A escalada de preços dos alimentos na pandemia pressiona a inflação e muda o hábito de consumo dos brasileiros para produtos mais em conta, como os ovos de galinha. Mas a perspectiva é que o valor do alimento também continue a subir se a alta de insumos da cadeia de produção, que já chega a 50% neste ano, não sofra uma redução de custos "drástica". É o que avalia Airton Jr., sócio-diretor da Avine Alimentos, em entrevista exclusiva ao O POVO.
Para se ter ideia, a carne, por exemplo, chegou a 5,86% de encarecimento de janeiro a maio deste ano no Brasil, com maiores elevações em Rio Branco e região metropolitana (15,34%) e na Grande Fortaleza (11,01%), segundo dados de inflação, medidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e divulgados nesta quarta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O foco dos consumidores passou então para frangos e ovos de galinha, que também ficaram menos em conta. Aves e ovos subiram 5,17% nos preços do País, de janeiro a maio de 2021, e 4,16% na Grande Fortaleza.
Mas estes alimentos encareceram em todas as bases de comparação, conforme o IBGE, ficando a inflação em 1,77% em maio (Capital e região metropolitana) e 1,05% no Brasil. Enquanto que nos 12 meses encerrados no mês passado, os valores dos produtos aumentaram em 11,96% na Grande Fortaleza e 13,66% nacionalmente.
Em contrapartida, como a demanda teve um salto, de acordo pesquisa do IBGE, de janeiro a março de 2021, o abate de frangos no Ceará chegou a 7,4 milhões de cabeças, no maior resultado desde o início da série histórica da pesquisa, em 1997. Até então o recorde, para um trimestre, de frangos abatidos no Estado era do último trimestre de 2020, com 7,2 milhões.
A produção de ovos de galinha seguiu este ritmo e também bateu recorde para um primeiro trimestre no Brasil, com 978,25 milhões de dúzias, chegando a 3,31 milhões de dúzias a mais (alta de 0,3%) na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. O Ceará foi o terceiro estado que mais contribuiu para o resultado neste início de 2021.
Foram mais de 56,1 milhões de dúzias de ovos produzidas no Estado, um aumento de 9,4% em relação a igual período de 2020. Frente ao trimestre imediatamente anterior – o 4º trimestre de 2020 – o aumento foi de 2%, segundo o IBGE.
As milhões de dúzias produzidas, registradas na pesquisa, também revelam que os primeiros três meses do ano tiveram, para um trimestre, a maior produção de ovos de galinha no Ceará desde o início da série histórica iniciada em 1987. O recorde anterior havia sido do 4º trimestre de 2020, quando foram registradas a produção de 55,0 milhões de dúzias de ovos no Estado.
Dentre os estados do Nordeste, portanto, o Ceará registrou a maior produção de ovos de galinha. Pernambuco ficou na segunda colocação, com apenas 421 mil dúzias produzidas a menos que o Estado. Já o terceiro colocado, Bahia, cerca de 18 milhões de dúzias produzidas, 38 milhões a menos que o estado cearense.
E é neste cenário que o sócio-diretor da Avine Alimentos analisa a mudança de comportamento do consumidor para a compra de ovos na pandemia, as condições de produção do alimento, as inovações no mercado e o que se espera da alta de preços.
Airton Jr. - O ovo é um alimento completo que sempre esteve presente na vida dos brasileiros, e este fato independe do período pandêmico. A proteína pode ser utilizada em diversas receitas que vão de cafés da manhã e lanches rápidos, passando pela alimentação de crianças e dietas saudáveis até chegar à mesa como prato principal. Na pandemia, as pessoas passaram grandes períodos de tempo em casa, assim, consumindo produtos e serviços que talvez antes não consumissem com repetições diárias, por exemplo. Além disso, a alta no preço da carne também acaba trazendo atenção para o ovo, que é a proteína mais acessível. Assim, o ovo seguiu presente na mesa de brasileiros de diferentes classes sociais e poderes aquisitivos.
Airton Jr. - A quaresma segue sendo o melhor período de vendas do ano. Observamos essa constância no comportamento do consumidor tanto em 2020 como em 2021. Nos dois anos em questão, a quaresma iniciou no mês de fevereiro e foi encerrada com a Semana Santa no mês de abril. O hábito religioso de muitos brasileiros reforça o quanto o ovo é uma alternativa rica e assertiva para qualquer refeição. O ponto fora da curva foi entre março e abril de 2020, onde houve uma corrida aos supermercados com o consumidor procurando estocar em casa alguns itens. Neste momento, o ovo teve uma demanda acima do normal, mesmo para um período de quaresma.
Airton Jr. - A ração corresponde a mais de 50% do custo de produção. Muitos insumos da ração são influenciados pelo dólar, demanda internacional e exportação, sobretudo milho e soja. O milho está quase o dobro do valor que estava em igual período do ano passado e a soja está praticamente 80% mais cara, com isso, tivemos um aumento no custo de produção próximo de 50%. Apesar desta elevação nos preços dos insumos, o valor do produto final ainda não foi totalmente atualizado. Tal atualização deverá acontecer ainda neste ano, caso não haja uma redução drástica do custo dos insumos.
Airton Jr. - É um balanceamento difícil, pois inovação e qualidade realmente têm seu custo. A tecnologia é nossa grande aliada nesta questão, é com ela que trabalhamos a qualidade que prezamos, e a inovação que aplicamos para dar mais transparência ao nosso consumidor, sem inchar os custos. Utilizamos datação e rastreabilidade em cada ovo produzido e possuímos um equipamento de origem holandesa, totalmente computadorizado, que faz a avaliação de trincas nos ovos e toda a classificação e embalagem dos ovos. Produzimos uma ração exclusiva que possibilita melhor qualidade interna e de casca aos nossos ovos, além de toda uma linha de ovos especiais e enriquecidos. Todas essas iniciativas, em conjunto, nos ajudam a oferecer um produto de qualidade, saudável e satisfatório para o mercado, seguindo altos padrões de exigência. Os investimentos em tecnologia sempre têm como referência a sustentabilidade financeira do nosso negócio atrelada com a necessidade de nos mantermos na vanguarda, competitivos e ampliando o público consumidor, bem como os locais em que estamos presentes.
Empresa cearense fundada em 1992, está no território nacional da Bahia ao extremo Norte do País. Produz, em média, 1,5 milhão de ovos por dia.
A Avine nasceu de um núcleo familiar e tem no discurso que a "tradição aliada à inovação faz toda a diferença".
Dentre os projetos sociais, apoia a Obra Lumem, Centro Paraolímpico Evaldo Prado e O Pequeno Nazareno.