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PIB cearense cai menos que o do Brasil em 2020 e expectativa é de avanço de 3,55% em 2021
Economia

PIB cearense cai menos que o do Brasil em 2020 e expectativa é de avanço de 3,55% em 2021

Resultado A soma de todas as riquezas produzidas no Estado recuou 3,56% no ano passado, abaixo da queda de 4,1% registrada nacionalmente
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PIB do Ceara em 2020 (Foto: PIB do Ceara em 2020)
Foto: PIB do Ceara em 2020 PIB do Ceara em 2020

As perspectivas para a economia cearense em 2021 são de recuperação quase integral das perdas registradas no ano passado. Foi o que apontou, ontem, o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) na apresentação dos resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. A projeção é de um crescimento de 3,55% neste ano, apenas 0,01 ponto percentual abaixo da queda registrada em 2020, de 3,56%.

Segundo o Ipece, mesmo vivendo o pior momento desde o início da pandemia de Covid-19, os aprendizados deixados na chamada primeira onda devem permitir a conciliação entre restrições sanitárias com a máxima preservação possível das atividades econômicas. "A atividade industrial continua funcionando, a agropecuária nunca parou, as empresas aprenderam a funcionar no delivery, reestruturaram seu modo de operação e investiram em tecnologia e vendas pela internet", observou Wítalo Paiva, analista do Ipece para o setor industrial.

Ele lembra, por exemplo, que "no ano passado, quando o governador (Camilo Santana) adotou a medida de restrição da atividade econômica, algo que a gente nunca vivenciou, incluiu a indústria, mas dessa vez a gente já aprendeu e deixou de fora desse lockdown a atividade industrial. Então, de certa forma, a gente pode esperar que vai ter algumas perdas, mas não tão fortes quanto em 2020". De fato, a indústria foi o setor que apresentou a maior queda no ano passado, de 7,11%. O setor de serviços também apresentou queda superior à média da retração total do PIB cearense e encolheu 3,6%. Por sua vez, o setor agropecuário teve expansão de 10,31%.

Em sua avaliação oficial, o Ipece destacou que os números do ano passado indicam que as ações do Governo do Estado para enfrentar a Covid-19 conseguiram evitar uma queda mais acentuada do PIB. Segundo a instituição, as ações implementadas, entre as quais a elaboração de um plano fundamentado na ciência de reabertura gradual das atividades econômicas e os investimentos realizados "foram decisivas para evitar maiores prejuízos na economia estadual".

Durante a apresentação dos resultados de 2020, também foram detalhados os números específicos do quarto trimestre do ano passado. Esses dados são importantes para entender a evolução do comportamento de cada setor e ajudar o governo e a iniciativa privada a traçarem estratégias para 2021. O desempenho da economia do Ceará entre os meses de outubro e dezembro registrou queda de 0,17%, em relação a igual período de 2019. O índice é inferior ao aferido nacionalmente. Nos últimos três meses do ano passado, a economia brasileira encolheu 1,1%.

Outros números importantes do quarto trimestre de 2020, na comparação com 2019, foram: o crescimento de 1,58% do PIB da agropecuária cearense, ante queda de 0,4% registrada nacionalmente; o crescimento de 1,6% da indústria do Estado, contra 1,2% de avanço no mesmo indicador em termos de País e uma queda no setor de serviços de 0,57% no Ceará. No Brasil, esse setor econômico caiu mais fortemente: retração de 2,2%.


Quando se compara o quarto trimestre com o terceiro trimestre de 2020, o primeiro após o início da reabertura econômica pós-primeira onda pandêmica, o Ceará tem uma inversão. A agropecuária teve queda de 2,08% e os serviços expansão de 1,48%. Merece destaque o desempenho da indústria que cresceu 3,47% de um trimestre para o outro, depois de ter vivido uma gangorra nos primeiros trimestres do ano passado. Na comparação entre o segundo e o primeiro trimestre, por exemplo, houve queda de 26,01%. Já na comparação entre terceiro e segundo trimestre houve forte aceleração de 40,59%.

Em linhas gerais, os números do PIB cearense em 2020 são superiores aos registrados em nível nacional no mesmo período. O PIB brasileiro teve retração de 4,1%, a maior registrada nesse século, queda de 4,5% no setor de serviços e um crescimento modesto de 2% na agropecuária. Por outro lado, a queda da indústria foi menor que a verificada no Ceará, de 3,5%.

Já a projeção de crescimento de 3,23% do PIB brasileiro em 2021 também é menor que a feita com relação à economia do Ceará. Apesar do otimismo quanto a 2021, o Ipece reduziu sua projeção de crescimento da economia do Estado. Na projeção anterior, feita em dezembro, a perspectiva era de um crescimento do PIB cearense da ordem de 3,7%.

Além do Ceará, apenas sete estados brasileiros realizam o cálculo de sua economia trimestralmente: Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo.

IBGE estima que a soja deve fechar 2018 com alta de 0,6% na produção
IBGE estima que a soja deve fechar 2018 com alta de 0,6% na produção

Projeção de PIB do setor agropecuário é revisada para 2,2%

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou, nesta terça-feira, 23, de 1,5% para 2,2% a estimativa de crescimento do setor agropecuário em 2021, com base nas estimativas do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e de dados das Pesquisas Trimestrais do Abate, Produção de Ovos de Galinha e Leite.

Em 2020, a agropecuária já havia sido o único dos três principais setores econômicos a registrar crescimento no País, de 2%, contra quedas de 3,5% da indústria e de 4,5% dos serviços. No Ceará, esses resultados foram ainda mais positivos e o PIB do agronegócio cearense teve elevação de 10,31%, ante quedas de 7,11% e 3,6%, da indústria e dos serviços, respectivamente, segundo o Instituo de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).


