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Tensão entre Rússia e Ucrânia pode afetar preço da gasolina e do pão no Brasil
Economia

Tensão entre Rússia e Ucrânia pode afetar preço da gasolina e do pão no Brasil

|INCERTEZA| Eventual conflito também pode reverter tendência de queda do dólar e de alta na Bolsa. No Ceará, exportação e importação de alguns produtos como frutas e combustíveis podem ser impactados
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 Escalada do conflito tem potencial de impactar preço mundial do trigo, um dos principais insumos do pão (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita  Escalada do conflito tem potencial de impactar preço mundial do trigo, um dos principais insumos do pão

A escalada da tensão entre Rússia e Ucrânia tem deixado o mundo inteiro em alerta. E não é para menos. Além do risco potencial de desencadear uma nova guerra, há os desdobramentos sobre a inflação global e a retomada econômica que já começa a ser sentido pelos países. A oscilação da bolsa de valores pelo mundo é um primeiro termômetro. No Brasil, pode sobrar até para o tradicional pão francês e a gasolina.

Em termos de relações comerciais, os dois países estão longe de encabeçar o ranking das exportações e importações brasileiras. Para se ter uma ideia, em 2021, o valor que o Brasil exportou para a Rússia foi quase 20 vezes menor que o comercializado para os Estados Unidos, um dos principais parceiros comerciais do País.

No caso das exportações cearenses para os dois países, a diferença foi ainda maior no período: vendemos mais de mil vezes menos para o mercado russo que para o norte-americano. Quando a comparação é com a Ucrânia, as comparações são ainda mais desproporcionais.

Ainda assim, há motivos de sobra para o estado de alerta. Uma delas vem do fato de que duas importantes commodities (produtos sem valor agregado), o trigo e o petróleo, que estão entre os carros-chefes das economias dessas duas nações, têm suas cotações internacionais em elevação, desde que a tensão diplomática e militar aumentou na região.

Com relação a esse último, o consultor na área de combustíveis e gás, Bruno Iughetti, lembra que o preço internacional do barril de petróleo beirou os US$ 104 na última sexta-feira, 11, e tem se mantido na casa dos US$ 90, com a escalada da crise entre Rússia e Ucrânia. “A formação do preço da gasolina, que chega às refinarias brasileiras, tem dois fatores principais. Um deles é o dólar que, embora esteja em queda, pode voltar a subir em caso de acirramento da crise. O outro é, justamente, a cotação do barril do petróleo. Então, é uma situação extremamente delicada e, se evoluir para um conflito armado, esse valor pode chegar a US$ 120”, projeta.

No caso do pão e de outros derivados do trigo, conforme O POVO adiantou, a Rússia e a Ucrânia, são, respectivamente, o primeiro e o sexto maiores produtores mundiais do grão, representando cerca de 30% desse mercado exportador. Um enfrentamento militar de ambos, impacta diretamente nessa cadeia, tanto em termos de oferta quanto em termos de cotação internacional da commodity. Assim, mesmo que a maior parte do trigo consumida no Brasil tenha origem argentina, uma elevação no preço global do produto acaba por chegar às prateleiras dos supermercados e às padarias.

O economista Ricardo Eleutério, do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), acredita que o País, como um todo, já está sentido os efeitos da crise entre russos e ucranianos. “Somente o impacto da elevação do preço do barril de petróleo, deixando o combustível mais caro por aqui já é um fator muito forte de pressão inflacionária. Aí, o Banco Central tem que pesar mais a mão na elevação das taxas de juros, o que gera menos crescimento do PIB, por tabela”, exemplifica.

Já o presidente da Câmara Setorial de Comércio Exterior do Ceará, Hermes Monteiro, minimiza o impacto de um eventual conflito entre russos e ucranianos para o Estado. “Na exportação para a Ucrânia, por exemplo, a gente tem uma pauta muito pequena relacionada aos calçados. No caso das importações que fazemos da Rússia, os principais produtos na nossa pauta são combustíveis, metais e fertilizantes”, cita.

“A preocupação está no que pode acontecer realmente na Zona do Euro, para onde exportamos, principalmente, frutas. Quanto aos Estados Unidos, só haveria risco em caso de uma guerra em que aquele país se envolvesse, que causaria uma alta mundial na inflação”, conclui Monteiro, ao citar dois atores geopolíticos envolvidos, em maior ou menor grau, na crise do Leste Europeu.

2018-08-28. REUTERS/Marcos Brindicci,dólar
2018-08-28. REUTERS/Marcos Brindicci,dólar

Dólar atinge menor valor em cinco meses, apesar da turbulência

Apesar do agravamento das tensões entre Rússia e Ucrânia, o dólar ontem não refletiu tanto o cenário do mercado externo e caiu para o menor valor em cinco meses. A bolsa de valores também resistiu à baixa nos índices europeus e norte-americanos e fechou em alta pela quinta sessão consecutiva.

O dólar comercial encerrou o dia de ontem vendido a R$ 5,219, com recuo de R$ 0,024 (-0,46%). A cotação começou o dia em alta, chegando a R$ 5,26 por volta das 9h30, mas logo inverteu o rumo e passou a cair após a abertura do mercado norte-americano. A moeda está no nível mais baixo desde 6 de setembro, quando estava a R$ 5,177. A divisa acumula queda de 1,65% em fevereiro e de 6,41% em 2022.

No mercado de ações, o dia também foi dominado pela resistência às pressões externas. Mesmo com a maior parte das bolsas pelo mundo terem fechado em queda, o índice Ibovespa, da B3, fechou o dia aos 113.899 pontos, com leve alta de 0,29%. A bolsa subiu, mesmo com o recuo das ações da Petrobras. Influenciados pelas tensões na Ucrânia, os papéis da estatal, os mais negociados na bolsa, caíram 2,25% (ações preferenciais) e 2,58% (ações ordinárias).

As ações despencaram mesmo com a cotação internacional do petróleo tendo atingido o maior nível desde 2014. O barril do tipo Brent, que serve de referência para a Petrobras, foi negociado a US$ 96 hoje.

(Com Agências)

 

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