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Brasil não avança na educação e continua entre piores no Pisa 2018
Economia

Brasil não avança na educação e continua entre piores no Pisa 2018

Avaliação é aplicada em 79 países para alunos de 15 anos, pais, professores e diretores. Brasil segue com desempenho ruim em leitura, ciência e matemática
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A fotografia da educação brasileira de jovens com 15 anos de idade é uma das piores entre os 79 países que participaram do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes 2018 (Pisa, na sigla em inglês). Conhecido em Paris nessa terça-feira, 3, o diagnóstico educacional mais importante do mundo apontou evolução discreta entre os brasileiros. Por isso, é importante utilizar uma lupa sobre os resultados para entender também os aspectos subjetivos apresentados.

Planejado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e realizado a cada triênio desde o ano 2000, o Pisa foi aplicado em 2018 durante duas horas para 11 mil estudantes brasileiros, em 638 escolas. Essa parcela representa mais de 2 milhões de alunos de 15 anos. Além das provas de conteúdo, o Programa também coletou informações, através de questionários online, sobre crenças, nível socioeconômicos, experiência no ambiente escolar e com a aprendizagem.

Os resultados apontaram que, aos 15 anos, 50% dos brasileiros não sabem sequer o básico da leitura. O desempenho piora quando 55% dos participantes não atingiram o patamar basilar em ciências e se agrava na avaliação em matemática, 68% também não alcançaram o nível mínimo. O México, por exemplo, de economia e população similar ao Brasil, teve resultados menos ruins: 45%, em leitura, 58% em matemática e 50% em ciência.

O Pisa revela ainda que a desigualdade educacional entre mais pobres e mais ricos cresceu no Brasil. Enquanto em 2008 a diferença era de 84 pontos, abaixo do média da (OCDE), ano passado a disparidade chegou a 97 escores. Em países com desempenhos melhores, como Estônia, Finlândia, Irlanda e Canadá, a disparidade é bem menor.

O alunado brasileiro mais rico apresentou resultados similares ao dos mais pobres de outras economias, como Estados Unidos, Austrália, Dinamarca, Noruega e Suécia, onde também a desigualdade socioeconômica é menor entre os indivíduos. Por outro lado, apenas 10% dos jovens brasileiros pobres performaram entre os dois melhores níveis.

Por trás dos dados educacionais, três em cada dez estudantes participantes revelaram sofrer bullying pelo menos alguma vez por mês. Frente a tudo isso está um jovem cada vez menos satisfeito com a vida. Em 2015, os brasileiros ficaram acima da média dos países da OCDE. Ano passado, a situação inverteu, 35% se disseram insatisfeitos com a vida enquanto a média foi de 38%.

Patricia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, aponta que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a depender de como seja implementada, será um dos auxílios à recuperação do País nas próximas avaliações. Para a especialista, é preciso ter foco no estudante e incentivar a formação continuada dos professores.

Mestre em Administração Pública pela Universidade de Massachusetts, Patrícia ainda destaca a desigualdade de gênero na avaliação. Ela cita o dado em que três meninos expressaram o desejo de ser engenheiro enquanto a proporção foi de uma para cada cinco meninas. "É preciso avaliar como a gente está discutindo o projeto de vida e expectativa do estudante, para não reproduzir estereótipo e excluir por conta de classe, raça ou gênero."

Diretor da Fundação Getúlio Vargas Social, Marcelo Neri traz a informação de que 47% da educação dos filhos é determinada pelo nível de educação dos pais. Para ele, é preciso romper com esse ciclo vicioso e uma das formas é investir em políticas educacionais, como o rateio de parte do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) como mecanismo de incentivo aos municípios, ampliação do Bolsa Família e o estímulo aos professores com premiação.

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Prova

Diretores responderam questões sobre recursos, organização e ambiente de aprendizado. A avaliação foi optativa aos professores. Os pais falaram sobre proximidade com o ambiente escolar.

 

O QUE MAIS DIZ O ESTUDO

MOBILIDADE SOCIAL

O Pisa lembra que a condição socioeconômica é um dos fatores que mais influenciam o desempenho escolar e destaca que a mobilidade social no Brasil também é uma das menores entre os países avaliados. O estudo calcula a chance de que um aluno pobre de estudar em um colégio com alto desempenho é de 13%. Os jovens pobres brasileiros estão entre os que têm menor expectativa de continuar os estudos.

INVESTIMENTO

Os países que têm melhor desempenho em Leitura são as que mais investem em educação. O resultado positivo seria possível, já que o gasto por aluno poderia compensar as dificuldades socioeconômicas da família. Macau, na China, por exemplo, tem o terceiro maior investimento por aluno, US$ 150 mil (R$ 630 mil) ao ano, e é o terceiro com maior nota em Leitura. O Brasil é um dos países com menor gasto por aluno, cerca de US$ 30 mil (R$ 126 mil) ao ano, atrás de países como Uruguai e Chile.

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