A já esperada grande movimentação de pais e responsáveis em busca de materiais escolares neste ano está menor. Segundo as livrarias e papelarias, a queda na movimentação tem chegado a 80%. Nas livrarias populares, onde há troca e venda de livros usados, a demanda diminuiu em torno de 50%, mesmo com retorno da maioria das escolas particulares marcado para a próxima segunda-feira, 18.
O POVO percorreu os principais pontos de comercialização de materiais escolares no Centro. Nas livrarias que vendem livros novos, a queda em todas as lojas é superior a 50%. O cenário de loja vazia é o mais comum, bem diferente de anos anteriores, diz Raimunda Olindina, funcionária da Livraria Interativa. "Está muito abaixo do esperado. Não tem muito o que dizer, basta olhar para a livraria vazia."
Já no comércio mais popular, onde existe a opção de troca e venda de livros usados, o movimento era maior, no entanto, segundo os responsáveis por livrarias, papelarias e sebos na Praça dos Leões, o movimento caiu pelo menos 50% na comparação com o ano passado.
Deisiane Lopes de Andrade, proprietária da D'Livros, conta que o movimento de pais em busca de produtos só aumentou nesta semana. Em anos anteriores, ainda nos meses de novembro e dezembro já havia movimentação de compras, vendas e trocas. Além da diminuição do movimento, ela avalia que a pandemia mudou os hábitos dos consumidores. "Quanto aos livros didáticos, a maior demanda é por entregas em domicílio. A procura na loja tem sido mais para material escolar", explica.
Para Irapuã Nunes, proprietário do box Mega Sebo, a baixa demanda de pessoas desanima. Ele diz, no entanto, que aos interessados em algum material procura negociar para encontrar o melhor preço e não perder vendas. "A procura da clientela está muito discreta. Eles estão com medo de que, por causa da pandemia, as aulas possam parar novamente e estão levando somente o mínimo em material."
Jothe Frota, da livraria Fortlivros e presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Livros do Estado do Ceará (Sindilivros-CE), revela que a queda nas vendas e faturamento já vem de antes da pandemia. A introdução de sistemas próprios de ensino sendo vendidos nas próprias escolas vem diminuindo a demanda no setor. O início da pandemia no ano passado e a falta de certeza sobre a retomada presencial, tira dos pais o interesse em comprar todos os materiais.
"Geralmente, o mês de janeiro é o melhor para os negócios, mas não há a confiança de que as aulas presenciais retornem. E essa desconfiança vem desde as editoras", observa. A liderança do Sindilivros deve se reunir com a Fecomércio para traçar alternativas para recuperação do setor.
Preço. Este é o grande problema encontrado pelo professor Carlos Alves de Almeida Neto, 40. Com dois filhos em idade escolar, ele afirma que deve procurar opções mais em conta. A grande estratégia para adquirir os livros é vender os utilizados no ano passado para comprar os novos.
"Acho que devemos gastar mais neste ano", diz. Sobre a volta às aulas, está ainda com receio: "Ficamos receosos de deixar os filhos voltarem às aulas presenciais agora. Decidimos deixá-los em casa por enquanto, eles têm 9 anos e 12 anos, até que diminuam os casos", explica.
O economista Alex Araújo destaca que o patamar mais alto dos preços é ponto que desanima o consumidor, já bastante impactado pela inflação sobre produtos básicos, como alimentação. A diminuição do tempo de procura é outro agravante de cenário: com a liberação da volta às aulas feita muito próximo da data, os pais estão com menor flexibilidade de tempo e orçamento.
"Houve uma demanda forte por papel e derivados, com custo mais alto dos impressos, pois são preços cotados em dólar. Houve um aumento de patamar de preços repassado aos consumidores", analisa.
INFLAÇÃO SOBRE O MATERIAL
Segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação sobre os produtos, destaca que, em dezembro, dos itens pesquisados, o que mais pesou no bolso do consumidor foram os relacionados à educação.
A alta de preços no mês foi de 3,75%. A alta mensal em Fortaleza foi bem superior à média nacional, que ficou em 0,48%. Vale destacar que a variação da inflação em dezembro no Brasil foi a maior desde 2016.
CIDADÃ
Suely Julião, 46, vendedora autônoma, reclama que os valores de produtos básicos, como lápis, estão bem mais caros neste ano. Isso sem contar o valor dos próprios livros didáticos. Ela conta ainda que a lista de materiais escolares cobrados pelas instituições de ensino crescem a cada ano, o que a prejudica com dois filhos em idade escolar.
"Os preços estão altos demais. Fiz pesquisas nas lojas, pedi para separarem os produtos e vim ao Centro só para buscar", diz ela, que foi a uma das livrarias na Praça dos Leões. "Grandes livrarias, nem pensar!" Ela acrescenta que está gastando pelo menos R$ 100 a mais do que no ano passado. "Pesa muito (no orçamento)".
Retomada das aulas
Ainda com limitações para evitar a proliferação da Covid-19, as escolas particulares do Ceará estão programadas para iniciar o ano letivo de 2021 entre os dias 12 e 20 de janeiro, conforme o Sindicato de Educação da Livre Iniciativa do Ceará (Sinepe-CE). O processo será gradual e as instituições devem retomar as aulas em modelo híbrido, ou seja, combinando classes presenciais e remotas.