Não é de hoje que o cearense tem percebido que está ficando cada vez mais caro viver em Fortaleza. Carne, energia, gasolina, tudo está subindo de preço. De janeiro de 2020 a abril de 2021, a região metropolitana foi a que, por mais meses, quatro no total, registrou a maior alta de preços no País, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também é a que tem a maior inflação acumulada no ano, 3,36%, bem acima da média brasileira, de (2,37%) e a segunda maior variação no comparativo de doze meses (8,03%). Mas se a crise econômica é, em grande medida, nacional, por que aqui a inflação acelera com mais força?
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Essa não é uma equação simples de ser explicada, tanto, que mesmo os economistas são cautelosos na hora de apontar as causas desse descompasso. Primeiro, por uma questão metodológica mesmo. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), do IBGE, que mede a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 e 40 salários mínimos, reflete a evolução dos preços com base nos hábitos de consumo nas diferentes regiões metropolitanas do País.
Logo, embora os itens pesquisados sejam geralmente os mesmos, a relevância que determinado produto tem dentro da cesta de consumo de um local, não necessariamente é a mesma que em outro.
Por exemplo: a inflação nos preços de energia residencial em Fortaleza no acumulado de doze meses foi de 7,55%. Abaixo, portanto, daquela observada em São Paulo (8,47%). Mas esse é o tipo de gasto que, em função da renda média menor da população cearense, acaba tendo maior impacto no bolso e na composição do indicador da RMF, com peso de 4,6%, do que na cesta de consumo dos paulistas (3,67%).
Da mesma forma, a carne que tem um peso de 3,7% para o IPCA da RMF, em Brasília, não passa de 1,7%. Por outro lado, lá os serviços pessoais têm forte influência no cálculo, de 8,2%, quase o dobro da relevância para esse item na métrica daqui.
Ou seja, em muitos meses, Fortaleza liderou a inflação do País porque, no todo, houve uma significativa alta nos itens de maior impacto para formação do indicador. Mas não necessariamente esses reajustes foram os maiores para aquele segmento.
Dito isso e considerando o IPCA acumulado de doze meses, portanto, sem eventuais reflexos de sazonalidade, o que os dados do IBGE mostram é que, dentre os itens de maior peso, os que mais contribuíram para inflação no período foram: carnes (30,96%), combustíveis (23,32%); produtos farmacêuticos (9,22%); alimentação fora do domicílio (8,28%); e energia elétrica residencial (7,65%).
São produtos e serviços que, de maneira geral, estão subindo de maneira muito forte também no restante do País. Inclusive, no caso dos combustíveis e da carne, a variação média para o Brasil foi até mais alta, de 35,03% e 35,06%, respectivamente. Dentre outros fatores, essa disparada está ocorrendo em função do dólar, da redução da oferta no mercado interno e encarecimento de insumos etc.
Mas existem também outros elementos que podem estar colaborando para que a inflação seja sentida com maior intensidade no mercado local. O gargalo logístico é um deles, avalia o presidente do Conselho Regional de Economia no Ceará (Corecon), Ricardo Coimbra.
“Principalmente, quando a gente observa o grupo de alimentos. Carne, arroz, cebola, por exemplo, são produtos que vêm de fora e o sistema logístico faz com que, muitas vezes, eles cheguem mais caros aqui. A pandemia de certa forma também trouxe descompensação nos preços tanto na produção, no consumo, como no frete.”
Em outros segmentos, o que pode também pesar na conta é a concentração de mercado. O economista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Èrico Veras Marques, pondera que apesar de, em Fortaleza, se ter praticamente “uma farmácia em cada esquina”, essas lojas, em sua maioria, pertencem a três ou quatro grandes redes varejistas.
Porém, mais importante do que saber se os reajustes em Fortaleza estão subindo mais do que em outros lugares, é entender o impacto da inflação no orçamento das famílias. E, nesse sentido, a escalada de preços é bem preocupante.
“Um agravante de se ter inflação alta é porque penaliza mais a população de menor renda. Ou seja, em cidades tão desiguais como Fortaleza, isso pode gerar uma queda significativa na satisfação das necessidades básicas de grande parte da população”, avalia o professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e PHD em desenvolvimento regional pela Universidade de Barcelona, Lauro Chaves.