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Preço da carne dispara em Fortaleza e chega a alta média de 80%
Economia

Preço da carne dispara em Fortaleza e chega a alta média de 80%

Perspectiva é que os preços continuem em alta, já que o Brasil está mais atento às exportações
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Hora de comparar preços (Foto: FOTOS ALEX GOMES/Especial para O POVO)
Foto: FOTOS ALEX GOMES/Especial para O POVO Hora de comparar preços

Um aumento médio de 80% no preço do quilo das carnes chegou ao consumidor de Fortaleza. Clientes e funcionários de supermercados e frigoríficos consultados pelo O POVO na tarde de ontem já observavam a mudança. Em cortes nobres pesquisados, como o filé mignon, o aumento registrado em alguns estabelecimentos alcançou os 100%. A principal causa é a maior demanda no mercado externo, em especial a China. Supermercados e restaurantes devem repassar saldo total da alta aos consumidores nos próximos dias.

O analista de mercado das Centrais de Abastecimento do Ceará (Ceasa-CE), Odálio Girão, explica que o impacto maior recaiu sobre a carne bovina, que desde o início do ano já ficou 20% mais cara. Somente nas últimas semanas, a alta foi de 8%. Outras carnes, como a de frango e suína, tiveram acúmulo entre 7% e 11% desde o início do ano, respectivamente.

Ele explica que o Ceará não é um produtor de carne bovina que atenda à demanda do mercado local, já que há maior dedicação ao setor leiteiro. A proteína animal consumida no Estado vem de frigoríficos de Goiás, Tocantins e Pará.

"(A carne) Está chegando em quantidade menor. E como essa carne é cobiçada pelos países da Ásia, principalmente a China, aumenta o período de exportação, diminui a oferta no mercado nacional no período em que cresce o consumo entre os brasileiros por causa do período de fim de ano", analisa.

Engel Rocha é diretor de Patrimônio da Associação Cearense de Supermercados (Acesu) e afirma que alguns comércios vêm segurando os aumentos, até mesmo reduzindo a margem de lucro.

"Infelizmente, é insuportável trabalhar com a redução de margem, até porque supermercados já trabalham com uma margem bem reduzida. O aumento deve ser sentido até a próxima semana e já existe movimento dos consumidores na procura por frango e peixe", destaca. Segundo ele, o valor das aves de festa, como perus e chesters, chegarão ao mercado com valor agressivo.

Dorivan Rocha, presidente do Sindicato de Restaurantes,Bares, Barracas de praia, Buffets e Similares do Ceará (Sindirest), ressalta que os restaurantes já receberam reajuste de até 30% no valor da proteína animal no mercado. Ele justifica que isso será repassado ao consumidor pelo momento em que o setor atravessa.

Hoje os chineses respondem por metade da produção mundial de carne suína, além do consumo de 54 milhões de toneladas. Porém, desde agosto, o país enfrenta uma epidemia de peste suína africana, que dizimou 40% do plantel de quase 700 milhões de cabeças em um ano.

O economista e membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Vicente Férrer, diz que, por uma lógica de oportunidade de mercado, os frigoríficos brasileiros estão atendendo o mercado chinês, o que acaba desabastecendo o nacional. "É muito mais interessante exportar porque o negócio é feito em dólar - que está sendo cotado a valores recordes -, o que faz desse o momento das empresas faturarem", ressalta.

 

Feijão

Na Ceasa, o feijão de corda saltou de R$ 3 para R$ 4,50 o quilo, registrando um acréscimo de 50% no seu preço devido a colheitas reduzidas e queda na produção no Nordeste. "Isso porque o produto está vindo em pequena escala dos estados da Bahia, Pernambuco e do sul do Piauí," explica Odálio Girão, analista de mercado da Ceasa-CE.

 

FORTALEZA, CE, BRASIL, 26-11-2019 Ana Maria Evangelista, 51, técnica de enfermagem. Aumento do produto nos açougues da cidade. (Foto: Alex Gomes/Especial para O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 26-11-2019 Ana Maria Evangelista, 51, técnica de enfermagem. Aumento do produto nos açougues da cidade. (Foto: Alex Gomes/Especial para O POVO)

Surpresa

A técnica de enfermagem, Ana Maria Evangelista, 51, disse que foi pega de surpresa com os preços das carnes, que considerou muito altos. "Há 15 dias, comprei o quilo da alcatra neste mesmo lugar, e custava R$ 32. Agora já está de R$ 46,99. A outra que compro mais, que é o coxão mole, estava de R$ 29 e agora está de R$ 37. Como pode isso?", pergunta, dizendo que a família consome cerca de 3 kg de carne por semana. "Vou comprar a carne, porque a gente mistura o cardápio, colocando outras coisas. Mas vamos ter que pensar um jeito de diminuir o consumo, porque com esse preço não tem bolso que aguente no fim do mês. E olhe que eu pesquiso preços, aproveito o dia que tem o desconto maior no dia das carnes e também vou aos frigoríficos. Dá trabalho mas vale a pena", afirma.

 

Abertura de mercado

PESTE SUÍNA AFRICANA

A peste suína que prejudica o mercado chinês é a mais temida no planeta, cuja contaminação se espalha rapidamente por meio do trânsito de animais vivos (incluindo porcos selvagens), pessoas, carnes, rações e subprodutos da indústria. Não há risco para seres humanos, mas o vírus é letal e incurável no rebanho suíno.

OPORTUNIDADE

De acordo com relatório da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc), estima-se que a oferta doméstica chinesa deva cair cerca de 8,5 milhões de toneladas em 2019, o equivalente ao volume total de exportações do mundo nesse momento e a mais do que o dobro da produção total brasileira.

É neste momento que os empresários do mercado brasileiro enxergam oportunidade. Em momento em que as relações comerciais entre China e Brasil estão se estreitando - com mais 25 frigoríficos habilitados para exportar carnes bovina, de frango, de porco e de asinino para o mercado chinês somente em setembro.

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