Já a nova estimativa do Ipea inclui uma revisão metodológica que desagregou o estudo em dois componentes: produção animal (pecuária, pesca e aquicultura) e produção vegetal (composta por produtos da lavoura, exploração florestal e silvicultura). Na produção vegetal, o destaque é para a nova safra recorde de soja, que tem alta prevista de 7,3%. Já produção de milho deve avançar 0,3%. Na contramão, há previsão de queda nas produções de cana-de-açúcar (-1,5%) e de café (-23,9%).

Na produção animal, a projeção é de crescimento em todos os segmentos, principalmente na produção de aves (3,8%). O desempenho positivo também é previsto para os segmentos de bovinos (1,5%), leite (1,7%), suínos (1,7%) e ovos (2,3%). (Com informações do Ipea)

Agropecuária: modernização produtiva e mudanças de hábitos explicam alta

Único setor econômico a registrar expansão tanto na esfera estadual quanto na nacional, a agropecuária teve o ano de 2020 marcado por dois fenômenos que ajudam a explicar esses crescimentos.

O primeiro é a modernização experimentada nos últimos anos e que foi decisiva para o enfrentamento dos desafios de produzir em um ano de pandemia. O segundo foi a mudança no comportamento do consumidor, em decorrência exatamente das restrições impostas no combate à proliferação da doença.

De acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Rodrigo Diógenes, "hoje, nossos produtores rurais têm uma capacidade e uma eficiência produtiva adquirida ao longo de anos em busca de tecnologia e inovação, mesclando sustentabilidade e mecanização. Isso fez com que a gente diminuísse os custos de produção e levasse à mesa dos brasileiros produtos de qualidade".

Ele observa, ainda, que com as famílias mais tempo em casa, a necessidade de consumir alimentos mais saudáveis e menos industrializados cresceu. "Isso foi muito positivo para a agricultura e para o produtor rural. Então, as pessoas tiveram um estímulo ao consumo desses produtos. Nesse cenário, o Ceará se destaca na fruticultura, na piscicultura, na apicultura e na bovinocultura de leite. Nós temos, hoje, grande produção de mel de abelha, de amêndoas de castanha de caju, de leite, além de camarão e peixe."

Boas condições climáticas também tiveram peso importante no resultado da agropecuária cearense, tanto que as culturas de sequeiro, extremamente dependentes do ciclo das chuvas, teve crescimento de 50%. Outra cultura que apresentou crescimento expressivo foi a do maracujá, com expansão de 38%.

A única exceção foi a castanha de caju, que teve queda de 2,8%. O resultado, porém, não preocupa Diógenes que vê uma expansão da cadeia produtiva do fruto. "Antes só se via a castanha. E, hoje, já estamos conseguindo exportar cajuína e a polpa. Temos, ainda, o leite da amêndoa. Então, se por um lado nós diminuímos um pouco o comércio de amêndoa, estamos suprindo com outros produtos", cita. (Adriano Queiroz)

Indústria e comércio: resultados são satisfatórios e 2021 depende da velocidade de vacinação também

Em ritmo acelerado desde o fim do ano passado, quando os percentuais do último trimestre apontaram crescimento, indústria e comércio cearenses consideram satisfatório o resultado da atividade econômica em 2020 dadas as circunstâncias. Para 2021, os setores projetam uma retomada condicionada à velocidade da vacinação, apoios federais e liberação do funcionamento dos negócios.

"O que a gente observa é que, apesar da situação financeira complexa e o cenário instável sem definição claro sobre o impacto econômico da segunda onda (de Covid-19), ainda há uma boa expectativa", avalia Guilherme Muchale, gerente do Observatório da Indústria, responsável pelos estudos desenvolvidos na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

Ele projeta um crescimento de 5% para a indústria local em 2021. O economista relembra que a indústria cearense vinha de perspectivas positivas em 2019, as quais foram devastadas pela pandemia e que, desta vez, o impacto deve ser menor devido o setor ter ficado de fora do lockdown.

"Esse efeito de resguardar a vida (medidas de isolamento rígido) acaba sendo positivo de forma posterior, obviamente ajudados pelos impactos do próprio auxílio emergencial. Esses efeitos combinados levaram a indústria cearense a uma forte recuperação no último trimestre", analisa ao lamentar a menor quantia aprovada para o benefício neste ano e o baixo número de pessoas contempladas.

A mesma preocupação é ressaltada por Luís José Souza, diretor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Ceará (Fecomércio-CE). Ele relembra do mesmo movimento de crescimento vivido pelo comércio no fim de 2019, após amargar quedas sucessivas entre 2014 e 2016. 

No entanto, a obrigação do fechamento das lojas como forma de evitar o contágio por Covid-19 e a falta de socorro, principalmente, pelo Governo Federal projetam muitas incertezas sobre o setor em 2021. Dúvidas que devem interferir na própria dinâmica do mercado, segundo ele, uma vez que o comércio faz a mediação entre a fábrica e o consumidor.

"A gente conseguindo fazer uma convivência com a Covid, a gente consegue fazer a economia rodar e acredito que retoma o patamar de 2019. Foi o que o último trimestre de 2020 nos mostrou", projeta, citando a velocidade da campanha de vacinação como um dos componentes para o cenário dar certo.

"A crise não cria problema, apenas potencializa e os revela. Tenho ouvido muito que escolhemos ou saúde ou economia. Não podemos resolver só um problema. Precisamos ter inteligência para não resolver apenas um problema", afirma. (Armando de Oliveira Lima)

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