Com poucos carros 0 km sendo colocados no mercado devido à redução de capacidade das fábricas, o consumidor que compra um veículo novo na concessionária pode esperar até três meses para receber o veículo. A solução tem sido recorrer aos veículos usados. Essa alternativa, porém, não tem sido das mais agradáveis ao bolso. Especialistas pontuam que os seminovos e usados tiveram em 2021 valorização que não se via desde o Plano Cruzado (nos anos 1980). Em Fortaleza, a alta consolidada chega a 9,65% entre janeiro e setembro, mas alguns modelos superam esse percentual.
Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) - que é a entidade que tem a maior expertise em relação aos valores de carros seminovos e usados, de fevereiro de 2020, antes da pandemia, até julho deste ano, os preços dos usados subiram mais de 24%. No mesmo período, a valorização dos modelos zero quilômetro foi de 20%. Quando analisamos o recorte entre setembro de 2020 e setembro passado, últimos 12 meses, a variação de preços já chega a 30,25%.
Segundo dados do IBGE, as altas continuam. Em outubro, as famílias pagaram mais pelos automóveis novos (1,64%), automóveis usados (1,56%) e motocicletas (1,27%). O caso dos automóveis usados merece maior atenção já que eles seguem em trajetória de alta há 13 meses seguidos.
Numa condição de mercado normal, um automóvel perde entre 15% e 20% de seu valor de mercado após um ano de uso. Mas tem sido comum ver modelos que valorizam e os donos podem negociar o veículo por mais dinheiro do que pagaram na compra. Esse foi o sinal para muitos motoristas voltarem à concessionária e buscarem a troca.
De acordo com Everton Fernandes, presidente do Sindicato dos Revendedores de Veículos Automotores do Estado do Ceará (Sindvel-CE), o desequilíbrio entre oferta e demanda advém desde a quebra da cadeia de produção em 2020, o que impactou tanto o mercado de seminovos, quanto de usados. Quando não há produção suficiente de novos, o estoque dos seminovos diminui por consequência.
Everton lembra que antes da pandemia houve a migração de muitos consumidores para o transporte público ou por aplicativos, diminuindo a quantidade de veículos na garagem como forma de diminuir custos. Mas, com o início da pandemia e a necessidade de isolamento social, precisaram recomprar os veículos. Foi aí que o equilíbrio da cadeia ruiu.
"A nossa expectativa é que o reequilíbrio só volte em 2023. A retomada da produção de automóveis deve melhorar só em 2022, pois há problemas com a falta de componentes para a fabricação", explica.
Dentre os itens que estão em falta na indústria automobilística, estão componentes eletrônicos, como chips, essenciais para sistemas de segurança, aceleração, freios e iluminação.
No Ceará, os veículos com maior valorização foram os populares completos - com vidros e travas elétricos, ar-condicionado, tiveram um aumento muito maior com esses carros, mas, de forma geral, todos subiram de preço. Everton conta que até linhas de marcas de alto padrão, como a Jeep enfrentam problemas. Os clientes que não querem esperar na fila de espera do carro novo, buscam os modelos seminovos, inflacionando o preço.
Entre os modelos que apresentam as maiores valorizações, está o Fiat Marea 2002, com alta de 8,5%, segundo a plataforma de compra e venda de veículos InstaCarro. Mas há casos, como o do Hyundai Tucson 2018, que a valorização foi 33,5%.
Sávio Torres é proprietário da Savel Veículos e conta que a grande dificuldade tem sido repor o estoque, já que as vendas nunca estiveram tão aquecidas em pelo menos um ano e meio. "Enquanto não regularizar as entregas dos veículos novos, as vendas não devem esfriar."
Confira os modelos mais inflacionados:
1° - Hyundai Tucson 2018
Valorização: 33,50%
2° - Chevrolet Tracker 2021
Valorização: 12,88%
3° - Mitsubishi L200 Triton 2018
Valorização:10,30%
4° - Mercedes-Benz GLA 250 2015
Valorização: 9,50%
5° - Volkswagen Fox 2022
Valorização: 8,70%
6° - Fiat Marea 2002
Valorização: 8,50%
7° - Volkswagen Saveiro 2015
Valorização: 8%
8°- Volkswagen Polo 2020
Valorização: 7,90%
9° - Volkswagen Cross Up 2019
Valorização: 7,50%
10° - Fiat Strada 2021
Valorização: 7,40%
Fonte: InstaCarro
VALORIZAÇÕES NA TABELA FIPE - Usados (%)
Setembro - 3,06
Acumulado 20212 - 4,49
Acumulado em 12 meses - 30,25
Fonte: Fipe