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Pague Menos solicita registro de IPO para negociar na Bolsa
Economia

Pague Menos solicita registro de IPO para negociar na Bolsa

Expectativa da empresa é que processo para entrar no mercado de ações seja finalizado até agosto e captar cerca de R$ 1,5 bilhão. Momento é de grande liquidez no mercado
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Pague Menos testa projeto-piloto para transformar bandeira da Extrafarma. (Foto: divulgação )
Foto: divulgação Pague Menos testa projeto-piloto para transformar bandeira da Extrafarma.

A rede de farmácias Pague Menos anunciou que deu entrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ao pedido de registro de oferta pública inicial de ações (IPO na sigla em inglês). A decisão foi tomada após reunião de acionistas na quinta-feira, 26, e divulgada ontem. A companhia planeja esse movimento de mercado desde 2014.

A expectativa é finalizar os trâmites e negociar ações na Bolsa até agosto. A empresa ainda espera captar cerca de R$ 1,5 bilhão, valor que ainda deve ser definido após análise de comportamento do mercado. A oferta-base será 100% primária e o retorno financeiro deve ser investido em novas lojas.

Original de Fortaleza, a Pague Menos tem 20,5% de participação de mercado (share) no Nordeste, bem a frente do segundo colocado, mas o share nacional ainda é pequeno, de 5,7%. Com o anúncio do IPO, a empresa indica ao mercado o potencial de expansão.

"Os pedidos de registro do IPO e de listagem no Novo Mercado foram aprovados em Assembleia Geral Extraordinária da companhia realizada hoje (25 de junho de 2020)", diz a empresa em comunicado.

Para o economista e presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec-NE), Célio Fernando Melo, a Pague Menos deve ser beneficiada com o apetite do mercado de capitais. "Liquidez não falta no mercado de capitais mesmo neste momento".

Ele analisa que estão faltando papéis que ofereçam bons retornos no médio prazo e, por realizar ofertas públicas primárias, o mercado está atento às possibilidades. "É um bom momento para se colocar no mercado. Só o anúncio já gerou o ânimo. Agora a empresa precisa ver qual o tamanho da oferta que querem, o grau de ágio que possa ter. Também depende se a empresa vai abrir capital para fazer aquisições ou até buscar o mercado internacional".

A rede Pague Menos está presente em todos os estados do Brasil, com 1.124 lojas distribuídas em 327 municípios. O atual plano de expansão da companhia, que começou em 2018 e segue até 2022, prevê mais 1.600 unidades em 400 cidades.

Em meio às movimentações do pedido de registro para IPO, o Conselho de Administração da Pague Menos nomeou como nova presidente a executiva Patriciana Rodrigues, que ocupava anteriormente a Vice-Presidência Comercial.

Ênio Arêa Leão, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), ressalta que a empresa tem crescimento sólido há vários anos, é investida de um grande fundo de investimentos, a private equity General Atlantic, e agora dá o passo seguinte, que é a abertura de capital.

"É um passo importante para empresas que têm grande potencial de crescimento e precisam de recursos para isso. Com o desenvolvimento das nossas empresas, o Ceará cresce junto", complementa.

De acordo com o assessor de investimentos da M7 Investimentos, Thomaz Bianchi, o IPO da Pague Menos deve ser beneficiado pelo retorno do fluxo de estrangeiros ao mercado brasileiro. "A capitalização dá mais celeridade ao processo de crescimento da empresa. É uma forma de se financiar com um investimento barato através de investidores que não tem pressa, mas para o médio e longo. Isso injeta uma quantia importante no caixa", diz.

 

A rede

A primeira loja foi inaugurada em maio de 1981. A Pague Menos é uma das maiores redes de
farmácias do Brasil.

Adota um modelo de administração descentralizada, com 10 gerências de operações e 74 gerências regionais responsáveis por determinados estados ou regiões, permite atenção especial às necessidades das lojas e clientes em cada região. O padrão facilita também a identificação de oportunidades para a abertura de novos pontos.

São 1.124 lojas em 327 municípios dos 26 estados e Distrito Federal.

No primeiro trimestre, a rede inaugurou mais duas lojas, apresentando Receita Bruta com crescimento de 8,8% ante o mesmo período de 2019 e Ebtida de R$ 126 milhões.

