Com demanda crescente por combustíveis diante da aceleração do processo de retomada econômica, aumenta a pressão do mercado sobre o anúncio da Petrobras da incapacidade de fornecimento de demandas por diesel e gasolina acima do esperado para o mês de novembro. A estatal destaca o registro de pedidos 20% acima do esperado para fornecimento de diesel e 10% acima do projetado para gasolina no País que tem se espelhado no Ceará no que diz respeito ao diesel. Assim, com estado de "inadequação" no mercado, o risco de faltas pontuais se aproximam do consumidor brasileiro.
No Ceará, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Sindipostos/CE) revela que o setor articula a preparação de estoque para garantir abastecimento no Estado. A entidade afirma ainda que a medida não representará um novo aumento imediato no preço dos combustíveis, mas admite que haverão faltas pontuais nos postos do Estado.
O Sindipostos no Ceará pontua ter sido comunicado com antecedência sobre o fornecimento abaixo da demanda, o que permitiu planejamento para minimizar os impactos para o consumidor. O assessor econômico da entidade, Antônio José Costa detalha ainda que o estado de inadequação no fornecimento já ocorreu em outras ocasiões e que os preços somente seriam inflacionados se a situação se persistir por um período longo de tempo, o que considera improvável.
A estatal classifica a demanda excessiva como "atípica tanto em termos de volume como no prazo para fornecimento" e pontua que o cenário impacta todas as regiões do país. Para o consultor em petróleo e gás, Bruno Iughetti, a demanda excessiva é ocasional e deve ser vista como o marco definitivo na aceleração da retomada econômica.
"A corrida pela retomada econômica já levou o barril de petróleo para US$ 85 com tendência de alta, esse retorno mais próximo da normalidade de mercado exige uma maior demanda de combustível, o que faz com que o preço dispare mundialmente", destaca o especialista.
No Estado o maior impacto se dará com relação a oferta do litro do diesel para os consumidores conforme o Sindipostos do Ceará. "O consumidor precisa, por enquanto, apenas se planejar para evitar dirigir na reserva. Poderão haver faltas pontuais, um posto ou outro pode ficar sem o combustível devido atrasos no fornecimento, mas a situação deve ser normaliza em algumas horas ou talvez no máximo no outro dia", argumenta José.
Com base em dados da Agência Nacional de Petróleo, entre janeiro e setembro de 2020, o Brasil registrou importação de 8,7 mil m³ de óleo diesel. Em igual período deste anos, a importação está no patamar de 10,2 mil m³.
Sobre as perceptivas para o futuro, Bruno destaca que a demanda por combustível do mercado nacional aumentará e que a Petrobras precisará do reforço das importações para abastecer os postos. Enquanto em 2020 o mercado interno dependia 23% de diesel importado, em 2021, a dependência saltou para 25,3% até o mês de setembro e segue em tendência de alta.
Diesel entra na 7ª semana consecutiva de alta no Estado
Entre 29 de agosto e 23 de outubro deste ano, o preço médio do diesel acumula alta de 8,95% no Ceará. Conforme dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o combustível entra na sétima semana de alta consecutiva no Estado.
O preço médio do litro saiu de R$ 4,83 na última semana de agosto para R$ 5,26 até o dia 23 de outubro e se consolida como o mais caro do Nordeste. No Estado, o litro do produto é comercializado por até R$ 5,49.
O cenário acende um alerta diante dos anúncios de greve dos caminhoneiros, prevista para o dia 1º de novembro. O contexto é agravado pelos riscos de falhas pontuais no abastecimento de postos de combustíveis diante do cenário de "inadequação" no fornecimento por parte da Petrobras.
O Sindicado dos Caminhoneiros do Ceará (Sindicam/CE) destaca que a entidade não participa das articulações do movimento da greve, mas que encontros com demais entidades representantes dos caminhoneiros reforçam a ideia de que a paralisação pode ser evitada no Ceará.
"Tivemos uma reunião com representantes do setor na última sexta-feira e, ao que tudo indica, essa questão vai ser contornada. Mas o problema do aumento do diesel continua, a nossa classe, do transporte de cargas não vai paralisar, mas o preço está inviabilizando o trabalho de todo mundo", afirma Clovis Fava, presidente do Sindicam/CE.
O representante do setor destaca que o custo com o combustível representa 60% dos gastos operacionais dos trabalhadores do segmento. "Não sabemos mais o que fazer, paralisar não é a solução, mas, em breve, vamos estar pagando
para trabalhar".
Para o consultor em petróleo e gás, Bruno Iughetti, a problemática precisa ser analisada com um viés técnico. Ele critica o uso de soluções provisórias e destaca ainda que a reestruturação da cobrança sobre venda e distribuição dos combustíveis é o caminho para recuperação econômica mais coesa e bem estruturada.
Diesel no Nordeste
Ceará
Preço médio: R$ 5,26
Mínimo: R$ 4,85
Máximo: R$ 5,49
Piauí
Preço médio: R$ 5,24
Mínimo: R$ 4,80
Máximo: R$ 5,59
Rio Grande do Norte
Preço médio: R$ 5,21
Mínimo: R$ 4,85
Máximo: R$ 5,52
Alagoas
Preço médio: R$ 5,17
Mínimo: R$ 4,89
Máximo: R$ 5,65
Pernambuco
Preço médio: R$ 5,17
Mínimo: R$ 4,76
Máximo: R$ 5,29
Sergipe
Preço médio: R$ 5,10
Mínimo: R$ 4,98
Máximo: R$ 5,44
Bahia
Preço médio: R$ 5,03
Mínimo: R$ 3,89
Máximo: R$ 5,47
Maranhão
Preço médio: R$ 5,02
Mínimo: R$ 4,84
Máximo: R$ 5,29
Paraíba
Preço médio: R$ 4,92
Mínimo: R$ 4,74
Máximo: R$ 5,29
Fonte: ANP
Preço do diesel no Ceará
Apenas um posto foi consultado com preço de R$ 5,37
Fonte: Agência Nacional do Petróleo (ANP), com dados coletados entre 17 e 23 de outubro