Não é só a Agência Nacional de Petróleo, Biocombustíveis e Gás Natural (ANP) que aponta a elevação dos preços nos postos do Ceará. Levantamento feito pela empresa de pagamentos eletrônicos ValeCard atesta: entre abril e maio, a gasolina subiu 2,72%. Num ritmo tão forte quanto, o etanol também vem numa escalada de preços que coloca em xeque a estratégia dos condutores de fazer uso do biocombustível derivado da cana-de-açúcar. Mas quando vale a pena abastecer com etanol?
O consumidor precisa fazer uma operação matemática simples: dividir o preço cobrado pelo litro da gasolina pelo cobrado no litro do etanol. Se o resultado der menor ou igual a 70, vale a pena abastecer com etanol. Se for maior que 70, é melhor colocar gasolina. Resumindo, o preço do etanol precisa ser até 70% do preço da gasolina para valer a pena usar etanol.
Não há dificuldade na conta e tem a ver com o rendimento do combustível no motor. Todo automóvel sai de fábrica com duas projeções de rendimento, nas quais são apontadas as quilometragens percorridas com cada um dos combustíveis. A gasolina sempre tem maior distância por litro devido à combustão de maior poder.
Para ter o mesmo desempenho com o etanol, o condutor vai precisar colocar mais alguns litros. Agora, quando o assunto é economia, pode-se ter os mesmos percursos gastando menos. Para isso, é preciso saber se o litro do etanol custa até 70% do valor do litro da gasolina – se só se sabe isso fazendo a conta descrita acima.
No Brasil, segundo os dados apurados pela ValeCard para maio, apenas no Mato Grosso é mais econômico fazer uso do etanol. No Ceará, essa conta aponta que o preço do biocombustível (R$ 4,827) é equivalente a 83% do preço da gasolina (R$ 5,802), tornando menos econômico abastecer com etanol.
O motivo para a elevação do preço está longe das bombas e dos comparativos de rendimento. Há mais tempo que a gasolina e o diesel, o etanol tem os valores influenciados pelo mercado internacional. E aí quem faz as contas para saber quanto vai ganhar mais é o produtor de cana-de-açúcar.
Com o câmbio favorável – ou seja, dólar mais valorizado – e o valor do açúcar mais vantajoso, os produtores deixam de produzir etanol. É o que tem acontecido nos últimos meses. Além disso, a estiagem gerou um efeito contrário para o combustível neste ano. Geralmente, entre abril e dezembro, há a colheita da cana, quando os preços baixam devido à maior oferta de matéria-prima.
Dados do União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única) indicam que “a moagem na primeira quinzena de maio atingiu 41,07 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, registrando retração de 3,01% em relação a quantidade verificada em igual período da última safra, quando foram processadas 42,34 milhões de toneladas”. “No acumulado deste ciclo, a moagem totalizou 86,31 milhões de toneladas, ante 103,04 milhões de toneladas registradas no mesmo mês de 2020 – queda de 16,24%”, diz o informe, indicando baixa na oferta do insumo principal para fabricação de açúcar e etanol no Brasil.