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Volta de programas de auxílio às empresas traz alívio mas vem com atraso, dizem entidades
Economia

Volta de programas de auxílio às empresas traz alívio mas vem com atraso, dizem entidades

|CAUTELA| Interrupção de quatro meses no BEm e dificuldade de acesso às linhas de crédito do Pronampe são alvo de críticas de representantes do setor produtivo
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Cervejaria Turatti, com três estabelecimentos em Fortaleza, é um dos restaurantes que está oferecendo descontos para clientes que apresentem cartão de vacinação (Foto: BÁRBARA MOIRA)
Foto: BÁRBARA MOIRA Cervejaria Turatti, com três estabelecimentos em Fortaleza, é um dos restaurantes que está oferecendo descontos para clientes que apresentem cartão de vacinação

O iminente retorno dos programas Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) foi recebido com alívio por entidades ligadas ao setor produtivo ouvidas por O POVO, mas também alvo de críticas pelo atraso e pela limitação de seus respectivos alcances em 2021.

A volta do Pronampe e do BEm só se tornou possível graças à sanção de um trecho na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021, pelo presidente Jair Bolsonaro, cercada de polêmicas e que aconteceu no limite do prazo legal para ser publicada no Diário Oficial da União. A alteração no texto do orçamento permite a abertura de crédito extraordinário para os dois programas de auxílio à iniciativa privada, fora da meta de resultado primário.

Em linhas gerais, o BEm permite a redução de jornada e de salário, além da suspensão de contratos de trabalho. Nesse último caso, o trabalhador recebe uma porcentagem do seguro-desemprego a que teria direito se fosse demitido, enquanto o contrato estiver suspenso. Por sua vez, o Pronampe consiste em uma linha de crédito com juros baixos e a contrapartida da manutenção de empregos. Os recursos podem ser utilizados para financiar investimentos e proporcionar capital de giro para despesas operacionais.

De acordo com o diretor técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no Ceará, Alci Porto, os dois programas tem impactos diferentes em um momento de agravamento das crises sanitária e econômica decorrente da pandemia de Covid-19. “De um lado, a renovação dessa legislação que leva à suspensão parcial dos contratos cria condições para que, em um período de dificuldade, a empresa possa manter empregos. Já na questão referente ao Pronampe, nós achamos que R$ 5 bilhões não serão o suficiente”, pondera. Para se ter uma ideia, em 2020, o programa citado por ele envolveu a quantia de R$ 37 bilhões.

Alci Porto acrescenta que outro ponto na versão 2021 do Pronampe que não ficou esclarecido é a questão do período de carência, que pode afetar empresários que já estejam endividados. “Caso essa prorrogação da carência se estabeleça, eles vão poder acessar um novo financiamento, ainda aproveitando o período do empréstimo anterior, mas se não houver essa possibilidade será muito difícil para esses empresários porque além de não poderem pagar a dívida passada, não terão capital de giro no presente”, explica.


O diretor técnico do Sebrae lembra que o atraso na renovação dos programas se dá em um momento crítico para as empresas e cita alguns números do impacto que a pandemia teve para os pequenos negócios, em particular, no ano passado. “Nós vimos que cerca de 4% a 5% das empresas de micro e pequeno porte no Brasil fecharam suas portas. Só no Ceará foram 15 mil. Outra coisa é que dos novos negócios criados 80% eram microempreendedores individuais (MEIS), quando a média no pré-pandemia era de 60%. Isso significa que mais pessoas tiveram de empreender por necessidade”, argumenta.

O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Ceará, Taiene Righetto, embora tenha destacado a importância do retorno do BEm, também ressaltou a demora nesse processo. “Esse é o programa mais importante porque tem um cunho não só de salvar as empresas, aliviando um pouco as contas, mas também um cunho social muito grande, mas a gente não pode deixar de dizer que ela chegou bastante tarde. Nesses últimos três meses, nós perdemos muitos empregos e muitas empresas poderiam ter sido salvas”, lamentou. Quanto ao Pronampe, citou que o programa beneficiou apenas cerca de 15% do segmento de alimentação fora do lar.

Por sua vez, para a presidente da Associação dos Meios de Hospedagem e Turismo do Ceará (AMHT), Vera Lúcia da Silva, o Pronampe é excelente só que tem um inconveniente, que é a exigência de uma garantia real. Fica muito difícil, após mais de um ano de pandemia, você dar garantia real, pois quem tinha suas economias já foi usando. É muito complicado para o pequeno negócio preencher esse requisito porque ele teria de ter um imóvel em um valor significativo. Os negócios maiores vão ter mais facilidade”.

Sobre o BEm, ela disse ver a iniciativa como importante, mas pondera que o setor de turismo ainda terá de conviver com meses de faturamento próximo a zero.

Projeção

A estimativa do governo federal é destinar até R$ 15 bilhões para os dois programas destinados ao socorro da iniciativa privada.

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