A movimentação de empresas para o hub de hidrogênio verde no Ceará tem sido frequente. Desde o anúncio da assinatura do primeiro memorando de intenção para instalação de planta de produção do combustível no Pecém, em 19 de fevereiro último, mais empresas têm apresentado estudos para o que promete ser o “novo momento” da economia no Estado.
LEIA MAIS | O caminho do Ceará para conquistar o mundo com energia limpa
Os planos da Qair Brasil caminham também em direção a esse novo mercado. Detentora já do Complexo Eólico Serrote e com mais o Complexo Eólico Serra do Mato - 22MW de parques eólicos e projeto solar previstos para serem concluídos entre novembro e dezembro deste ano -, ambos em Trairi, a empresa tem previsão de US$ 6,8 bilhões de investimento no Estado até 2030 só para a geração de hidrogênio verde.
Segundo o presidente da Qair Brasil, Armando Abreu, são cerca de US$ 3,8 bilhões para a Planta de Hidrogênio Verde Liberdade, projeto a ser instalado na Zona de Processamento de Exportação do Ceará (ZPE) do Complexo do Pecém, a partir de quatro fases, e mais US$ 3 bilhões para eólica offshore em Acaraú, município já mais a oeste no litoral do Estado. “É um projeto que estamos a desenvolver há dois anos, faz parte de um posicionamento da empresa. A planta offshore, desenvolvida em conjunto com a planta de hidrogênio, terá capacidade para 1,2 GW e vai se chamar Dragão do Mar. Nela teremos ligação com subestação em Acaraú e linha de transmissão dedicada à planta de hidrogênio.”
“O Ceará apresenta uma situação geográfica privilegiada, com sua localização mais perto da Europa e da própria África. E temos também o hub aéreo, o hub marítimo, o hub tecnológico. Existe ainda energia solar e eólica disponíveis. Se ainda ligarmos essas condições naturais com o momento de desenvolvimento do Ceará, temos condições especiais para o Estado e para o País de implantação desses projetos.”
Quanto à geração de emprego para as duas novas plantas, Armando expõe que na eólica offshore Dragão do Mar, o número não será representativo, pois envolve grupo menor de trabalhadores especializados. Já na planta de hidrogênio, 1.200 empregos serão gerados para a fase de construção, que deve durar de 3 a 4 anos, e para a operação, de 400 a 500 empregos diretos. “O Ceará tem capacidade para oferecer a maior parte desses profissionais. Toda a parceria que está sendo feita entre Fiec (Federação das Indústrias do Estado do Ceará), universidades e Governo do Estado deve garantir que esses profissionais sejam encontrados aqui.”
Para Pernambuco, a Qair Brasil também estuda planta de hidrogênio verde no Porto de Suape. Seriam duas grandes bases de inovação ao grupo dentro do Nordeste. Para a economia pernambucana, a empresa calcula injetar US$ 3,8 bilhões. “Acreditamos que existe mercado tanto no Ceará como em Pernambuco”, defende Armando.
Armando é bem claro em dizer que parte do interesse da empresa na produção do hidrogênio no Ceará vem da decisão da Europa, a partir de plano de descarbonização até 2030, de implementar cerca de 80 GW de hidrogênio no continente. “Desses (GW), a Comunidade (Europeia) prevê que 40 sejam produzidos internamente e 40 importados. Mas nós sabemos hoje que vai ser muito difícil dentro da comunidade europeia produzir 40 GW. O que significa que a importação vai ser muito maior ”, calcula o presidente da Qair Brasil.
Dentro da França, como explica Armando, uma das empresas escolhidas para desenvolver projetos para a produção de hidrogênio verde está a Qair Internacional. O fato dá mais base ainda para a empresa investir no Ceará mirando na futura exportação para a Europa. Com entrada em operação prevista para 2023, já existe planta do grupo, com capacidade para produzir 400 MW de hidrogênio, em desenvolvimento em Port la Nouvelle, região da Occitania, na França.
Em fevereiro deste ano, a empresa a australiana Enegix Energy assinou com o governo do Estado memorando de intenção para planta de hidrogênio no Pecém de US$ 5,4 bilhões. No final de maio, o secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Maia Júnior, confirmou que a multinacional também australiana Fortescue Metals Group deve assinar, em junho,, um memorando de entendimento para implantação de uma planta de produção de hidrogênio verde no CIPP.
Já em reunião da mesma pasta com a diretoria e técnicos da Fundação Parque Tecnológico de Itaipu (PTI), foi estabelecido interesse da Fundação de gerar uma futura cooperação entre o Ceará e o PTI. O Parque Tecnológico já produz hidrogênio verde há 10 anos e domina a tecnologia e a operação da planta de produção.
A Qair Brasil, com sede administrativa em Fortaleza, é a subsidiária do grupo Qair Internacional, de origem francesa, com operações em 16 países e 30 anos de atuação no mercado de energias renováveis. Empreende no País desde o início de 2018, inicialmente com o nome Quadran Brasil e após se unir com a empresa cearense Braselco, em 2017. A Qair Brasil possui sede administrativa em Fortaleza, desenvolvendo vários empreendimentos em diferentes estados da região Nordeste.
A carteira de projetos conta com 8 a 9 GW de projetos de fontes renováveis, dentre os quais 210,6 MW já se encontram em operação comercial e outros 382,4 MW em construção. O que representará, em pouco mais de três anos, investimentos na ordem de R$ 2,7 bilhões.