 

Juliana Miranda, sócia da Acqua Investimentos
Juliana Miranda, sócia da Acqua Investimentos

Bate-pronto com Juliana Miranda, sócia da Acqua Investimentos

O POVO - Quais os desafios para o mercado de ações atualmente, em meio à pandemia de coronavírus?

JULIANA MIRANDA - Acreditamos que os ativos negociados em bolsa devam continuar se recuperando, apesar dos vários riscos continuarem iminentes na economia global, além de riscos políticos e a crise da saúde – caso haja uma segunda onda de pandemia. O consenso de mercado já projeta uma queda de 45% nos lucros por ação do Ibovespa em relação à 2019, e uma expectativa de recuperação de +100% em 2021. Em meio a esse cenário, um dos principais desafios será mostrar aos brasileiros, acostumados há anos com investimentos mais conservadores, a importância de uma educação financeira, para terem carteiras mais diversificadas e com maior prazo e risco, para a construção de um patrimônio.

OP - Como estão no mercado as expectativas para esse processo de retomada das
atividades econômicas?

JULIANA - Ainda não se tem clareza sobre como será a economia no cenário pós-isolamento. Vemos um processo de retomada lento e gradual, que pode ser retardado caso haja uma nova disparada do número de casos, o que poderia impactar também o retorno ao mercado de trabalho. Mesmo com sinalizações da reabertura de alguns estados, a suspensão de salários aliada às mudanças de hábito devem afetar diretamente o consumo e pesar no comércio ao longo dos próximos meses.

OP - A perspectiva do mercado financeiro e da Bolsa deve ser alterada no período
pós-pandemia?

JULIANA - Junto da pandemia veio a redução dos juros base nas economias do mundo. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central afirmou que avalia fazer uma nova redução “residual” da taxa de juros no Brasil. A atual previsão da XP é de corte de mais 0,25 ponto-base da Selic até o fim de 2020, que só voltaria a subir a partir do segundo semestre do ano que vem, chegando a 3% ao ano. Diante desse cenário de juros baixos, a rentabilidade dos investimentos de renda fixa torna-se de modo geral menos atrativa e a tendência é que haja, a médio e longo prazo, um fluxo de investidores posicionando suas carteiras em ativos na Bolsa, em busca de retornos maiores, em um mercado que flerta mais com o risco. Essa tendência já é refletida na Bolsa. Mesmo no meio a pandemia, a B3 já atingiu a marca de dois milhões de investidores. O importante ainda é a diversificação da carteira. Outros beneficiários da queda da taxa de juros são os inadimplentes – sejam eles pessoa física ou jurídica. Isso porque, geralmente, os juros das dívidas estão atrelados ou são influenciados pela Selic. Portanto, quando ela cai, a tendência é que esses juros também caiam. Além deles, o mercado imobiliário, já que o aumento da demanda pela busca de imóveis, principalmente por causa da queda no custo de financiamento, é o que puxa esse setor para cima no longo prazo, caso a Selic permaneça baixa. De forma geral, a renda fixa tem suas especificidades e consegue ofertar investimentos variados para qualquer tipo de perfil, desde aquele investidor que precisa de um porto seguro, aos mais arrojados, que tomam mais riscos para obter rentabilidades mais atrativas.

OP - Como observa esse movimento da Pague Menos de registrar IPO no atual
momento?

JULIANA - O crescimento da B3 no ano passado fez com que 18 IPOs fossem programados para 2020. A crise causada pelo coronavírus interrompeu a maioria dos processos. Porém, o segmento de farmácias foi incluído como serviço essencial, no período pandemia, e se tornou um dos poucos setores que não sofreu retração, notando até mesmo um aumento de vendas no período. Mesmo considerando o adiamento do reajuste dos preços dos remédios neste ano, previsto para 1º de abril e postergado em 60 dias, e ainda que as vendas se normalizem em um curto período de tempo, é possível esperar que este setor tenha uma excelente performance econômica em 2020, se comparado aos demais. As ações das redes de farmácia se desvalorizaram bem menos do que a maioria das ações da bolsa durante o momento de crise. Hoje, temos dois grupos do setor listados na Bolsa: RD (das marcas Droga Raia, Drogasil, Onofre e 4Bio) e Dimed (da rede Panvel, distribuidora de medicamentos Dimed e da Lifar, fabricante de medicamentos, cosméticos e alimentos). E ainda há espaço para empresas desse setor.

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