O excesso de produção e o mercado comprador reduzido foram os principais motivos que levaram a economia americana e mundial ao colapso, há 90 anos. Também em uma quinta-feira, 24 de outubro, a Bolsa de Valores de Nova York sofreu uma quebra em 1929, arrastando assim os Estados Unidos para a Grande Depressão dos anos 1930, período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945).
Professor da Universidade 7 de Setembro (Uni7), o economista Ricardo Coimbra explica que o Crash da Bolsa foi uma crise ocasionada pela superprodução. Após a Primeira Guerra Mundial, os americanos serviram como base para empréstimos e importações aos países europeus, devastados pelo conflito que matou mais de 18 milhões de pessoas, entre militares e civis, só no antigo continente.
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Depois de recuperados, porém, o ritmo das transações financeiras entre europeus e americanos diminuiu, ao contrário da produção desses últimos, que continuou a subir. Com as vendas reduzidas, as fábricas dos EUA começaram a demitir funcionários e a diminuir os preços de seus produtos, o que afetou diretamente a confiança dos investidores da época. “Houve um excesso de produtos no mercado consumidor, que não soube absolvê-los”, evidencia Coimbra, mestre em Economia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Os investidores da época, percebendo que não teriam mais retorno com suas aplicações, passaram então a se desfazer de suas ações. O movimento de venda de ações foi tão grande que superou o volume de compras, fazendo assim com que seus preços despencassem. A famosa “lei da oferta e demanda” vigorou naquele momento, levando os mercados financeiros ao pânico em 24 de outubro de 1929, dia que ficou conhecido como a “Quinta-feira negra”.
Somente naquele dia, mais de 12 milhões de ações foram colocadas à venda, inevitavelmente quebrando a economia americana em seguida. O “descontrole do mercado financeiro” de então, como indica o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) Alfredo Pessoa, havia apresentado condições favoráveis para a quebra da Bolsa de Nova. “O setor financeiro é necessário para financiar o setor produtivo, mas sem regulamentação a tarefa do desenvolvimento tende a ser mal feita”, critica o especialista.
Durante o pós-guerra, o clima de progresso no Estados Unidos tinha se intensificado. O pensamento da época, conhecida como os “Loucos anos 20”, era de que a tecnologia utilizada durante o conflito para matar e destruir os adversários seria voltada para o conforto e bem estar social. O american way of life (“estilo americano de vida”) que era o futuro almejado pelos cidadãos dos EUA ruiu após o crash. Altos níveis de desemprego, violência e até aumento do número de suicídios foram registrados no período.
Buscando recuperar a economia e melhorar as condições de seus cidadãos, o presidente americano Franklin Delano Roosevelt implementou a partir de 1933 uma série de medidas, conhecida como New Deal. Pesados investimentos em obras públicas; destruição de estoques agrícolas; controle sobre preço e estocagem para evitar nova superprodução; e diminuição da jornada de trabalho foram algumas dessas políticas, realizadas até 1937, mas que teve efeitos sentidos nos anos seguintes que antecederam a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Para Ricardo Coimbra, a experiência vivida que levou ao Crash de 29 deixou ensinamentos para governos e mercados até hoje. “Entre as lições que a quebra da Bolsa deixaram é a certeza de que uma economia 100% liberal é insustentável. O Estado tem de intervir na atividade econômica para reverter situações de crises. Essas condições são cíclicas, sempre retornam. Então quanto mais o Estado passar por uma crise e outra, mais condições terá de sair delas”, considera.
Ainda segundo ele, os mercados também aprenderam essas disposições, mesmo que ainda falem sobre a menor participação do Estado na economia. “Falam da menor participação, mas não da não participação. Essa atuação garante o equilíbrio do sistema”, pontua Coimbra, que é acompanhado por Alfredo Pessoa. “Ficou clara a necessidade do planejamento econômico, do controle sobre os capitais financeiros e do papel do Estado no desenvolvimento da economia”, discorre ele, que é do Departamento de Teoria Econômica da UFC.
Questionado sobre a importância desse marco da história ocidental e do porquê da sua frequente rememoração, Alfredo afirma: “Essa foi a primeira grande crise do capitalismo, sendo considerada a maior até então, que gerou desemprego, queda no fluxo de capitais, queda no comércio internacional e recessão. Por isso é importante estudar as causas da crise e suas alternativas de superação”.