Com ascensão que contribuiu para transformar o Ceará em referência no mercado de confecção na década de 90, a avenida Monsenhor Tabosa passa por reconfiguração para se recuperar da crise financeira. Diversos fatores contribuíram para o declínio. Mudança no mercado e na experiência de compra; abertura de novos shoppings em Fortaleza; alto preço de aluguéis. A nova fórmula para um futuro de corredor comercial cheio requer diversificação e novos modelos de negócios, mas sem deixar de lado a histórica vocação da avenida e a localização privilegiada — ligando o Centro de Fortaleza à Praia de Iracema, próximo a polos turísticos e culturais, bem como elevada densidade populacional.
Com abertura de 40 novas lojas em 2019, o objetivo é aliar serviços, gastronomia e cultura aos comércios tradicionais de roupas de festa e moda praia. Atualmente, são 167 lojas abertas na avenida. Márcia Oliveira, presidente da Associação dos Lojistas da Monsenhor Tabosa (Almont) aponta os principais segmentos que estão chegando ao corredor.
"Duas casas de eventos, o Motolibre e a Arena Iracema, restaurantes, cafeterias, o supermercado Pinheiro, a Caixa Econômica, petshops, sexshops, barbearias, salões de beleza, sorveteria", elenca. Márcia, proprietária de loja no mercado há 40 anos, frisa o foco em trazer investidores da gastronomia, "que é o que o turista tá interessando". "Voltaram lojas de roupas de festas, a gente tinha muito forte moda praia, que continua. Calçados, confecções, lingeries", acrescenta.
Ela destaca a importância da divulgação sobre o corredor comercial, assim como a região "estar mais na rota do turismo" para a efetivação da reestruturação. "Estamos passando por um processo de mudança. O comércio mudou, a forma de comprar, a experiência dos clientes. A gente tinha problema de estacionamento. Temos três estacionamentos privados com manobristas no decorrer da avenida e temos a Zona Azul", diz.
Conforme Assis Cavalcante, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), a "desertificação" da região também foi influência de comércios informais na circunvizinhança, como a Feira da José Avelino. "É preciso uma proposta voltada para o turista. Tem que ter mais lojas de alimentação. Produtos souvenirs, bebidas locais, produtos locais, rapaduras, doces, artesanato, renda. Vai conseguir se recuperar com certeza, lá é uma zona altamente valorizada", avalia.
Para o economista Alex Araújo, o declínio foi provocado pela mudança no perfil do consumidor e é preciso levar em conta essa mudança de mercado para efetivar essa reconfiguração. "O que também provocou o declínio foi uma migração do público para renda baixa. A mudança nesse mercado gerou um impacto muito grande. O Ceará continua sendo referência de moda, mas de moda popular. Antes, as lojas exigiam maior valor agregado", relaciona. Ele salienta que é importante aproveitar a ligação Centro-Aldeota para novas atividades como lazer e entretenimento. Uma forma de potencializar uma via com "estrutura, padronização urbana e arborização pouco encontrada em outros pontos de Fortaleza."
A funcionária pública Maria de Jesus Farias, 59, era consumidora frequente da via há cerca de uma década e viu com bons olhos a chegada de um novo segmento, com a implantação de uma sede do supermercado Pinheiro na avenida. "Gostei de abertura pela comodidade. É mais perto da gente. Quando tinha maior comércio de roupas, eu frequentava mais. Eu acho que a demanda é de bares e restaurantes", diz a moradora do entorno.
Morador das proximidades da Monsenhor Tabosa há 20, José Albertino, 79, acha que o corredor comercial vai voltar a ter movimentação anterior. "É diversificar para voltar a ser como era antes", projeta.
A resiliência da tradição
Há 37 anos no mercado, a Trama, loja de confecções e roupas de festa, teve o seu faturamento reduzido pela metade entre os anos 2014 e 2018. A crise econômica bem como a implantação de shoppings em diferentes regiões da cidade são algumas das razões apontadas pela proprietária da loja, Isabel Marinho. "O Brasil afundou. A gente tinha dinheiro guardado. Não gastávamos tudo. É por esse estilo que a gente tá aqui até hoje", explica. A comodidade e facilidade de estacionamento dos shoppings foram decisivos para isso, ela aponta. Em 2019, ela observa uma pequena recuperação. Ela rememora que, há quase quatro décadas, uma das razões para a ascensão da Monsenhor Tabosa no comércio foi preços mais acessíveis para o varejo. Para Isabel, para acelerar o processo de recuperação comercial da região, são necessários projetos e editais para a via e a diversificação de serviços, com um olhar para o segmento do turismo. "Barzinhos, restaurantes, lojas com coisas de casa, de crianças, produtos para turistas como redes, castanhas", projeta.
Produção colaborativa
Para o processo de reconfiguração, é preciso "atualizar a memória" sobre a Monsenhor Tabosa. Para Tainan Fernandes, proprietária do Revival, brechó e loja colaborativa com cerca de 15 marcas, a escolha do local se deu pela localização central e de fácil acesso, além da vocação da região para os negócios. "A gente sabia que a avenida ainda está se recuperando desse declínio. Mas a gente acredita muito. Há uma memória afetiva de quando a gente era mais nova e vinha comprar aqui e a retomada da identidade do Fortalezense com a Praia de Iracema, os shows e novos empreendimentos que estão abrindo aqui", diz.
Junto a Pérola Castro e Soraia Castro, ela criou o negócio há um ano e meio. Com foco em marcas de mulheres, produção autoral e criação local, a clientela foi além do perfil esperado. Mirando no público jovem atraído pela internet, o empreendimento tem atingido também os moradores do entorno e turistas. "A gente começou com uma quantidade menor de roupas", relata.
Abrindo portas para novos segmentos
No fluxo de retomada da ascensão na região, no último mês de setembro foi inaugurada uma sede do supermercado Pinheiro, no mercado há 29 anos, na avenida. A implantação tem sido vista com bons olhos pelos moradores, trazendo novos ares e um novo segmento à via. “Era uma região bastante populosa com diversos públicos e classes sociais, com interesses diferentes, além de turistas. As pessoas tinham de se deslocar muito para fazer compras de supermercado. Com base em um estudo, nós decidimos investir lá”, explica Alexandre Pinheiro, diretor comercial e de marketing da rede de supermercados Pinheiro, que possui 13 lojas em sete municípios do Ceará. De acordo com ele, a expectativa inicial está sendo atendida. “O que o pessoal nos diz e observamos é que o Pinheiro enxergou e abriu espaço para uma revitalização da avenida. O governo e a prefeitura tem boas propostas, o comércio ao redor tem se aquecido. Tem diversos novos negócios, o movimento melhorou bastantes”, relata. A sede possui placas bilíngues para atender o público de turistas da região e foi a primeira da rede com caixas self checkouts (autoatendimento).
Raio X da região
229 lojas no local
Gera mais de 700 empregos diretos
Das lojas fechadas em torno de 30 % não estão disponíveis para locação
40 lojas abertas em 2019
Segmentos
Lojas de calçados, roupas de festa, lingerie, confecções masculina, feminina e infantil, moda praia. Além disso a Monsenhor Tabosa também conta com cafeterias, restaurantes, supermercado com serviço de restaurante, pet shop, salões de beleza, barbearias, sex shop, ótica, bijuterias e sorveterias.
Serviços
A avenida dispõe de uma agência da Caixa Econômica Federal e caixas 24 horas, estacionamento zona azul e estacionamento privado com manobrista. Todas as lojas e toda calçada da avenida com acessibilidade.