De janeiro a maio deste ano, pouco mais de 11,2 mil empresas fecharam as portas no Ceará. Os dados da Junta Comercial do Ceará (Jucec) mostram que, apesar de fortes medidas de restrição de funcionamento das atividades econômicas por conta da pandemia, iniciadas em março, este quantitativo é 16,15% menor do que em igual período do ano passado. O ritmo de abertura no período também caiu 6,37%, em relação a 2019.
Ainda assim, o saldo entre abertura e fechamento de empresas em 2020 ficou positivo em pouco mais de 20,5 mil. Ao todo, o Ceará tem hoje 608.299 negócios ativos. Destes, 31.749 se formalizaram nos primeiros cinco meses do ano.
"O balanço das atividades econômicas possibilita uma aproximação das demandas de mercado crescentes na região e mostram que, apesar da crise de saúde, ainda temos um grande número de empresas se formalizando. Ao comparar os dados do mesmo período do ano passado, verificamos que o comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios foi a atividade com maior número de MEIs (microempreendedores individuais) registrados", afirma a presidente da Jucec, Carolina Monteiro.
A desaceleração na trajetória de abertura fica mais acentuada na virada de março para abril, quando o número de formalizações cai de 7,2 mil por mês para 4,6 mil. Em maio, foram registrados 4,1 mil novos entrantes. Por outro lado, o pico de fechamento de empresas no Estado neste ano ocorreu em janeiro (3,1 mil). Em abril e maio as baixas foram, respectivamente, de 1,6 mil e 1,4 mil.
O consultor financeiro, Marcos Sá, acredita que esses números refletem a grave crise econômica que o Brasil está imerso nos últimos anos. "Estamos caminhando num cenário recessivo desde 2013, com diversos fatores que prejudicaram o desenvolvimento das empresas: pré-impeachment, impeachment, eleições, greve dos caminhoneiros e agora a pá de cal com os desdobramentos da pandemia na economia".
Ele pondera também que as baixas decorrentes das restrições impostas pelas políticas de isolamento ainda serão refletidas de forma mais precisa mais na frente. "Na prática, leva um tempo. Muitas empresas que fecham as portas da atividade não conseguem dar baixa de imediato na razão social".
Para o economista Vitor Leitão era esperado que o número de fechamentos fosse maior neste ano, por causa da pandemia, mas isso pode estar relacionado ao fato que as pessoas estão esperando ver o que vai acontecer. Na avaliação dele, medidas como as flexibilizações trabalhistas, de impostos e aumento no volume de crédito disponível têm contribuído para sobrevida de muitas empresas.
Os dados da Jucec mostram que o comportamento das empresas também varia de acordo com o tipo de atividade. Comércio foi o que menos abriu na comparação entre 2019/2020, mas também o que menos fechou. Em números absolutos, serviços quem mais ganhou empresas em 2020 (17,8 mil) e o que mais perdeu (5,8 mil).
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Microempreendedores individuais lideram abertura de empresas no Ceará
Das 31.749 empresas abertas neste ano no Ceará, 27,4 mil são enquadradas como de microempreendedores individuais (MEIs), cujo faturamento é de até R$ 81 mil anual. É também neste porte de enquadramento tributário o melhor saldo entre aberturas e fechamentos no Estado, com 20,3 mil negócios a mais.
Este resultado é muito influenciado pela atual conjuntura econômica de aumento do desemprego, explica o economista Vitor Leitão. "Muitas pessoas perderam o emprego ou tiveram uma queda brusca de renda e estão vendo na criação do seu próprio negócio, por mais difícil que seja, a oportunidade de recomeçar".
Por outro lado, as empresas do regime normal de tributação (aquelas que não têm limite de faturamento ou têm receita bruta anual acima de R$ 4,8 milhões) são as que estão em pior situação. Foram 444 empresas que encerraram as atividades entre janeiro e maio deste ano, ante 307 que abriram em igual período, resultando em um saldo negativo de 137 empresas.
Há um consenso entre os especialistas de que, do ponto de vista econômico, 2020 será considerado um ano perdido. E as empresas precisarão ajustar os seus modelos de negócios. "As empresas estão com um grande desafio de se reestruturar financeiramente. Há dificuldade para honrar folha de pagamento, fornecedores, e muitas sequer conseguem acessar o crédito", afirma o consultor financeiro, Marcos Sá.
Análise
A dica é a analisar bem o mercado de atuação em busca da ampliação das frentes de vendas e dos canais de operacionalização, além de uma forte adequação dos gastos ao que deve ser o novo patamar de faturamento.