Não há previsão de redução de malha aérea no Ceará, apesar do principal insumo para o setor, o querosene de aviação, ter subido 45% em 2022. A afirmação é do secretário do Turismo do Ceará, Arialdo Pinho. Ele disse, ainda, ter conversado com quatro companhias aéreas, que teriam negado a possibilidade de haver alguma mudança no que já estavam planejado em relação ao Estado.
O mesmo prognóstico é feito pelo secretário do Turismo de Fortaleza, Alexandre Pereira. “O impacto sobre o preço das passagens não se dá de forma imediata, leva de 60 a 90 dias. E nesse meio tempo é possível tomar ações para minimizá-lo. Cancelamentos de voos não devem acontecer. Estou apresentando a cidade em Lisboa e posso dizer que isso não deve afetar o desejo de quem quer vir ao Brasil”, disse.
O impacto do valor do querosene de aviação já chega a 35% dos custos do setor. O produto, inclusive, tem subido mais que o petróleo. No ano passado, por exemplo, esse aumento foi de 76,2% ante 54% da elevação na cotação do barril de petróleo. Embora, o repasse total ou parcial do aumento verificado esse ano seja dado como inevitável, para Arialdo Pinho, esses reflexos em aumento de preços de passagens devem levar de 60 a 90 dias para chegar ao bolso do consumidor.
“As vendas ainda estão boas. Agora, é lógico que quem está voando comprou há dois ou três meses. As companhias estão agora cumprindo o que venderam. Geralmente, elas trabalham com fluxo de caixa de seis meses. Isso dá um fôlego para segurar um pouco esse impacto”, avaliou o secretário de Turismo. Ele acrescenta que a quantidade de voos domésticos (nacionais) no Ceará está no mesmo patamar que antes da pandemia.
Já os voos internacionais para o Estado representam aproximadamente 40% do que eram registrados em 2019. Ainda segundo, Arialdo Pinho, caso a guerra entre Rússia e Ucrânia não se prolongue, a expectativa é que em outubro haja a volta à normalidade também com relação ao turismo internacional por via aérea no Ceará. “Eu estou muito preocupado. Todo o trade está preocupado, mas, a avaliação que fazemos é que isso deve terminar em até 30 dias porque é de interesse do mundo inteiro”, concluiu.
Além do conflito no Leste Europeu, que jogou o preço do barril do petróleo para a casa dos três dígitos e patamar semelhante ao registrado na crise econômica mundial de 2008, o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, destaca a política de preços da Petrobras como uma das principais razões para a disparada do custo com querosene de aviação. “Na última vez que o barril de petróleo chegou nesse nível, o câmbio era R$ 2,03. Agora nós chegamos a quase US$ 120 dólares o barril com o câmbio R$ 5,00. Ou seja, duas vezes e meia o que era antes”, pondera.
“Já faz alguns anos que a Petrobras dolariza tudo. Isso, quando o querosene de aviação é majoritariamente produzido no Brasil. Os custos de salários e insumos da Petrobras são calculados em real, mas a população e as empresas têm que comprar isso dolarizado”, criticou Sanovicz. Ele apontou ainda o sistema tributário brasileiro como outra razão para explicar a subida tão acentuada do insumo. “No caso da aviação, o Brasil é o único país do mundo que tem tributo regional sobre querosene, que é o ICMS”, citou.
“Imagine que dois aviões abasteçam na mesma bomba em Guarulhos (SP). Um decola para Buenos Aires e o outro para Fortaleza. Como em Buenos Aires não existe ICMS, o que foi para lá, abastecido na mesma bomba, não paga ICMS sobre querosene. E o que decola pra Fortaleza paga duas vezes: em Guarulhos e em Fortaleza. Por isso que, em algumas situações, é mais caro viajar para o Nordeste do que para a Europa ou para os Estados Unidos”, compara o presidente da Abear.
Sanovicz disse por fim que a entidade está discutindo com o Congresso e com o Governo Federal meios de reduzir o peso do aumento do preço do querosene de aviação sobre o setor. “O projeto do senador Jean Paul Prates (PT) que eliminou PIS/Cofins também do querosene de aviação foi a primeira ação concreta. Estamos estudando várias alternativas com esses dois Poderes”, concluiu.
Impacto sobre o setor aéreo
O custo do barril de petróleo pressiona o preço do QAV, que em 2021 alcançou seu maior patamar, acumulando alta de 76,2%, superando as variações do diesel ( 56%), gasolina ( 42,4%) e gás de cozinha ( 36%), segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)
R$ 300 mi é o valor estimado da perda de receita da Gol após a alta dos combustíveis, nesse cenário de guerra entre Rússia e Ucrânia com efeitos sobre o preço dos combustíveis
25% a 30% é a projeção da Latam para o aumento de tarifas, também considerando as altas do petróleo e o efeito sobre o querosene de avião