Logo O POVO+
Na Grande Fortaleza, renda média per capita dos 40% mais pobres cai para R$ 167
Economia

Na Grande Fortaleza, renda média per capita dos 40% mais pobres cai para R$ 167

|EFEITO PANDÊMICO | Em 2019, era de R$ 189. Considerando todos os estratos sociais, rendimento médio per capita na RMF passou de R$ 1.089, em 2019, para R$ 907, em 2021
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NA RMF, a renda dos 10% mais ricos é quase 29 vezes maior que a dos 40% mais pobres  (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA NA RMF, a renda dos 10% mais ricos é quase 29 vezes maior que a dos 40% mais pobres

A redução na desigualdade é quase sempre indicativo de melhoria nas condições econômicas de quem tem menos renda, mas a pandemia de Covid-19 produziu um fenômeno incomum, que afetou todas as camadas do estrato social nas regiões metropolitanas do Brasil, incluindo a Grande Fortaleza: uma população menos desigual, mas mais empobrecida.

De acordo com estudo do Observatório das Metrópoles, a capital cearense e as cidades que compõem a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) tiveram uma ligeira queda no principal indicador utilizado no mundo para medir a distribuição desigual de renda, o Coeficiente de Gini. Em cerca de dois anos de pandemia, esse índice passou de 0,629 para 0,621 (quanto mais próximo de zero menor é a desigualdade).

Teoricamente, esse seria um dado positivo, mas isso ocorreu não porque a parcela mais pobre da população que reside na RMF passou a ganhar melhor e, sim, porque a parcela mais rica teve uma perda mais acentuada em sua renda. Na realidade, tanto os 40% mais pobres quanto os 10% mais ricos, bem como os 50% intermediários, tiveram rendimento médio mensal per capita menor, entre o 3º trimestre de 2019 e o 3º trimestre de 2021.

Enquanto, o primeiro grupo teve queda no rendimento médio mensal per capita de 11,64%, passando de R$ 189 para R$ 167, no período analisado, o segundo grupo teve perda maior, percentualmente falando, passando de um rendimento médio mensal per capita de R$ 5.833 para R$ 4.608, ou cerca de 21%, em dois anos. Por sua vez, o grupo intermediário teve menor perda (pouco mais de 4,55%) de renda média mensal per capita em relação aos demais e foi de R$ 946 para R$ 903.

Vale lembrar que rendimento médio mensal per capita é a divisão da soma de todas as rendas dos residentes em determinado domicílio pela quantidade de pessoas que o habitam. Ou seja, em uma casa em que vivam dois adultos e duas crianças, caso os dois adultos ganhem R$ 1.000 cada, ou R$ 2.000 no total, esse valor será de R$ 500, após a divisão entre as quatro pessoas que vivem nela.

 

Recuperação em 2021 não foi suficiente para repor perdas

 

Embora haja algumas especificidades regionais, o que acontece na Grande Fortaleza reproduz o que aconteceu nacionalmente, conforme observa André Salata, um dos coordenadores do estudo. “No primeiro ano da pandemia, quem sentiu mais imediatamente o efeito da perda de renda foi a base da pirâmide, ou seja, a população mais vulnerável. Em 2021, houve uma certa mudança porque, conforme o mercado de trabalho foi ganhando força, em função da vacinação, a renda dos mais pobres começa a se recuperar e a dos mais ricos, pelo próprio prolongamento da crise, não acompanha essa recuperação”, explica.

O pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) acrescenta que em crises econômicas convencionais quando a renda média cai, a desigualdade segue aumentando, o que não está ocorrendo no atual contexto. “Quem está perdendo mais, proporcionalmente, são aquelas pessoas que estão mais próximas do topo da pirâmide, a parcela mais rica. Então, com essa perda de renda elas puxam a média geral para baixo, mas, ao mesmo tempo, isso gera uma aproximação com a base, a parcela mais pobre, ainda que a distância entre o que os dois grupos ganhe continue muito grande”, complementa. No caso específico da Grande Fortaleza, contudo, ambos os grupos tiveram recuperação de rendimento.

Apesar da redução na desigualdade na RMF, o rendimento médio mensal per capita dos 10% mais ricos, em 2021, era quase 29 vezes maior que o dos 40% mais pobres. No ano anterior, esse número chegou a ser 32 vezes maior. Em 2019, antes da pandemia, essa razão era de 30, 6 vezes. Entre as regiões metropolitanas brasileiras, a Grande Fortaleza é a 12ª mais desigual.

Pesquisa do IBGE comprova que mulheres enfrentam desigualdades no mercado de trabalho em relação aos homens. (Arquivo/Agência Brasil)
Pesquisa do IBGE comprova que mulheres enfrentam desigualdades no mercado de trabalho em relação aos homens. (Arquivo/Agência Brasil)

Mulheres têm renda per capita 1,69 vezes menor que a dos homens

Diferentemente do observado no cenário nacional, a desigualdade de rendimento entre famílias chefiadas por homens ou por mulheres teve queda na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) durante a pandemia. Mas ainda se mantém em um patamar bastante elevado.

Enquanto no 3º trimestre de 2019, uma família chefiada por homens tinha rendimento médio mensal per capita 1,85 vezes maior, no 3º trimestre de 2021, essa mesma razão caiu para 1,69, ainda acima da média do Brasil que é de 1,6 vezes. Contudo, na maioria das metrópoles, houve aumento na desigualdade, uma vez que em 2019, o rendimento médio mensal per capita em famílias chefiadas por homens era 1,47 vezes maior no País.

Para o pesquisador da PUCRS, André Salata, no caso da RMF a causa mais provável para essa redução da desigualdade é a dinâmica do mercado de trabalho local. "No âmbito nacional, as mulheres estão mais presentes no mercado informal e no setor de serviços que os homens, mas se você tem, também entre os homens, uma informalidade e uma presença nesse setor tão altas quanto as verificadas entre as mulheres, isso acaba afetando de modo mais igualitário os dois gêneros", avalia.

 

Estudo

O Boletim Desigualdade nas Metrópoles é produzido pelo Observatório das Metrópoles, em parceria com a Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS) e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL)

 

O que você achou desse conteúdo?