A pandemia de Covid-19 levou muitas empresas por todo o País a adotarem o trabalho remoto, ou home office, de forma quase instantânea em meados de março de 2020. E durante a primeira onda da doença, o Ceará ocupou a quinta posição entre as 27 unidades da federação nessa modalidade de trabalho, segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em média, 10,1% da população empregada e não afastada (cerca de 258 mil pessoas) no Estado trabalhou de casa no ano passado.
O Distrito Federal liderou esse ranking, com 23,6% dos profissionais ocupados e não afastados trabalhando em regime home office. Outros três estados aparecem à frente do Ceará: Rio de Janeiro (18,7%), São Paulo (16%) e Paraíba (12,2%). Por sua vez, o com menor adesão ao trabalho remoto em 2020 foi o Pará (3,5%), seguido por Mato Grosso (4,6%), Maranhão (4,9%), Amazonas (5,2%) e Rondônia (6,05%). Já a média nacional ficou em 11%, o que corresponde a pouco mais de 8,1 milhões de brasileiros.
Outro estudo, dessa vez divulgado em parceria entre a Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e pela Fundação Instituto de Administração (FIA), aponta que 73% dos trabalhadores em home office estão satisfeitos com o trabalho em casa. Por sua vez, somente 14% disseram desejar retornar ao trabalho presencial. Outros 8% declararam ser indiferentes ao formato de trabalho. A pesquisa apontou ainda que 81% consideraram a produtividade em casa maior ou igual à registrada no modelo tradicional.
Esse é o caso do programador Daniel Rosendo, 25 anos, que se considera mais produtivo e satisfeito nesse formato. Ele mora em Fortaleza, mas está trabalhando desde o início da pandemia para uma empresa de Tecnologia da Informação (TI) de Curitiba, no Paraná.
"Na minha área é muito melhor o home office, pois tenho como manter minha estrutura de trabalho muito bem definida, quanto à questão de equipamentos e tudo mais", avalia o profissional.
Daniel vive com os pais e conta que no início o trabalho remoto mexeu com a rotina familiar. "No começo, era um pouco estranho para eles que haviam se acostumado a me ver pegar ônibus para ir ao trabalho, mas com o tempo eles foram se acostumando. Agora, é como se realmente eu já estivesse no local de trabalho quando eu entro no meu quarto", relata. "Além disso, quando chega minha hora de almoço eu posso descansar de verdade e, ao fim do expediente, ganho duas horas que perderia voltando para casa", ressalta.
O profissional lembra, contudo, que essa separação entre horário de trabalho e horário de descanso não se deu de forma imediata. "No início da pandemia, eu senti que a carga de trabalho ficou mais elevada em relação à que eu teria se fosse no formato presencial. Isso foi sendo modificado e melhorado", admite.
Ao fim da pandemia, a empresa em que o programador cearense trabalha realizará um evento reunindo colaboradores, mas deve manter o modelo home office.
Para Vinícius Rêgo, sócio da PwC Brasil, empresa de consultoria e auditoria, a realidade de Daniel deve ser a mesma de muitos profissionais. "Eu acredito que o futuro é híbrido. As pessoas precisam de conexão e construir laços, mas não acredito que o trabalho volte a ser 100% presencial", projeta.
Vinícius acrescenta que "haverá uma demanda, inclusive, geracional por essa flexibilidade em relação ao espaço de trabalho. Então, se tivesse que apostar, eu diria que as empresas que querem forçar uma volta 100% presencial, provavelmente, vão ter de rever essas decisões lá na frente".