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Carta de economistas e banqueiros cobrando ações do Governo contra a Covid-19 passa de 1,5 mil assinaturas
Economia

Carta de economistas e banqueiros cobrando ações do Governo contra a Covid-19 passa de 1,5 mil assinaturas

Manifesto assinado por membros do mercado financeiro com perfil liberal indica que Bolsonaro perdeu apoio em base de sustentação importante de seu governo
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O presidente Jair Bolsonaro em dezembro de 2020 continuava descredibilizando o potencial positivo das vacinas contra a Covid-19. (Foto: EVARISTO SA / AFP)
Foto: EVARISTO SA / AFP O presidente Jair Bolsonaro em dezembro de 2020 continuava descredibilizando o potencial positivo das vacinas contra a Covid-19.

A carta assinada por economistas, empresários e banqueiros cobrando ações efetivas do Governo Federal contra a pandemia de Covid-19 no Brasil teve uma grande expansão na quantidade de signatários e agora a soma passa das mil assinaturas. No manifesto, são expostas preocupações com a condição econômica do País e na forma como é conduzido o plano de ação da vacinação e medidas preventivas, criticando ainda a falta de diálogo entre os entes nacional e estaduais. O manifesto será enviado nesta semana aos líderes dos três poderes: o presidente da República, Jair Bolsonaro, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.

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A carta em si não cita o nome de Bolsonaro ou de qualquer ministro do seu governo, mas fica implícita a cobrança. A carta é dura sobre a forma como acontece a atuação governamental nesta crise. "O País pode se sair melhor se perseguimos uma agenda responsável. O País tem pressa; o País quer seriedade com a coisa pública; o País está cansado de ideias fora do lugar, palavras inconsequentes, ações erradas ou tardias. O Brasil exige respeito", diz o trecho final da carta.

Na avaliação do presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, a mensagem é clara ao destacar a ação deficiente do Governo Federal no combate à pandemia. Ainda segundo Coimbra, a assinatura por parte de tantos membros do mercado financeiro também pode indicar que eles perderam a paciência com a forma que Bolsonaro e sua equipe econômica lidaram com a crise.

"São economistas renomados, que já participaram de governos anteriores, são banqueiros e empresários. Isso já mostra também que o mercado vislumbra outras candidaturas para 2022, para além do atual presidente, que não se mostra hábil para atuar contra a crise", avalia Ricardo. No seu entendimento, há uma letargia em propor ações, similar ao que aconteceu em 2020, o que para ele não é aceitável no atual momento. "É uma preocupação que só vem se agravando e a carta é reflexo de que os economistas e o mercado estão lutando por um processo de vacinação para que possamos trabalhar pela recuperação da atividade econômica".

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Para o economista PhD em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Lauro Chaves Neto, a crítica veio de grandes nomes e em sua maioria grandes personalidades do pensamento liberal brasileiro, que até então estavam alinhados com os planos do governo. Lauro ainda observa que a carta, por não citar nomes, deixa em aberto a cobrança de ações do Poder Executivo nacional, estadual e municipal, mas também do Legislativo.

Lauro observa que, para a economia, o mais urgente é garantir logo o fortalecimento de medidas de proteção das populações mais vulneráveis, como o auxílio emergencial enquanto durar a pandemia, e também as medidas de socorro às empresas e manutenção do emprego. O impacto da carta na economia de imediato é a consolidação do nível de incerteza já observado. Nas últimas semanas, aponta o economista, a taxa de juros aumentou em patamar acima do esperado pelo mercado, a inflação sobre a cadeia de consumo crescente, assim como o nível de desemprego.

"A carta vem um ano após o início da pandemia. E ela vem por estarmos numa segunda onda e, na avaliação dos signatários da carta, nesse período existiram muitas medidas que poderiam ser tomadas que fizessem com que uma segunda onda fosse menos sofrível do que a primeira, mas não foram", afirma.

