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No Ceará, 80% da chefia da Receita Federal entrega os cargos
Economia

No Ceará, 80% da chefia da Receita Federal entrega os cargos

Protesto| Ação é uma resposta contra a medida do Governo Federal que prevê corte de 50% no orçamento do órgão. Sindicato prevê entrar na Justiça e mobilizar outras categorias em janeiro
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Anúncio na fachada do prédio da Receita Federal, localizado no bairro Aldeota. (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Anúncio na fachada do prédio da Receita Federal, localizado no bairro Aldeota.

Dos 55 auditores fiscais em cargos de chefia na Receita Federal no Ceará, 44 pediram exoneração de seus postos em protesto contra o Governo. No Brasil, esse número chegou ontem a 738, com 93% deles sendo delegados (chefes de unidade). O movimento acontece em meio à insatisfação dos servidores por conta dos cortes no orçamento do órgão. Ontem, a categoria deflagrou greve nacional e todas as áreas serão afetadas, com destaque para as alfândegas, portos e aeroportos, e pontos de fronteira, com maior lentidão nas importações e exportações. 

De acordo com informações do Sindifisco, na 3ª Região Fiscal, que compreende Ceará, Maranhão e Piauí, dos 118 cargos de chefia, 80 auditores que ocupavam as funções já pediram exoneração da função. Em todos os casos, a saída do cargo não implica em saída do órgão. O sindicato informa que continua aguardando reunião com o Governo e que ontem foi solicitada audiência com ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), o único a estar essa semana em Brasília, mas até o momento não obteve resposta.

Há três anos tendo o orçamento anual reduzido, a Receita Federal terá em 2022 mais um arrocho orçamentário de 50%. Os cortes atingem principalmente nos investimentos que seriam feitos na área de informatização e tecnologia.

Para a auditora-fiscal e presidente do Sindifisco Ceará, Patrícia Gomes, tamanho corte de orçamento, num órgão essencial para o País, num momento de retomada e em que a arrecadação eficiente se mostra fundamental, pode diminuir a capacidade do próprio estado de se fazer presente na vida das pessoas através de investimentos em políticas públicas.

"Certamente um dos efeitos da paralisação será a redução da arrecadação em tributos federais. Não deve ser imediato, mas com a suspensão da atuação dos auditores, cairá também por conta da redução de recursos no orçamento da Receita", destaca ela.

Os auditores da Receita Federal já adotaram a chamada "operação padrão" nos aeroportos e demais alfândegas do País, o que apesar de não paralisar a atividade considerada essencial, deixaria o serviço mais lento, como forma de pressionar o governo a regulamentar o pagamento de um "bônus de eficiência" à categoria, acordado há pelo menos cinco anos com a categoria e ainda não cumprido.

"O trabalho de fiscalização está sendo suspenso, aprovamos "meta zero" na última assembleia realizada pelos auditores fiscais. Então, até o cumprimento desse acordo e a destinação desses valores à Receita Federal, não vamos retroceder", completa.

Aumento de policiais federais foi estopim 

Várias categorias do serviço público federal, além dos auditores fiscais, pressionam o Governo Federal por reajuste salarial em 2022. A insatisfação aumentou depois que o presidente da República, Jair Bolsonaro, priorizou destinar R$ 1,7 bilhão para aumento salarial apenas de policiais federais, em um aceno eleitoral no ano em que tentará a reeleição.

No Ceará, o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal do Estado do Ceará (Sintsef-CE), Roberto Luque, afirma que tal ação privilegiando uma só categoria pode ser caracterizada como discriminação. A ideia agora é estudar com as demais categorias ingressarão com medidas judiciais.

“Todos nós estamos sem reajuste salarial desde 2016, aí no último ano de governo Bolsonaro, vem conceder o reajuste somente para policiais. O artigo 60 da Constituição diz que é prerrogativa do Governo conceder reajuste e não permite discriminação entre os servidores civis. Para nós, o presidente comete uma discriminação enorme, desrespeitando um princípio legal”, enfatiza.

