ele, que é do Departamento de Teoria Econômica da UFC.

Questionado sobre a importância desse marco da história ocidental e do porquê da sua frequente rememoração, Alfredo afirma: “Essa foi a primeira grande crise do capitalismo, sendo considerada a maior até então, que gerou desemprego, queda no fluxo de capitais, queda no comércio internacional e recessão. Por isso é importante estudar as causas da crise e suas alternativas de superação”.

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