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No limite, empreendedores buscam saídas para sobreviver à 2ª onda
Economia

No limite, empreendedores buscam saídas para sobreviver à 2ª onda

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Flávio Marinho, proprietário do Petiskyne (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Flávio Marinho, proprietário do Petiskyne

Flávio Marinho, de 38 anos, dono do restaurante Petiskyne, no bairro Cidade dos Funcionários, não tem dormido direito desde o último decreto de restrição para Fortaleza. Na última sexta-feira, 5, ele fechou as portas do estabelecimento para tentar organizar o cardápio, substituir pratos mais caros por outros de maior giro, adaptar sistema e fazer o planejamento da equipe para retomar as atividades na próxima semana apenas como delivery.

A estratégia já tinha sido usada durante o primeiro lockdown, no ano passado. Naquele momento, também colocou dinheiro próprio no negócio, fez empréstimo, aderiu ao programa do Governo para suspender alguns contratos e conseguiu atravessar a fase mais aguda da crise funcionando com apenas 30% do faturamento e sem demitir nenhum dos 12 funcionários.

Desta vez, está desesperançoso de que conseguirá o mesmo resultado. ”Minha prioridade continua sendo entrar no modo sobrevivência para não demitir ninguém. Mas estou consciente de que vai ser muito mais difícil agora. Estou realmente perdido sobre como vamos passar por tudo isso porque não tem mais de onde tirar.”

Ele conta que, no mês de fevereiro, com as restrições de horário e funcionando com apenas metade da capacidade, o faturamento da casa já tinha sido apenas 20% do que estava acostumado a fazer.

Também não tem mais margem para crédito e as parcelas do empréstimo feitas no ano passado começam a vencer agora. Ao mesmo tempo, a inflação no preço dos alimentos é outro fator a pressionar o fluxo de caixa. “No ano passado eu comprava filé por R$ 46 o kg, hoje estou pagando R$ 68 o kg. Com os preços do jeito que estão, não tem como não repassar para o consumidor. Mas como fazer isso se as pessoas estão perdendo emprego e não têm mais o auxílio emergencial?”

Para ele, o sentimento é um misto de indignação e impotência. “Todo mundo sabia que a doença estava aí, não impediram como deveria, não compraram vacina e agora vamos ter que passar por tudo isso de novo. Sei que não é uma decisão fácil para o governador (em fazer o lockdown), mas também não é para a gente, porque sem ajuda, não temos como seguir. Não é mais uma questão de salvar a economia, também estamos entre salvar vidas e salvar vidas.”

A sensação de desamparo também é a da tapioqueira Neide Martins, de 49 anos. Há 20 anos, ela acorda todo dia por volta de uma hora da manhã, rala coco, prepara a goma, faz cuscuz, café, leite e bolo para vender na Beira Mar a partir de 5h30 em uma bicicleta móvel. Fica lá até umas 9 horas e depois retorna para casa, no Passaré.

Ela conta que desde o último mês já sentiu uma queda brusca no movimento do calçadão. “As pessoas estão com medo, né. Pelo decreto e também por conta dessa doença, dizem que os casos estão mais graves.”

Neide também teme. Por ela, pela saúde dos filhos e do pai, de 89 anos. Mas agora esse medo também é de que falte comida em casa se não puder mais ir trabalhar. “Não sei como vai ser porque o que a gente vende para entregar em casa é muito pouco.”

No primeiro lockdown, ela e a família sobreviveram graças à aposentadoria do pai, a solidariedade de algumas freguesas e a renda que vinha do auxílio emergencial. “Agora, tudo fechou e a gente nem sabe se vai vir o dinheiro do Governo e quanto vai ser. Eu preferia estar trabalhando, até porque ganho mais, mas se eu não puder fazer isso, seria um alívio se saísse essa ajuda.”

 

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