O mês de agosto costumava ser marcado pela intensa presença do turista europeu no Ceará. Parte significativa deles vinha com objetivo de praticar ou acompanhar eventos de kitesurf e outros esportes ligados à temporada de ventos no Estado.
Fortaleza, contudo, servia basicamente como ponto de chegada desses viajantes, que logo seguiam para praias de outros municípios da Região Metropolitana. A pandemia de Covid-19 acabou por alterar esse panorama. O número de voos internacionais a chegar ou a partir da Capital representou apenas 1,6% do total, no último mês de julho, segundo estimativa da Fraport, empresa que administra o Aeroporto de Fortaleza. Com isso, o foco do trade turístico passou a ser o visitante nacional e, mesmo, do próprio Ceará.
Mas, para além da mudança na origem dos viajantes, Fortaleza passou a se tornar um polo atrativo relacionado ao kitesurf. Segundo explica o secretário municipal do Turismo, Alexandre Pereira, a Capital “agora também é base dessa modalidade turística. Nós tínhamos um problema na temporada passada, por conta do número de restrições ainda muito elevadas em razão da primeira onda da pandemia. Nas temporadas anteriores, por outro lado, não tínhamos base do esporte aqui. Agora, nós temos um ponto de velejo espetacular na Barra do Ceará e outro na Praia do Futuro”.
O gestor acrescenta que a nova frente aberta deve compensar a ausência do turista estrangeiro em Fortaleza no mês de agosto, que coincidia também com o período de férias na Europa. “Nós estamos com o turismo internacional comprometido, mas com um turismo nacional muito intenso, com taxas de ocupação hoteleira em níveis bem acima do esperado de leste a oeste da orla da cidade”, disse Alexandre Pereira, citando números da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará (ABIH-CE). Conforme a entidade, esse índice chega a 61% na Capital, ainda inferior aos 76% registrados em 2019.
“Com o acréscimo dos índices registrados nas pousadas, a rede de hospedagem em Fortaleza alcança cerca de 70% de ocupação”, acrescenta o secretário municipal do Turismo. Ele cita outro dado que tem animado o segmento turístico da capital, que é a movimentação rodoviária. Hoje, conforme levantamento da Secretaria do Turismo de Fortaleza (Setfor), a cidade é o segundo destino mais procurado no Nordeste por quem viaja de ônibus, perdendo apenas para Salvador. A propósito, uma das explicações para essa procura pode ser a criação de rotas integradas com outras capitais nordestinas, como Natal e São Luís.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Viagens no Ceará (Abav-CE), Murilo Santa Cruz, “com essas duas rotas que são Fortaleza-Aracati-Pipa-Natal e Fortaleza-Paracuru-Jericoacora-Tutóia-São Luiz, nós ganhamos um produto importantíssimo para o portfólio do nosso segmento e favorece o turismo de raio curto que prevalece na atualidade”. Ele lembra que a experiência já vinha sendo trabalhado de forma bem-sucedida em países europeus. “Em vez de disputar o mesmo turista com outras cidades e Estados nós estamos agora aproveitando e expandido a experiência de viagem dele”, resume.
O presidente da Abav-CE afirma que o segmento está entusiasmado com a perspectiva de reabertura em países como Espanha e França, mas principalmente dos Estados Unidos, que pode voltar a receber turistas brasileiros, sem necessidade de quarentena intermediária em outros países. “Temos informações de que o Brasil entrará na próxima lista de flexibilização do turismo norte-americano, mas com aquele protocolo de imunização completa com duas doses de vacina ou com a dose única da Janssen e testes para detecção da Covid-19”, antecipa.
Por sua vez, o secretário do Turismo do Ceará, Arialdo Pinho destaca que o avanço no ritmo de vacinação no Estado deve acelerar a recuperação do segmento. “Em termos estaduais, julho foi dentro do esperado, agosto deve ter uma queda por conta da ausência do turista europeu, mas, com a perspectiva de chegarmos a 50% da população adulta vacinada com duas doses em outubro, a tendência é aumentar o fluxo turístico continuamente, a partir daí. No próximo verão, por exemplo, nós esperamos já ter o mercado operando a 85% da capacidade que tinha no período pré-pandêmico”, projeta.