Os valores das passagens aéreas dispararam nas últimas semanas com a alta do dólar e o processo gradual de retomada do turismo no País. Os preços, que caíram em média 14% no Brasil, entre fevereiro e agosto, voltam próximo ao patamar pré-pandemia. De acordo com os dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), até agosto, os valores no Aeroporto de Fortaleza seguiram o ritmo nacional. A média para o mês ficou em R$ 331,13, salto de 17,97% ante período anterior. É um constante sobe e desce desde o início da pandemia, momento em que o setor praticamente parou.
Mesmo com a alta na Capital acima da média do Brasil, o patamar de preços ainda é menor do que antes da crise sanitária, já que em janeiro o valor médio era de R$ 393,30 e em fevereiro de R$ 422,60. O mesmo movimento acontece na média nacional, que fechou agosto com o bilhete médio custando R$ 324,77, ante os R$ 263,70 em julho. Em fevereiro, a média era de R$ 378,53.
Para o professor do Departamento de Engenharia Aeronáutica da Escola de Engenharia de São Carlos da USP (EESC-USP), James Waterhouse, é natural uma retomada no nível anterior à pandemia, na medida em que as atividades retornem. Mas a projeção é que os preços até superem a média inicial do ano.
Isso deve acontecer porque o setor sai dessa crise extremamente endividado por causa do longo período em que as aeronaves permaneceram paradas em pátios. Waterhouse destaca que a maior parte dos gastos na operação das companhias, desde o combustível até o leasing das aeronaves, é dolarizada. Apenas o custo com pessoal é pago em real, o que acaba agravando a situação.
"O endividamento dessas empresas aéreas é recorde, são dívidas enormes e bastante difíceis de rolar e amortizar, no fim uma parcela desse prejuízo está sendo repassado em parte nas passagens", analisa o professor da USP.
No índice de inflação mensal de outubro, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Fortaleza teve a maior alta, de 1,35%. Foram as passagens aéreas que tiveram o maior salto percentual, de 31,88% em um mês.
Muito influenciado pela variação do dólar, moeda que se valorou aproximadamente 40% durante a pandemia frente o real, o setor aéreo precisou repassar parte dessas altas ao consumidor final. De acordo com André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), por estar junto dos serviços de turismo, que foram praticamente impedidos de trabalhar, o setor foi amplamente impactado, com importante empresa, como a Latam, relatando dificuldades financeiras e demissões.
"Nesse aumento de preços todo notado no mês passado, tem a ver com o processo de retomada, com crescimento na procura dos passageiros a partir da lenta retomada do turismo. É bem provável que a gente assista novos aumentos de preço, mas em magnitude menor", analisa.