Com grande incidência de ventos, notadamente entre os meses de agosto a novembro, e solar praticamente o ano inteiro, o Nordeste tem revertido o estigma de região “importadora” de energia, em ritmo vertiginoso.
Para se ter uma ideia, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a região praticamente quadruplicou a exportação de energia no comparativo entre janeiro e novembro de 2021, com o período equivalente do ano anterior, passando de 8,1GW médios para 30,8 GW médios. Somente em setembro último, foram exportados 7,9 GW médios.
Grande parte dessa mudança ocorreu devido à expansão das matrizes eólica e solar no Nordeste, que passou de aproximadamente 44% para 54% em um ano. Outro fator foi a melhoria das linhas de transmissão, notadamente, as que conectam a região ao Sistema Nacional Elétrico ou diretamente ao subsistema Sudeste/Centro-Oeste, esse último bastante afetado em 2021 por uma das maiores crises hídricas dos últimos 100 anos.
Para o secretário-executivo de Energia e Telecomunicações da Secretaria de Infraestrutura do Ceará, Adão Linhares, “acabou aquela preocupação de que a nossa rede não aguentaria, que não teria capacidade de absorver a quantidade de energia gerada em nossos parques eólicos e solares. Isso já foi um impedimento para que a gente pudesse exportar antes. Com a crise hídrica, o governo federal antecipou obras de linha de transmissão de interconexão com o Sudeste, por exemplo”.
Linhares demonstra otimismo com a proximidade do leilão de uma linha tecnicamente conhecida como bipolo de corrente contínua para conectar Nordeste e Sudeste. “Deve ser anunciado nos próximos meses e quando estiver em operação vamos poder levar energia em grande quantidade, com uma rede de ponta a ponta, tal como já existe em relação a Belo Monte. Então, a geração eólica e solar que temos aqui, com essas melhorias no sistema, vão se sacramentar como nosso grande trunfo”, projeta.
O deputado federal (PSDB-CE), Danilo Forte, cita outros fatores que também ajudam a explicar essa mudança do perfil do Nordeste, inclusive do Ceará, no que se refere à capacidade de exportar energia com matriz predominantemente limpa. “Um deles é o próprio avanço tecnológico combinado com a percepção da importância dessas fontes renováveis. O outro é o pioneirismo, principalmente do nosso Estado, em energia eólica, por exemplo. Também houve esse fato raro de seca no Sudeste e soubemos transformar a crise em oportunidade”, destaca.
O parlamentar, que também preside uma frente na Câmara dos Deputados focada em energias renováveis, acrescenta ainda que em municípios onde foram implantados parques eólicos ou solares, houve melhoria de 25% no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e disse estar otimista com a aprovação de um projeto de lei que regulamenta a energia offshore (com aerogeradores instalados no mar).
Apesar disso, ele ressalta a importância de melhorar o sistema de tributação sobre a geração de energia e alerta para a perda de protagonismo do Ceará no mercado eólico, do qual já foi líder e hoje ocupa a terceira posição no Nordeste. Quanto à energia solar, o deputado ressaltou a força do Estado na capacitação de mão de obra para trabalhar com essa tecnologia.
Por sua vez, o consultor de Energia da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Jurandir Picanço, enfatizou a participação do Nordeste também nos projetos candidatos a leilões do Governo Federal de energias renováveis. “Somos 92% do total em energia eólica e 75% em energia solar. São projetos prontoss para serem executados desde que tenham os contratos firmados”, conclui.