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Monitoramento de esgotos pode ajudar na vigilânciaem meio à pandemia
Economia

Monitoramento de esgotos pode ajudar na vigilânciaem meio à pandemia

| COVID-19 | Análise da concentração de Sars-Cov-2 na água do esgoto pode ser aliado na vigilância clínica. Além da Covid-19, esse tipo de pesquisa pode auxiliar monitoramento de outras doenças causadas por vírus, bactérias ou parasitas
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PREFEITURA fará repescagem no Centro de Eventos e mais 21 postos de saúde (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita PREFEITURA fará repescagem no Centro de Eventos e mais 21 postos de saúde

Em meio ao recente aumento de casos de Covid-19 causado pela variante Ômicron do Sars-Cov-2, a alta demanda tem levado à falta de testes em diversos municípios pelo País. Ao mesmo tempo, entidades defendem a adoção de uma política de testagem universal para conter a doença no Brasil. Há ainda outra estratégia que, de forma complementar à vigilância clínica, pode ser útil para acompanhar o curso da pandemia: o monitoramento da concentração do coronavírus em águas de esgoto.

Uma vez que o vírus está presente em fezes e urina de pessoas infectadas, é possível analisar amostras de água do esgoto para detectar a presença e a concentração dele nas regiões monitoradas. "É importante frisar que o que analisamos nos esgotos, na realidade, são fragmentos virais", explica André Bezerra dos Santos, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), ao destacar que o esgoto ou uma amostra de água não são considerados rotas de transmissão da Covid-19.

Desde março de 2021, Fortaleza está entre as seis capitais acompanhadas na Rede Monitoramento Covid Esgotos, iniciativa da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), e a equipe local é coordenada por André Bezerra. Um benefício do monitoramento de esgotos, para o professor, é conseguir incluir pessoas assintomáticas, que não são contabilizadas em registros hospitalares.

"Então, a ideia é, juntamente com os dados hospitalares de saúde, avaliar de uma maneira mais abrangente essas tendências de evolução ou decréscimo da pandemia", explica. Na Capital, são coletadas amostras compostas semanais em dez pontos de monitoramento.

Os dados coletados pelo grupo na Universidade são utilizados pelo Centro de Inteligência em Saúde do Estado do Ceará (Cisec), vinculado à Superintendência da Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE). O aumento percebido nos períodos de 5 a 11 e de 19 a 25 de dezembro passado de 2021, chamaram atenção e foi emitido um Informe Epidemiológico, no dia 29, que também alertou para o aumento "muito expressivo" na busca por assistência à saúde em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) por queixas respiratórias.

"No momento, trata-se majoritariamente de Influenza por H3N2, a exemplo do que ocorre em outros estados do Brasil, mas já há inúmeros relatos não oficiais que apontam para uma exacerbação no número de casos de Covid-19 nos extratos sociais de alta renda de Fortaleza", diz o documento.

No último dia 14, a Rede Monitoramento Covid Esgotos publicou uma nota de alerta informando sobre aumento de cargas do vírus, além de Fortaleza, em Belo Horizonte, Curitiba, Distrito Federal, Recife e Rio de Janeiro no período de 2 a 8 de janeiro (primeira semana epidemiológica de 2022). Na Capital, o documento aponta que o esgoto atingiu, naquela semana, a carga mais elevada desde o início do monitoramento.

Em Niterói (RJ), esse tipo de análise é feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a prefeitura, desde o início da pandemia. A equipe do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificou inicialmente a presença do vírus em áreas de maior densidade populacional e com maior circulação de pessoas. "Ao longo do monitoramento, fomos acompanhando essa dispersão", aponta Tatiana Prado.

A pesquisadora destaca o caráter complementar dessa vigilância ambiental. "Pode ser muito útil justamente para conseguir identificar áreas de maior risco ou que possam vir a ser áreas de grande disseminação viral", explica.

Esse tipo de trabalho ganhou destaque com a chegada da Covid-19, mas doenças diarreicas provocadas por rotavírus e adenovírus, hepatite A, hepatite E, doenças bacterianas e parasitoses também podem ser monitoradas por meio de análise da água de esgotos, apontam os pesquisadores. "O universo de possibilidades é enorme", afirma André Bezerra.

No IOC/Fiocruz, são feitas análises há pelo menos 15 anos. "Agora, com o coronavírus, essa abordagem ganhou essa dimensão, porque, até então, eram mais estudos de pesquisa, não tinha realmente essa interface muito grande com os municípios. Mas já estávamos sinalizando para isso, que essa abordagem do esgoto era muito interessante para fazer avaliação de uma série de patógenos", complementa Tatiana Prado.

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