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Ceará mira em novas tecnologias para não perder espaço na produção leiteira
Economia

Ceará mira em novas tecnologias para não perder espaço na produção leiteira

Programa Nordeste Leiteiro| Projeto-piloto visa profissionalizar a cadeia do leite e modernizar a produção no Ceará. A meta é reduzir em 20% os custos estruturais do pequeno produtor e expandi-lo em 20% ao ano
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Uma das metas do programa Nordeste Leiteiro é elevar a produção anual cearense para 10 mil litros de leite por vaca (Foto: Divulgação/Matheus Amorim)
Foto: Divulgação/Matheus Amorim Uma das metas do programa Nordeste Leiteiro é elevar a produção anual cearense para 10 mil litros de leite por vaca

A pecuária de leite no Ceará, que entre os anos de 2015 e 2019, conseguiu acumular crescimento de quase 63% na produção, mesmo em cenário de seca severa, observa hoje risco nesta trajetória. Sob a pressão dos efeitos econômicos da pandemia, como a alta expressiva do preço dos insumos, a produção cearense no primeiro trimestre deste ano recuou 7,03% ante o trimestre imediatamente anterior, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para tentar retomar a perspectiva de crescimento, um projeto-piloto com pequenos produtores visa aumentar a profissionalização da cadeia do leite e permitir a expansão da pecuária de forma sustentável.

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A primeira fase do Programa Nordeste Leiteiro, que teve início nesta semana e se estende até amanhã, em Limoeiro do Norte, está levando capacitação para 12 pequenos produtores das regiões Centro Sul, Sertão Central e Vale do Jaguaribe. Organizado em quatro etapas, o programa, promovido pela indústria de laticínios cearense Betânia, a maior do segmento no Nordeste, deve alcançar 50 produtores até o fim deste ano.

Um dos pontos chave do programa é a disseminação de uma tecnologia conhecida como Compost Barn, que dentre outros diferenciais, possibilita reduzir custos de implantação e manutenção, melhorar índices produtivos e sanitários dos rebanhos e possibilitar o uso correto de dejetos orgânicos provenientes da atividade leiteira. A meta é reduzir em 20% os custos estruturais do pequeno produtor, além de expandir a produção em 20% ao ano.

“A ideia é promover uma verdadeira revolução na pecuária com a tecnologia Compost Barn, modelo de produção que garante mais conforto aos animais e melhor desempenho na fazenda”, explica David Girão, presidente do Instituto Luiz Girão, braço social da Betânia.

Segundo maior produtor de leite do Nordeste, o Ceará produziu 80,4 milhões de litros de leite cru ou resfriado no primeiro trimestre de 2021, conforme a Pesquisa Trimestral de Leite, do IBGE. Está atrás apenas da produção baiana (159,8 milhões).

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O coordenador do programa, Carlos Matos, que já foi secretário de Agricultura Irrigada do Estado, explica que a produção leiteira no Ceará vem dando largos passos em termos de produtividade. Se na década de 90, por exemplo, a produção anual era de 700 litros de leite por vaca, em razão de programas de incentivo à produção, atualmente, esta média está em 1.700 litros por vaca. Mas já há produtores atingindo a marca de 5 a 6 mil litros por animal.

Com o programa, ele acredita que será possível atingir uma produção anual de 10 mil litros/ vaca. “O programa foca em ganho de produtividade e eficiência, isso permite que possamos ter menor impacto ambiental, caminhando para uma tendência mundial de carbono zero e aumentando a renda do produtor. Estamos falando de pecuária 4.0” .

O professor do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Rodrigo Gregório, reforça que, entre os anos de 2015 e 2019, houve ainda um ganho de expertise na produção cearense alicerçado em três pontos principais: uso de irrigação para produção de alimentos volumosos, que é a base da alimentação do gado leiteiro; a adoção de técnicas de conservação de forragem; e a substituição de rebanho por animais de maior produtividade. Foi isso o que assegurou aos produtores cearenses atravessarem pelo período de crise hídrica mais crítico com crescimento expressivo da produção, mesmo diante da diminuição do rebanho. “Diferente do que ocorreu em outros estados da Região”.

Mas a pandemia trouxe novos desafios. A combinação de preço das commodities elevado no mercado internacional e dólar alto, por exemplo, favoreceram a exportação de grãos, o que têm refletido na oferta e nos preços dos insumos no mercado interno. Além disso, houve a queda do consumo e da renda das famílias também pesaram para redução da margem de lucro dos produtores.

“Além de ganho em produtividade, o maior desafio hoje é desenvolver soluções, de médio e longo, customizadas, com base na realidade de cada fazenda, para tornar o sistema de produção menos suscetíveis às oscilações internacionais. Senão fizer isso, certamente a tendência será de queda na produção”

Sobre o setor :

Quantidade de leite cru, resfriado ou não, adquirido no Nordeste (em mil litros):

1º trimestre/2021:

Brasil -     6.555.592

Bahia -     59.872

Ceará -    80.443

Sergipe - 69.237

Pernambuco - 63.471

Maranhão - 16.372

Alagoas - 16.216

Paraíba - 16.101

Piauí -3.947

Fonte: Pesquisa Trimestral de Leite/IBGE

 

Como vai funcionar o programa Nordeste Leiteiro

O Nordeste Leiteiro é uma iniciativa da Betânia Laticínios para estimular a profissionalização da cadeia do leite e permitir a expansão da pecuária de forma sustentável no Ceará. Estruturado em quatro etapas, o programa  
também se divide entre os projetos:

Mestre Leiteiro -  assistência técnica especializada

Escola do Leite -  imersão

Mais Leite, Mais Renda -  com abertura de crédito e fornecimento de insumos com baixo custo para os produtores de leite

Casa do Leite - com a introdução da tecnologia de Compost Barn

Município Amigo do Leite - visa engajar os municípios nordestinos nesse processo de desenvolvimento para potencializar o apoio ao produtor na ampliação e fortalecimento da cadeia do leite nos municípios.

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