Os economistas cobram mais ação do Executivo nacional, que dialogue com estados e municípios. Criticam ainda ação de Bolsonaro e Guedes durante a crise
Os economistas cobram mais ação do Executivo nacional, que dialogue com estados e municípios. Criticam ainda ação de Bolsonaro e Guedes durante a crise (Foto: Sergio Lima / AFP)

A resposta do presidente

Em resposta às críticas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) minimizou, dizendo que mudaria seu discurso se fosse convencido, mas que não se convenceu. Afirmou ainda que se não fosse a pandemia, "o Brasil estaria voando". "Não pode essa questão continuar sendo politizada no Brasil", completou.

Mais cedo, falou que empresários acreditam em seu governo. E disse mais: "Somos um dos poucos países que está na vanguarda na busca de soluções". Mesmo com os recordes diários de mortes, escassez de leitos, remédios para intubação e vacinação lenta, a avaliação de Bolsonaro é de que "o Brasil vem dando exemplo".

Na avaliação de Célio Fernando de Melo, economista da BFA Investimentos, a avaliação de Bolsonaro sobre as medidas expressas na carta dão um claro sinal de que o presidente não tem condições de gerir o combate à crise por falta de conhecimento. Célio entende que a questão político-institucional é importante para a boa gestão e definição de políticas, mas que o atual governo é muito fechado e não se mostra disposto a rever os conceitos. "Temos de trabalhar por uma união de esforços, pois a situação do Brasil é a pior do mundo em contaminações. A palavra de ordem é união. O presidente diz o que está na cabeça dele, o que não é o que os brasileiros e o mundo precisam ouvir".

Perda de confiança no mercado

Outro fator importante que mostra o cenário negativo na economia é a queda de confiança dos empresários. Exemplo disso é o Índice de Confiança dos Empresários do Comércio, medido pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), que em março recuou 1,5% ante fevereiro. Essa é a quarta queda mensal consecutiva. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a queda acumula 19,3%, e é a 12º retração seguida neste tipo de comparação.

Levantamento diferente, agora da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que o setor e a economia nacional devem ter o desenvolvimento comprometido por conta da segunda onda da pandemia. O Informe Conjuntural avalia dois cenários, otimista e pessimista, em que o PIB cresce 4,5% e a indústria teria alta de 6,9% no primeiro cenário. Para isso ocorrer, seria necessário que as medidas de isolamento já adotadas sejam suficientes para reverter o quadro da pandemia, desafogando o sistema de saúde e o retorno das atividades econômicas aconteçam em abril ou maio, com avanço das reformas econômicas no Congresso.

No cenário mais pessimista, é considerada a significativa piora da situação sanitária nas próximas semanas, com medidas de isolamento mais rígidas e retração maior da atividade econômica. Assim, com a reabertura da economia apenas no fim de maio - parecido como ocorreu em 2020 -, o PIB cresceria apenas 0,6% e a indústria 1,3%.

Medidas indispensáveis

A carta assinada pelos economistas, empresários e banqueiros expõe medidas consideradas indispensáveis, como:

- Acelerar o ritmo da vacinação;
- Incentivar o uso de máscaras tanto com distribuição gratuita quanto com orientação educativa;
- Implementar medidas de distanciamento social no âmbito local com coordenação nacional;
- Criar mecanismo de coordenação do combate à pandemia em âmbito nacional.

Os signatários da carta

Entre os que depositaram suas assinaturas no documento, os ex-ministros da Fazenda Pedro Malan, Marcílio Marques Moreira, Maílson da Nóbrega e Ruben Ricupero.

Também assinaram os ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga, Gustavo Loyola, Pérsio Arida, Ilan Goldfajn e Affonso Celso Pastore.

Profissionais ligados ao mercado financeiro também incluíram seus nomes no manifesto, como o presidente do Credit Suisse, José Olympio Pereira, e o conselheiro do Itaú Unibanco, Pedro Moreira Salles.

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