O Grupo Itapemirim, em recuperação judicial desde 2016, segue gerando problemas no sistema de transportes brasileiro. Após interromper de forma abrupta a operação aérea da ITA, a Viação Itapemirim anunciou a suspensão a partir do dia 27 deste mês de 16 linhas de ônibus e 73 destinos em todo o Brasil, incluindo, municípios no Ceará. A empresa também atrasou salários dos funcionários por até cinco meses em 2021. Ontem, em protesto, trabalhadores rodoviários fizeram paralisação das atividades por duas horas em Fortaleza.
A manifestação liderada pelo sindicato da categoria ocorreu enquanto era realizada uma reunião entre advogados da Itapemirim e representantes dos trabalhadores, que buscavam mais um acordo para regularização dos meses de salários atrasados, além da retomada de benefícios, como cesta básica, vale-alimentação e vale-refeição, além de férias atrasadas de parte dos funcionários.
Segundo os trabalhadores, motoristas viajam pelas estradas sem qualquer garantia de recurso da empresa para almoço ou jantar. E há casos de funcionários que entraram de férias em outubro de 2021 e até o dia de ontem não tinham recebido o pagamento devido.
O POVO apurou que a empresa chegou a propor um acordo com o sindicato dos trabalhadores para quitar as dívidas em atraso até o fim de dezembro, mas não cumpriu. Realizou o pagamento de apenas uma quinzena de três meses de atrasos e, ainda assim, de forma parcelada em três vezes.
Por conta desse último descumprimento, além de Fortaleza, foram registrados protestos contra a empresa em Campo Grande (PB) e em Feira de Santana (BA). Carlos Jefferson, diretor-presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros Intermunicipal e Interestadual do Estado do Ceará (Sinteti), relata que os trabalhadores também não receberam a segunda parcela do 13º salário.
Ele ressalta que o contato com a empresa sempre é bem difícil e, quando conseguem acordo, o Grupo Itapemirim não faz mais cerimônia em descumpri-los. "Sempre é muito difícil entrar em contato com eles, quando conseguimos sempre nos prometem acordos, até mesmo por escrito, assinado e tudo com calendário de regularização, mas nunca cumprem".
O sindicalista ainda diz que a paralisação por duas horas é uma forma de chamar atenção ao drama desses trabalhadores, mas, que o serviço aos passageiros deve continuar, de forma a não prejudicá-los. "Os trabalhadores estão à mercê e não estão mais aguentando. Prometem como "sem falta" e faltam como "sem dúvida", esse é o lema da Itapemirim".
Após paralisação de duas horas, às 11h45min, o motorista Washington Rocha esperou o embarque de todos os passageiros no ônibus Itapemirim que saiu da Rodoviária Engenheiro João Tomé com destino a São Paulo, explicando o motivo da demora. Ao O POVO, disse que foi admitido na empresa há 11 anos, nos áureos tempos em que era a maior do setor na América Latina. Mas, nesta viagem, iria "ver como conseguiria almoçar".
"Estamos no limite. Vamos rodar normalmente hoje, mas amanhã (nesta terça-feira, 4) vamos realizar outra paralisação e esperar o que o advogado da empresa vai falar. É ruim sair de casa sem deixar alimento para a família, saímos porque somos profissionais, cumprimos nosso papel. A empresa deveria cumprir seu papel conosco, mas não está cumprindo", desabafa.
No último dia 17 de dezembro, o Grupo Itapemirim anunciou a suspensão das operações no modal aéreo, mercado que tinha ingressado há apenas seis meses. A interrupção deixou sem voo aproximadamente 45 mil passageiros que tinham passagens compradas até o dia 31 de dezembro do ano passado.
Ontem, durante o protesto, funcionários e sindicalistas citaram negativamente as ações do presidente da companhia, Sidnei Piva. O empresário, que comprou o grupo de transporte rodoviário Itapemirim por R$ 1 em 2016, quando a empresa já atravessava um processo de recuperação, é apontado como um dos principais pivôs da piora da situação da empresa.
Citam, inclusive, que após a saída de Camila Valdívia da sociedade, a Itapemirim "afundou". Ainda descrevem a ex-sócia de Piva como a "última esperança da empresa". A sua saída, em 2019, foi motivada pela ideia de Piva criar uma empresa de transporte aéreo em meio à recuperação judicial.
O POVO procurou o Grupo Itapemirim por contato telefônico e email, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.(Colaborou Alan Magno)
Garagem
O POVO visitou nessa segunda-feira, 3, o espaço que a Viação Itapemirim utiliza como garagem e sede operacional em Fortaleza. O espaço é alugado e dividido com uma outra empresa de transporte rodoviário intermunicipal que é dona do local. Segundo informações extraoficiais, o aluguel do espaço também estaria atrasado.
IMPACTO NO CEARÁ
Linhas encerradas definitivamente pela Itapemirim
Feira de Santana (BA) - Fortaleza
Salvador (BA) - Sobral
Paralisação de mercado (deixam de vender passagens)
De: Feira de Santana (BA) para: Cabrobó (PE), Salgueiro (PE), Icó, Jaguaribe e Russas;
De: Capim Grosso (BA) para: Icó, Jaguaribe, Russas e Fortaleza;
De: Petrolina (PE) para: Icó e Russas;
De: Cabrobó (BA) para: Icó, Russas e Fortaleza;
De: Salvador (BA) para: Sobral
Fonte: ANTT