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Pandemia, seca e dólar: quilo da carne acumula alta de 8% em 2021 no Ceará
Economia

Pandemia, seca e dólar: quilo da carne acumula alta de 8% em 2021 no Ceará

Desde o início da crise deflagrada pela Covid-19, o percentual de aumento dos cortes no Ceará chega a 25%, segundo o Sindicarnes
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Alta nos cortes da carne faz com que consumidor migre para o frango ou ovo (Foto: BARBARA MOIRA)
Foto: BARBARA MOIRA Alta nos cortes da carne faz com que consumidor migre para o frango ou ovo

Diferente do último ano, quando o primeiro surto de Covid-19 gerou uma queda no consumo e vários itens tiveram os preços reduzidos, a segunda onda da pandemia tem sido marcada pelo aumento em produtos básicos para as famílias e isso, a cada dia, tem tornado a carne bovina mais rara nas mesas dos cearenses, segundo afirma Everton da Silva, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas do Ceará (Sindicarnes-CE). Só neste ano, a alta nos cortes acumula 8% e o reflexo é uma diminuição nas compras, que já está entre 5% e 6%, de acordo com ele.

Quando comparado a 2020, ano no qual os preços passaram a ficar mais elevados só no segundo semestre, o percentual de carestia nos preços observado pelo presidente do Sindicarnes-CE é de 25%. O consumo medido desde o início do último ano também vem em queda. Em março, o percentual acumulado já chega a 15%.

“Com o início do lockdown em 2020 e até agora faltou os insumos, desde a genética do boi, passando pelo pecuarista, pelo abatedor, distribuidor até chegar no consumidor”, justifica Silva sobre a elevação de preços observada nos frigoríficos do Estado.

O cenário ainda foi agravado por seca nos estados cuja criação de gado para abate é a maior do País, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo. Na última semana, em São Paulo, Capital, a referência para a arroba do boi ficou a R$ 310,50 a arroba. Em Goiânia (GO), a arroba teve preço de R$ 294,50 a arroba. Em Dourados (MS), a arroba foi indicada em R$ 300,50. Em Cuiabá, a arroba ficou indicada em R$ 302,50. A arroba é a referência para cotação dos cortes e corresponde a 15 quilos de carne.

Os valores cotados no dia 16 de abril chegam a ser cerca de R$ 7,00 menores que há uma semana, mas essa redução não surtiu efeito diretamente no mercado do Ceará, onde 95% da carne consumida vem de fora do Estado. “De janeiro a junho são quando ocorrem as ‘safras do boi’ (período de maior abate de animais), e não era para o preço subir. Era para estar estabilizado ou menor, como acontece todo ano”, observa o presidente do Sindicarnes, afirmando que reajustes para mais nos preços dos cortes são esperados sempre na segunda metade do ano.

A mesma elevação no quilo dos cortes bovinos é vista nas prateleiras dos supermercados cearenses, como aponta Nidovando Pinheiro, diretor da Associação Cearense de Supermercados (Acesu). “Realmente era para estar numa safra, mas isso não está existindo porque existe uma demanda muito forte para o mercado externo”, afirma, apontando a alta do dólar como motivo de preferência para os produtores exportarem do que venderem ao mercado brasileiro.

Nidovando ainda acrescenta que, além dos estados cuja “produção de carne” é tradicional, o Ceará ainda conta com parcela de carnes vindas do Maranhão. Ainda assim, não foi suficiente para reverter o movimento e os supermercadistas já identificam uma migração nas compras pelas famílias. “A gente percebe que o consumo de carne bovina caiu muito, andou migrando para outras opções como frango e ovo. A carne suína, até chegou a subir também, mas o consumidor consome bem ainda”, conta o diretor da Acesu.

As expectativas, agora, são de uma estabilidade no preço, mesmo que em patamar elevado. Análises de pasto apontam saturação das áreas reservadas pelos pecuaristas para manter o gado, o que deve forçar eles a conduzir mais animais ao abate e, assim, elevar a oferta tanto no mercado externo quanto interno.

“Agora, esperamos que estabeleça o preço porque o consumidor não aguenta mais. A previsão da estabilização é muito mais por falta do consumo, porque o consumidor não tem dinheiro para manter o consumo alto”, estima o presidente do Sindicarnes-CE, considerando que a oferta segue ao ritmo dos pecuaristas.

Dicas de consumo na pandemia

André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Faculdade Getúlio Vargas (IBRE/FGV), dá dicas às famílias para que todos passem por essa pandemia com menos dificuldades.

1. Planeje as compras. Como o objetivo é circular menos, vale se programar para ir ao mercado uma vez por semana;

2. Se puder, pesquise os preços pela internet e escolha o mercado que ofereça as melhores opções e preços, de acordo com a sua cesta de compras;

3. Leve uma lista com tudo o que precisa;

4. Não compre em excesso, mas o que for necessário para uma semana. Lembre-se de outros também vão precisar e que faltando os preços aumentam.

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