Próxima assembleia

O presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas do Estado (Fonacate), Rudinei Marques, informou que as diversas categorias de servidores federais farão uma assembleia conjunta na próxima quarta-feira, 29, às 10h30, para decidir sobre os próximos passos da mobilização. "Essa crise veio em um momento ruim, com muitos servidores em recesso fora de Brasília. Está difícil articular e encontrar as pessoas. Mas temos uma reunião hoje com as chefias de vários órgãos para medir o grau de insatisfação", afirmou.

Para Marques, o ideal seria que as demais categorias seguissem a Receita Federal e fizessem um movimento em bloco, para evitar uma onda de "perseguições e retaliações" por parte do governo. "Vamos construir esse entendimento nos próximos dias. Não há mesa de negociação instalada, ainda vamos ter que trabalhar para abrir esse canal de comunicação com o governo. Em governos anteriores apresentávamos demandas e recebíamos sim ou não. Agora nem isso", completa.

Na última sexta-feira, 24, o presidente Jair Bolsonaro defendeu a concessão de reajuste a servidores públicos federais no próximo ano e afirmou que o teto de gastos públicos é "mortal", um problema para o governo. Ele comentou sobre o bônus de eficiência dos auditores e reconheceu as dificuldades orçamentárias.

"A gente não quer furar teto, fazer nenhuma estripulia, mas não custava nada atendê-los", afirmou o presidente, que citou um impacto de aproximadamente R$ 200 milhões com o bônus aos auditores. "Ninguém pode prometer nada se não está no Orçamento. Realmente, o servidor está com dificuldade." (Com Agência Estado)

Agro

Após assembleia realizada ontem, os auditores fiscais federais agropecuários resolveram aderir à operação padrão, "mantendo o ritmo normal de trabalho somente nas atividades que podem afetar diretamente o cidadão, como a liberação de cargas vivas, a fiscalização de bagagens de passageiros e de animais de companhia (pets)." De acordo com o Sindicato, "a operação também não atingirá cargas vivas, produtos perecíveis e o diagnóstico de doenças e pragas, evitando comprometer programas de erradicação e controle de doenças importantes para o Brasil."

 

CARGAS

O Sindifisco estima que a semana de recesso de fim de ano diminua o impacto da paralisação, pois o volume de cargas nas aduanas é pequeno. Mas em janeiro a tendência é haver um represamento importante, inclusive de importações e exportações de alimentos.

Como será a greve

No encontro telepresencial dos servidores, o informe do Sindifisco é que todos os indicativos propostos pela Direção Nacional foram aprovados de maneira praticamente consensual.

O QUE PARALISA?

Entre as aprovações, estão a meta zero (paralisação total), a operação padrão nas aduanas e a entrega irrestrita de funções e cargos de chefia.

Indicativo 1: A meta zero foi aprovada por 99,13% dos presentes e inclui todos os setores e atividades da Receita Federal e do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), ressalvadas as decadências e demandas judiciais, até que o governo faça a publicação do decreto de regulamentação do bônus.

Indicativo 2: Com 99,39% de aceitação dos participantes, os auditores-fiscais deverão realizar a entrega ostensiva de todos os cargos em comissão e funções de chefia em todos os níveis hierárquicos na Receita Federal, assim como assumir o compromisso de não ocupar tais posições.

Indicativo 3: Aprovado por 99,36% dos votantes, indica a paralisação de todos os projetos nacionais e regionais do Plano Operacional, bem como determina que todos os Gerentes de Projeto requeiram seu pronto desligamento.

Indicativo 4: Também teve voto expressivo, 97,49%, a deliberação número 4, em que os servidores não efetuarão o preenchimento dos relatórios de atividades (RHAF, FRA, RIT) enquanto não for resolvido o impasse em torno da regulamentação do bônus.

O QUE NÃO PARA?

Indicativo 5: O quinto e último, que contou com 98,68% de adesão, versa sobre operação padrão nos portos, aeroportos e fronteiras terrestres, ressalvados medicamentos e insumos médicos e hospitalares, cargas vivas, perecíveis, bem como aquelas definidas como prioritárias pela legislação vigente, bem como o tráfego de viajantes em trânsito internacional.

Fonte: Sindifisco

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