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Mais três hotéis na Beira Mar entram na lista de compras de construtoras para virar residenciais
Economia

Mais três hotéis na Beira Mar entram na lista de compras de construtoras para virar residenciais

|Especulação| Alta do mercado imobiliário de luxo ameaça existência de hotéis na mais famosa avenida da Capital
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O Ponta Mar Hotel, na avenida Beira Mar, é  um dos empreendimentos visados por construtoras  (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS O Ponta Mar Hotel, na avenida Beira Mar, é um dos empreendimentos visados por construtoras

O impacto da pandemia sobre o turismo e o aquecimento do mercado imobiliário de luxo vai causar uma mudança no perfil dos edifícios da avenida Beira-Mar, em Fortaleza, tornando-a mais residencial. Após a informação da compra do Ponta Mar Hotel, do Vela e Mar e do Samburá, ao menos três outros empreendimentos estão sendo assediados por construtoras, segundo revela Ivana Bezerra, empresária do ramo e presidente do Convention&Bureau Ceará.

Ela optou por preservar o nome dos hotéis e dos donos, mas assegurou que há os contatos e admitiu temer pelo setor caso os empresários cedam aos valores oferecidos. Para Ivana, a troca de um edifício de hospedagem por um habitacional é uma perda para a economia do Estado, uma vez que o hotel gera mais empregos e impostos do que um condomínio.

Como solução, a empresária reclama mais apoio aos hoteleiros já em atividade no Ceará. “É preciso estímulo, porque só há estímulo para os que chegam, mas aqueles que estão aqui, fazendo o dever de casa, não têm incentivo”, protesta.

O poder de atração de empreendimentos do tipo para o turismo do Estado também é destacado por ela ao reforçar que "temos uma orla que é um atrativo pro turista, e quanto mais opções melhor”. De acordo com ela, mais hotéis significa mais poder de atração e, com mais turistas sendo atraídos, mais todo o trade se beneficia.

Mas sem um fluxo de turistas relevante desde março do ano passado, quando a pandemia de Covid-19 foi deflagrada no Estado, com interrupções indiretas do funcionamento a cada nova onda da pandemia, o setor hoteleiro cearense começou a reagir apenas no segundo semestre de 2021.

Desde as férias - apesar de sem eventos tradicionais como Fortal -, a ocupação vem numa escalada ascendente e chegou a alcançar patamares pré-pandemia em outubro.

“A gente está no prejuízo há quase dois anos, sem muita ajuda do poder público. Aí chega um construtor com uma proposta indecente, que você passaria o resto da vida e não conseguiria ganhar com o que está sendo oferecido pelo hotel”, lamenta, apontando o impacto da crise deflagrada pela pandemia de Covid-19 sobre o setor.

Régis Medeiros, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hoteis (ABIH), diz que a venda dos três hotéis ventilada no mercado ontem “não é muito expressiva para o setor em termos de oferta de leitos”. Ele fala “em uma readequação do mercado” ao mencionar o assédio das construtoras e diz ainda que “há muito zum zum zum de compra”, mas nada confirmado.

“O mercado imobiliário está muito aquecido e os valores dos terrenos estão muito elevados. Isso coloca interrogações nas cabeças dos empreendedores e você vê custo de operação, resultado líquido... Quando se tem a oferta de um recurso bem elevado, porque o terreno é bem valioso, faz as contas para saber se vale a pena. Mas cada um faz suas análises”, arremata.

Do outro lado do balcão, as construtoras avançam sobre as áreas nobres de Fortaleza com a proposta de dotar os espaços de ambientes cada vez mais luxuosos e exclusivos. A avenida Beira-Mar, pela localização estratégica dentro da Capital, e visual único na Cidade, tem sido uma das mais cobiçadas.

A orla de Fortaleza deve ter, nos próximos anos, edifícios residenciais de luxo de mais de 40 andares e 165 metros de altura, como O POVO adiantou no último domingo. São pelo menos oito projetos em andamento com essas características, cujo preço da unidade gira em torno de R$ 1,5 milhão.

E caracteriza uma demanda maior do que a oferta de terrenos na região, por isso a compra de edifícios mais antigos ou mesmo hotéis, como os que falaram ontem e os que ainda estão sendo assediados.

Nossa cidade vai ter um samba, diz sócio-fundador da Normatel

Ao confirmar que o empresário João Ary negociou a compra do Ponta Mar Hotel para virar residencial, Antônio José de Freitas Mello, sócio-fundador da Normatel, diz que a Lei de Outorga tem ajudado a acabar com a retidão das paredes, que tornavam Fortaleza "uma cidade feia".

"Nossa cidade agora vai ter um desenho, vai ter um samba, arranha-céus, vai dançar", diz, ao O POVO.

Ele se refere à alteração na lei de uso e ocupação do solo de Fortaleza, de 2015, do então prefeito Roberto Cláudio (PDT). Mais conhecida como Lei de Outorga Onerosa, ela foi regulamentada na Capital após a lei Federal Estatuto da Cidade, que norteia a Constituição de 1988 em relação à política urbana, criar a outorga de alteração de uso.

Basicamente, o texto permite que os edifícios excedam o limite do coeficiente de aproveitamento básico da área em que serão construídos se a concessão do imóvel for paga em valor monetário para a Prefeitura de Fortaleza. Ou seja, é uma contrapartida ao município para quem construir acima do teto. 

A alteração era uma demanda dos empresários da indústria construção civil e facilita a edificação dos arranha-céus. Porém, Régis Medeiros, presidente da ABIH-CE, diz que, embora seja uma facilidade, a compra de hotéis para virar residenciais é um movimento de mercado, que está aquecido. 

E a parte de incorporação da Normatel tem alguns projetos neste sentido. Antônio José de Freitas Mello lembra do edifício São Carlos e do Dona Cotinha, ambos na Beira-Mar.

O Dona Cotinha, onde ficava casarão da família Jereissati, terá residencial de 32 andares, mas 26 apartamentos. As obras começaram há pouco mais de três meses e o projeto é assinado pelo escritório Luiz Fiuza Arquitetos.

A poucos metros, ao lado do estacionamento do Ideal Clube, o São Carlos de 36 pavimentos. São 10 vagas de garagem para cada apartamento. E aí virá ainda o de 44 andares, perto do Náutico, no lugar do Ponta Mar Hotel.

 

 

 

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