Considerada uma riqueza ainda pouco explorada no Estado, mas de enorme potencial, a extração de rochas ornamentais e granitos deve saltar em quase 60% neste ano, se depender das projeções feitas pelo Porto do Pecém. A partir de julho, apesar da crise dos contêineres do mercado internacional, o terminal passa a receber, uma vez por mês, uma embarcação totalmente dedicada ao transporte das pedras extraídas no Interior do Estado. Isso fará com que o envio deste tipo de carga ao exterior salte de 44,26 mil toneladas (2020) para aproximadamente 70 mil toneladas em 2021.
Já no dia 6 de julho está previsto a atracação de uma embarcação do tipo para levar 8,3 mil toneladas de rochas e granitos para Itália e China, segundo revela Carlos Alberto Alves, gerente comercial da Tecer Terminais, operadora credenciada pelo Porto do Pecém.
Extraídas geralmente entre o Sertão Central e a Ibiabapa, as pedras cearenses já possuem reconhecimento internacional. O baixo índice de chuvas e a temperatura elevada são os principais fatores que as dotam de características únicas de durabilidade e beleza. Tal resistência é valorizada em mercados como Itália – polo do setor no mundo –, Oriente Médio e Ásia, especialmente, em obras de infraestrutura.
As últimas expansões feitas no Aeroporto Internacional Pinto Martins e no Shopping Iguatemi Fortaleza são exemplos mais próximos disso, mas os terminais de Elzia (Argentina) e Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) também contam com piso cujo material tem origem no interior cearense.
A expansão desse mercado representa mais riquezas girando em áreas consideradas pobres do Estado, como destaca Carlos Rubens Alencar, presidente do Sindicato das Indústrias de Mármores e Granitos do Estado do Ceará (Simagran-CE).
“Esse crescimento está atrelado a uma cadeia, mas depende muito de uma logística, que incentiva os empresários a fazer mais negócios quando funciona. Essa logística existe aqui e gera mais apetite para eles investirem nessa área”, destaca o diretor comercial da Tecer.
Somente em 2021, a movimentação de 19,5 mil toneladas representou US$ 12,2 milhões em negócios. Números que poderiam ter sido maiores, como destaca Carlos Rubens: “O navio que veio em maio deixou blocos de rochas porque não tinha mais espaço”.
Terceiro colocado no volume e nos valores de exportação do segmento, o Ceará ainda precisa avançar para alcançar Espírito Santo e Minas Gerais, respectivamente, primeiro e segundo colocados neste ranking. Ainda hoje, blocos são extraídos de cidades cearenses e enviados para Vitória (ES), onde são laminados, polidos e vendidos ao exterior por um preço significativamente maior.
“Mercado de rochas ornamentais no Brasil é em torno de 850 mil toneladas ao ano. Vamos começar a ter 70 mil toneladas, ou seja, não vamos ter nem 10% do mercado. Estamos engatinhando”, reconhece Carlos Alberto Alves.
Apesar de ele garantir que o Porto do Pecém conta com horas ociosas de operação e possui capacidade de movimentar um volume até quatro vezes maior de rochas que o atual, é preciso que o mercado local esteja preparado e opte por enviar as cargas já do Ceará.
Mas uma tomada de decisão deste tipo ainda deve demorar, na avaliação do presidente do Simagran-CE. Ele aponta o Espírito Santo como um cluster do setor, onde os produtores possuem uma carta com 800 variedades de pedras vindas de todo o Brasil – incluindo o Ceará – , o que facilita o fechamento de negócios lá.
“O que pode e, aos poucos, vai acontecer é que alguns materiais daqui estão ganhando um certo volume. Então, o empresário pensa: ‘o que estou levando do Ceará já corresponde a 30 ou 40 contêineres. Ao invés de exportar do Espírito Santo, eu gasto menos se exportar do Ceará’”, projeta.
Como empecilho ao avanço da competitividade cearense está a crise dos contêineres internacional, que surgiu a partir da concentração dos equipamentos nos portos chineses ao longo da pandemia, quando a China passou a consumir mais no período de retomada e os demais mercados ainda não compraram o suficiente para fazer com que as cargas voltem a distribuir os contêineres pelo mundo.
Isso, além de gerar escassez para o transporte das mais diversas cargas, ainda fez com que o preço do frete ficasse mais caro, dificultando o aumento da exportação entre vários segmentos, como as rochas.
Internacionalização e Competitividade Global
A internacionalização é um processo recente para a maioria das empresas cearenses. O acesso ao mercado internacional requer postura empresarial ousada. É uma alternativa estratégica de desenvolvimento que propicia uma dimensão global à empresa, proporciona vantagens competitivas e estímulos para se tornar mais eficiente. Nesse contexto, a logística é utilizada de forma coerente com as metas da empresa em termos de competitividade, tornando-se assim, o ponto forte na estratégia para vencer a acirrada concorrência internacional. A maior parte da literatura sobre internacionalização de empresas apresenta a estratégia logística como responsável pelo sucesso da inserção internacional.
As empresas cearenses, brasileiras e de outras nações do mundo sentiram que, especialmente, nos últimos meses, o aumento exponencial dos fretes marítimos e a falta de contêineres, impactaram de forma expressiva a competitividade empresarial. Na análise da série histórica, o transporte marítimo, responsável por mais de 95% das operações comerciais do Ceará, disparou e chegou ao valor mais alto da história.
Além do período em que as atividades econômicas foram interrompidas, a mão de obra reduzida, os contêineres estagnados em portos de todo o mundo e a oferta restrita, algumas linhas marítimas foram suspensas.
Após quinze meses do início da pandemia no estado, as empresas passam por sérios problemas relacionados a disponibilidade de frete marítimo internacional e valor elevado de tarifas. Antes do início da pandemia, o valor de um frete marítimo China - Ceará era em torno de USD 2,000.
Hoje, o valor pode ultrapassar os USD 10,000 para um contêiner de 40 HC. Usuários desse tipo de serviço afirmam que, além do alto preço, enfrentam atrasos de navios e alterações nas escalas. As incertezas sobre o futuro ameaçam a competitividade internacional. É fato que "mar calmo nunca fez bom marinheiro", mas a logística é uma cadeia estratégica. Para fortalecer e preparar as empresas brasileiras para o mercado internacional é essencial organização e estabilização da logística global.